O Administrador Desonesto
Mons. José Maria
Pereira
Em Lc 16, 1 –
13 o Senhor convida-nos a uma reflexão sobre o uso correto das riquezas: “Não
podes servir a Deus e ao dinheiro”. Os cristãos são chamados a investir com
sabedoria os bens materiais para adquirirem um tesouro nos céus.
Quem não tem
esperança, coloca seu apoio sobre os bens materiais. Na virtude da esperança,
as pessoas são chamadas a viverem como senhores e senhoras da criação, sem se
deixarem escravizar por ela. Por uma inversão de valores, as pessoas caem na
tentação de substituir a Deus, que é o Sumo Bem, pelos bens passageiros.
O Senhor,
nessa parábola, mostra que o administrador pôs-se a refletir sobre o que o
esperava: “Para cavar, não tenho forças; de mendigar, tenho vergonha. Já sei o que
hei de fazer, para que alguém me receba em sua casa, quando eu for afastado da
administração” (Lc 16, 3 – 4). Chamou os devedores do seu patrão e fez com eles
um acordo que os favorecia...
O dono teve
notícia do que o administrador tinha feito e louvou-o pela sua astúcia. E
Jesus, talvez com um pouco de tristeza, acrescentou: “os filhos deste mundo são
mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz”. O Senhor não louva a
imoralidade desse homem que, no pouco tempo que lhe restava, preparou uns amigos
que depois o recebessem e ajudassem. “Por que o Senhor narrou esta parábola? –
pergunta Santo Agostinho –. Não porque aquele servo fosse um exemplo a ser
imitado, mas porque foi prevenido em relação ao futuro, a fim de que se
envergonhe o cristão que não tenha essa determinação”; louvou-lhe o empenho, a
decisão, a astúcia, a capacidade de sobrepor-se e resolver uma situação
difícil, sem deixar-se levar pelo desânimo.
Podemos
observar, com freqüência, como é grande o esforço e os inúmeros sacrifícios que
muitas pessoas fazem para conseguir mais dinheiro, para subir na escala
social...
E nós,
cristãos, devemos pôr ao menos esse mesmo empenho em servir a Deus,
multiplicando os meios humanos para fazê-los render em favor dos mais
necessitados. O interesse que os outros têm nos seus afazeres terrenos, devemos
nós tê-lo em ganhar o Céu, em lutar contra o que nos separa de Cristo.
“Que empenho
põem os homens nos seus assuntos terrenos!: sonhos de honras, ambição de
riquezas, preocupações de sensualidade. – Eles e elas, ricos e pobres, jovens,
velhos e até crianças; todos a mesma coisa!
Quando
tu e eu pusermos o mesmo empenho nos assuntos da nossa alma, teremos uma fé
viva e operante; e não haverá obstáculo que não vençamos nos nossos
empreendimentos apostólicos” (São Josemaria Escrivá, Caminho, nº. 317).
Ao
terminar a parábola, o Senhor recorda-nos: “Ninguém pode servir a dois
senhores; porque ou odiará um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará
o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Lc 16, 13). Temos apenas
um Senhor, e devemos servi-Lo com todo o nosso coração, com os talentos que Ele
mesmo nos deu, empregando nesse serviço todos os meios lícitos, a vida inteira.
Temos de orientar para Deus, sem exceção, todos os atos de nossa vida: o
trabalho, os negócios, o descanso... O cristão não tem um tempo para Deus e
outro para os assuntos deste mundo: estes devem converter-se em serviço a Deus
pela retidão de intenção. “É uma questão de segundos... Pensa antes de começar
qualquer trabalho: que Deus quer de mim neste assunto? E, com a graça divina,
faze-o” (Caminho, nº. 778).
A
parábola do administrador infiel é uma imagem da vida do homem. Tudo o que
temos é dom de Deus, e nós somos os seus administradores, que tarde ou cedo
teremos de Lhe prestar contas.
Trata-se,
pois, de um chamamento ao esforço e à vigilância tendo em vista o último dia,
quando se haverá de dizer a cada um: “Presta contas da tua administração!” (Lc
16, 2).
O
uso do dinheiro exige uma grande honestidade, tanto nos negócios mais
importantes, como nos mais insignificantes, porque “quem é fiel no pouco é
também fiel no muito” (Lc 16, 10).
“Já
o disse o Mestre: oxalá nós, os filhos da luz, ponhamos, em fazer o bem, pelo
menos o mesmo empenho e a obstinação com que se dedicam às suas ações os filhos
das trevas! Não te queixes: trabalha antes para afogar o mal em abundância de
bem (São Josemaria Escrivá, forja, nº. 848).
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