III Domingo do Advento (Ano A)
Um convite à alegria
Mt 11,2-11
Caros irmãos e irmãs,
A liturgia nos direciona para o terceiro domingo do
advento, chamado tradicionalmente domingo “Gaudete”, por causa da palavra
latina com que começa o canto de entrada da Santa Missa, de acordo com o
Graduale Romanum: “Gaudete in Domino semper: íterum dico, gaudete!”. Uma
exortação de São Paulo aos Filipenses: “Alegrai-vos sempre no Senhor: de novo
eu vos digo: Alegrai-vos! (Fl 4,4-5). O tema da alegria também aparece na
oração da coleta: “Chega às alegrias da salvação…”; e na oração a ser feita
após a comunhão: “Que estes sacramentos nos purifiquem dos pecados e nos
preparem para as festas que se aproximam”. A Igreja nos faz este convite
à alegria, enquanto nos preparamos para celebrar o Natal do Senhor.
O Evangelho nos apresenta a figura de João Batista,
que se encontra preso em uma fortaleza, às margens do Mar Morto, onde morrerá
decapitado por ordem do rei Herodes, a quem João reprovava pelo fato de estar
vivendo com a mulher de seu irmão Filipe. João Batista, tendo ouvido
falar, no cárcere, a respeito das obras de Cristo, quer esclarecer uma dúvida e
envia a Jesus dois de seus discípulos com esta pergunta concreta: “És tu
aquele que deve vir ou temos que esperar um outro?” (v.3).
As severas imagens utilizadas por João em sua
pregação, tendo como objetivo levar o povo à conversão, não pareciam estar
associadas com a atuação de Jesus, cuja conduta mostrava a compaixão e a
misericórdia para com os pecadores. João Batista quer uma resposta para
sua dúvida pessoal, mas, ao mesmo tempo em que ele envia emissários para
interrogar Jesus, porque quer, antes de sua morte, dar um ensinamento melhor a
seus próprios discípulos sobre Jesus.
Com a sua resposta, Jesus se define, indiretamente,
como o Messias, pelas obras que realiza. As curas que são anunciadas
tanto na primeira leitura como no Evangelho são sinais messiânicos da presença
de Deus na pessoa de Cristo, em quem se realizam as profecias do Antigo
Testamento. As mesmas obras de Cristo que causam perplexidade a João se
tornam a resposta afirmativa da messianidade de Jesus: “Os cegos recuperam a
vista, os coxos andam, os leprosos são purificados e os surdos ouvem, os mortos
ressuscitam e os pobres são evangelizados” (Mt 11,5). Jesus responde com
um magnífico testemunho de João Batista. Jesus o elogia, testemunhando a
validade de sua personalidade espiritual, pelo seu
estilo austero (vv.7-8), que o legitima como o
maior dos profetas (v.9), precursor do Messias (v.10) e maior dente os nascidos
de mulher (v.11).
Na verdade, Jesus realiza a profecia de Isaías na
qual a boa nova da salvação passa pela vitória do homem sobre a morte, a
pobreza e a doença mediante a visita histórica de Deus à terra.
Nosso olhar para o advento de Cristo na história dos homens,
marcados pelo sofrimento, nos motiva a considerar o conteúdo do evangelho como
o sinal da salvação que traz alegria.
Alegria porque também muito em breve estaremos
celebrando o Natal do Senhor! Uma celebração que, por si só, nos remete à
alegria, já manifestada no momento da anunciação do anjo a Maria: “Alegra-te,
cheia de graça, porque o Senhor está contigo” (Lc 1,28). A causa da
alegria em Maria é a proximidade de Deus. E João Batista, ainda não
nascido, saltará de alegria no seio de Isabel ante a proximidade do Menino
Jesus, o Messias que está para chegar (cf. Lc 1,41).
