Homilia do
Mons. José Maria – IV Domingo do Tempo Comum – Ano A
Onde
está a Felicidade?
Jesus está diante de uma multidão
imensa! Esperam dEle a sua doutrina salvadora, que dará sentido às suas vidas.
Então Jesus subiu ao monte e começou a ensinar-lhes (Mt 5, 1-12).
É esta a ocasião que Jesus aproveita
para traçar uma imagem profunda do verdadeiro discípulo.
Trata-se do Evangelho das
bem-aventuranças que constitui um resumo do Sermão da Montanha e de todo o
Evangelho de Jesus Cristo.
“Bem-aventurado” significa feliz,
ditoso, e em cada uma das Bem-Aventuranças Jesus começa por prometer a
felicidade e por indicar os meios para consegui-la. Por que Jesus começa
falando da felicidade? Porque em todos os homens há uma tendência irresistível
para serem felizes; esse é o fim que têm em vista em todos os seus atos; mas
muitas vezes buscam a felicidade no lugar em que ela não se encontra, em que só
acharão tristeza.
“Jesus começou a ensiná-los:
Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus” (Mt 5,
2-3).
A atitude fundamental exigida para
participar do Reino dos Céus é a pobreza em espírito. Pobre em espírito é todo
aquele que tem a atitude de confiança da criança em relação a seus pais. Pobre
em espírito é quem coloca toda a sua confiança no Senhor. É o que não coloca
sua segurança nos bens materiais, na glória e na fama, mas em Deus. O cristão
considera-se diante de Deus como um filho pequeno que não tem nada em
propriedade; tudo é de Deus seu Pai e a Ele o deve. A pobreza em espírito, quer
dizer, a pobreza cristã, exige o despreendimento dos bens materiais e
austeridade no uso deles.
O espírito de pobreza, a fome de
justiça, a misericórdia, a pureza de coração, o suportar injúrias por causa do
Evangelho são aspectos de uma única atitude da alma: o abandono em Deus, a
confiança absoluta e incondicional no Senhor.
Em geral o homem antigo, mesmo no
povo de Israel, procurava a riqueza, o gozo, a estima, o poder, e considerava
tudo isso como a fonte de toda a felicidade. Jesus traça um caminho diferente.
Exalta e abençoa a pobreza, a doçura, a misericórdia, a pureza, a humildade.
Com as Bem-aventuranças, o pensamento
fundamental que Jesus queria inculcar nos ouvintes era este: só o servir a Deus
torna o homem feliz.
O conjunto de todas as Bem-aventuranças
traça, pois, um único ideal: o da santidade. Ao escutarmos hoje novamente essas
palavras do Senhor, reavivamos em nós esse ideal como eixo de toda a nossa
vida. Como nos diz o Apóstolo S. Paulo: “Esta é a vontade de Deus: a vossa
santificação” (1Ts 4, 3). Chama cada um à santidade e a cada um pede amor: a
jovens e velhos, a solteiros e casados, aos que têm saúde e aos enfermos, a
cultos e ignorantes; trabalhem onde trabalharem, estejam onde estiverem.
Sejam quais forem as circunstâncias
por que atravessemos na vida, temos que sentir-nos convidados a viver em
plenitude a vida cristã. Não pode haver desculpas, não podemos dizer a Deus:
“Esperai, Senhor, que se solucione este problema, que me recupere desta doença,
que deixe de ser caluniado ou perseguido…, e então começarei de verdade a
buscar a santidade”. Seria um triste engano não aproveitarmos precisamente
essas circunstâncias duras para nos unirmos mais a Deus.
“Bem-aventurados sois vós quando vos
injuriarem e perseguirem…Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa
recompensa nos céus” (Mt 5, 11-12). Assim como nenhuma coisa da terra nos pode
proporcionar a felicidade que todos procuramos, assim nada nos pode tirá-la se
estivermos unidos a Deus. A nossa felicidade e a nossa plenitude procedem de
Deus. Peçamos ao Senhor que transforme as nossas almas, operando uma mudança
radical nos nossos critérios sobre a felicidade e a infelicidade.
Seremos necessariamente felizes se
estivermos abertos aos caminhos de Deus em nossas vidas. Quando os homens, para
encontrarem a felicidade, experimentam caminhos diferentes do da vontade de
Deus, diferentes daquele que o Mestre nos traçou, no fim só encontram solidão e
tristeza. Longe do Senhor, só se colhem frutos amargos e, de uma forma ou de
outra, acaba-se como o filho pródigo enquanto esteve longe da casa paterna:
comendo bolotas e cuidando de porcos (Lc 15, 11-32).
São felizes aqueles que seguem o
Senhor, aqueles que lhe pedem e fomentam dentro de si o desejo de santidade.
Quando nos falta alegria, com certeza,
é porque não procuramos a Deus de verdade, no trabalho, naqueles que nos
rodeiam, nas dificuldades. Não será, talvez, porque ainda não estamos
inteiramente desprendidos? “Alegre-se o coração dos que procuram o Senhor”!
Mons. José Maria Pereira