Homilia de Mons. José Maria Pereira
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Hoje o Evangelho (Mt 9, 36 – 10,
8) nos lembra nossa vocação de evangelizadores.
O que é narrado nesse texto,
deve ter acontecido muitas vezes enquanto o Senhor percorria cidades e aldeias
pregando a chegada do Reino de Deus: ao ver a multidão, encheu-se de compaixão
por ela, comoveu-se no mais íntimo do seu ser, porque estavam cansadas e
abatidas como ovelhas que não têm pastor, profundamente desorientadas.
Encheu-se de compaixão, ou
condoeu-se dela: o verbo grego é profundamente expressivo: ”comover-se nas
entranhas”. Jesus, com efeito, comoveu-se ao ver o povo, porque
os seus pastores, em vez de o guiarem e cuidarem dele, o desencaminhavam,
comportando-se mais como lobos do que como verdadeiros pastores do seu próprio
rebanho.
“Se fôssemos consequentes com
a nossa fé, quando olhássemos à nossa volta e contemplássemos o espetáculo da
História e do Mundo, não poderíamos deixar de sentir crescer nos nossos
corações os mesmos sentimentos que animaram o de Jesus Cristo”(São José Maria Escrivá , Cristo que passa, 133). Com efeito,
a consideração das necessidades espirituais do mundo deve levar-nos a um
infatigável e generoso trabalho apostólico.
A dificuldade é que agora,
como nos tempos de Jesus, os trabalhadores são poucos em proporção com a
tarefa. A solução é dada pelo próprio Senhor: Orar, rogar a Deus, Dono da
messe, para que envie trabalhadores para a colheita. Será difícil que um
cristão, que se ponha a rezar de verdade, não se sinta urgido a participar
pessoalmente neste trabalho apostólico!
Na verdade, recorda-nos o
Beato Papa Paulo VI: “A responsabilidade da difusão do Evangelho que salva é de
todos, de todos os que o receberam. O dever missionário recai sobre todo o
Corpo de Igreja. De maneira e em medidas diferentes, é certo; mas todos, todos
devemos ser solidários no cumprimento deste dever. Assim pois, que a
consciência de cada crente se pergunte: Tenho cumprido o meu dever missionário?
A oração pelas Missões é o
primeiro modo de por em prática este dever”.
O Papa Emérito Bento XVI disse
que “a messe existe, mas Deus quer servir-se dos homens, a fim de que ela seja
levada ao celeiro. Deus tem necessidade de homens. Precisa de pessoas que
digam: Sim, estou disposto a tornar-me o teu trabalhador na messe, estou
disposto a ajudar a fim de que esta messe que está a amadurecer nos corações
dos homens possa verdadeiramente entrar nos celeiros da eternidade e tornar
perene comunhão divina de alegria e de amor”. Continua Bento XVI: “ Rogai,
portanto, ao Senhor da Messe”! Isto quer dizer também: não podemos simplesmente
“produzir” vocações, elas devem vir de Deus. Não podemos, como talvez em outras
profissões, por meio de uma propaganda bem orientada, mediante, por assim
dizer, estratégias adequadas, simplesmente recrutar pessoas. O chamado,
partindo do coração de Deus, deve sempre encontrar o caminho até o coração do
homem”. São João Paulo II convidou: “Meus caros jovens, que vós sois chamados,
sois chamados por Deus. A minha vida, a minha vida como homem tem, portanto, o
seu significado, quando sou chamado por Deus, com um apelo vigoroso, decisivo e
definitivo: Somente Deus pode chamar
assim o homem, e nenhum outro! E este apelo de Deus é feito incessantemente em
Cristo e por Cristo, a cada um de vós; sede operários da messe da vossa humanidade,
operários da vinha do Senhor, para participardes da colheita messiânica da
humanidade”. Continua São João Paulo II: “Precisamos de ministros ordenados que
sejam garantia permanente da presença sacramental de Cristo Redentor, nos
diversos tempos e lugares e, com a pregação da Palavra e a celebração da
Eucaristia e dos outros Sacramentos, guiem as Comunidades cristãs pelos
caminhos da vida eterna. Precisamos de homens e mulheres que, com seu
testemunho, conservem viva nos batizados a consciência dos valores fundamentais
do Evangelho e façam emergir na consciência do Povo de Deus a exigência de
responder com a santidade de vida ao
amor de Deus derramado em seus corações pelo Espírito Santo”.
Nesse texto do Evangelho vê-se
como é essencial a oração na vida da Igreja; que Jesus chama os seus Doze
Apóstolos depois de lhes ter recomendado que rezassem para que o Senhor
enviasse operários para a Sua messe (Mt 9, 38).
Toda a atividade apostólica dos
cristãos deve ser, pois, precedida e acompanhada por uma intensa vida de
oração, visto que não se trata de uma empresa meramente humana, mas divina.
“A messe é muita, mas os
operários poucos...Ao escutarmos isto -- comenta São Gregório Magno --, não
podemos deixar de sentir uma grande tristeza, porque é preciso reconhecer que
há pessoas que desejam escutar coisas boas; falta, no entanto, quem se dedique
a anuncia-las”.
Temos de pedir com frequência a
Deus que se verifique no povo cristão um ressurgir de homens e mulheres que
descubram o sentido vocacional da sua vida; que não somente queiram ser bons, mas
se saibam chamados a ser operários no campo do Senhor e correspondam
generosamente a essa chamada: homens e mulheres , velhos e jovens, que vivam
entregues a Deus no meio do mundo, muitos em celibato apostólico; cristãos
correntes, ocupados nas mesmas tarefas dos seus iguais, que levem Cristo ao
âmago da sociedade de que fazem parte.
Peçamos também à Santíssima Virgem que nos faça
entender como dirigida a cada um de nós essa confidência que o Senhor faz aos
seus -- a messe é muita --, e formulemos um propósito concreto de
empreender com urgência e constância um esforço grande para que sejam muitos os
operários no campo de Deus. Peçamos-lhe a enorme alegria de ser instrumentos
para que outros correspondam à chamada que Jesus lhes faz.