E o anjo dirá aos pastores, homens simples que
vigiavam o rebanho durante a noite: “Eu vos anuncio uma grande alegria” (Lc
2,10). E acrescenta: “Nasceu-vos hoje um Salvador, que é o Cristo Senhor”. Um
salvador que o povo esperava era o Messias. Para eles o anúncio do
nascimento do Salvador foi causa de alegria. E em meio a tantas luzes que
dissipam as trevas, podemos também lembrar de uma passagem do livro do profeta
Isaias que diz: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz” (Is 9,1). E o
mesmo profeta Isaías exulta de alegria ao anunciar: “Um menino nasceu para nós,
um filho nos foi dado” (Is 9,5).
Neste terceiro domingo de Advento, a Liturgia da
Palavra nos propõe ainda, como segunda leitura, um trecho da Carta de São
Tiago, que inicia com esta exortação: “Sede, pois, pacientes, irmãos, até à
vinda do Senhor” (Tg 5, 7). É importante, ressaltar o valor da constância e da
paciência, virtudes que nos auxiliam na capacidade de se adaptar a situações
sempre novas e diversas.
Podemos dizer que a paciência é a capacidade de
suportar os incômodos e as dificuldades de toda ordem. É a capacidade de
persistir numa atividade difícil, ser perseverante, de esperar o momento certo
para certas atitudes, de aguardar em paz a compreensão que ainda não se tenha
obtido, capacidade de ouvir alguém, com calma, com atenção, sem ter pressa,
capacidade de se libertar da ansiedade. A tolerância e a paciência são fontes
de apoio seguro nos quais podemos confiar. Ser paciente é ser educado, ser
humanizado e saber agir com calma e com tolerância. A paciência também é uma
caridade quando praticada nos relacionamentos interpessoais.
O apóstolo São Tiago trata da vinda do Senhor e
exorta o povo à paciência, cheia de esperança pelo retorno iminente do Senhor
(vv.7-8) à semelhança do agricultor que espera o fruto da terra, aguardando
pacientemente a vinda das chuvas (v.7) e tendo como exemplo o sofrimento e a
paciência dos profetas (v.10).
A comparação com o trabalho do agricultor é muito
expressiva: Quem semeou no campo, tem diante de si alguns meses de espera
paciente e constante mas sabe que a semente, entretanto, realiza o seu
percurso, graças à chuva. O agricultor é modelo de uma mentalidade que une de
modo equilibrado a fé e a razão, porque, por um lado, conhece as leis da
natureza e realiza bem o seu trabalho e, por outro, confia na Providência,
porque ele acredita em Deus.
Esta é a razão pela qual podemos prosseguir nosso
itinerário com alegria, como nos exorta o apóstolo Paulo: “Irmãos, andai sempre
alegres” (1Ts 5,16). Devemos estar alegres, porque a nossa salvação já
está próxima. O Senhor vem! Com esta consciência empreendemos o itinerário do
Advento, preparando-nos para celebrar com fé o extraordinário acontecimento do
Natal do Senhor.
Esta confiança gera na pessoa que encontrou o
Cristo uma serenidade e uma alegria que ninguém e nenhuma situação podem tirar.
Santo Agostinho, na sua busca da verdade, da paz, da alegria, depois de ter
procurado em vão a felicidade em múltiplas situações, conclui dizendo que o
coração do homem está inquieto, enquanto não encontrar tranquilidade e paz,
enquanto não descansar em Deus (cf. S. AGOSTINHO, Confissões I,1). A verdadeira
alegria é um dom, nasce do encontro com Jesus, pela oração e pela observância
dos seus ensinamentos.
Vigilantes na oração, procuremos preparar o nosso
coração para acolher o Salvador que virá para nos mostrar a sua misericórdia e
o seu amor. A Virgem Maria nos ajude a apressar os nossos passos em direção a
Belém, para encontrar o Menino que vai nascer, para a nossa salvação e
para a nossa alegria. Que Ela nos obtenha viver a alegria do Evangelho em
família, no trabalho e em todos os ambientes. Assim seja.
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