Esperar o Senhor
Mons. José Maria
Pereira
A Palavra de
Deus deste Domingo convida os cristãos a não colocarem sua esperança em falsas
seguranças. Convoca-os a viverem sempre no serviço, à espera do Senhor.
A
2ª leitura (Hb 11, 1 - 2. 8 - 12) fala da fé que tinham as grandes figuras do
Antigo Testamento, sobretudo Abraão. A fé que guia os nossos passos é
precisamente o fundamento das coisas que se esperam. A fé dá-nos a conhecer com
certeza que o nosso destino é o Céu e, por isso, todas as coisas devem ordenar-se
para esse fim supremo e subordinar-se a ele.
No
evangelho (Lc 12, 32 - 48) Jesus exorta-nos à vigilância: “Estejam cingidos os
vossos rins e as lâmpadas acesas. Sede como homens que estão esperando o seu
Senhor voltar de uma festa de casamento, para lhe abrirem, imediatamente, a
porta, logo que Ele chegar e bater” (Lc 12, 36).
Ter
as roupas cingidas é uma imagem expressiva utilizada para indicar que alguém se
preparava para realizar um trabalho, para empreender uma viagem, para entrar em luta. Ter lâmpadas
acesas indica a atitude própria daquele que está de vigia ou espera a chegada
de alguém. Quando o Senhor vier no final da nossa vida, deve encontrar-nos
assim: em estado de vigília, como quem vive ao dia; servindo por amor e
empenhados em melhorar as realidades terrenas, mas sem perder o sentido
sobrenatural da vida, o fim para que tudo se dirige.
Essa
vigilância há de ser contínua, perseverante, porque contínuo é o ataque do
demônio que, “como um leão que ruge, dá voltas buscando a quem devorar” (1 Pd
5, 8). “Vela com o coração, vela com a fé, com a caridade, com as obras;
prepara as lâmpadas, cuida de que não se apaguem, alimenta-as com o azeite
interior de uma reta consciência; permanece unido ao Esposo pelo Amor, para que
Ele te introduza na sala do banquete, onde a tua lâmpada nunca se extinguirá”
(Santo Agostinho).
Estaremos
vigilantes no amor e longe da tibieza e do pecado se nos mantivermos fiéis a
Deus nas pequenas coisas que preenchem o dia. As pequenas coisas são a
ante-sala das grandes, tanto no sentido negativo como positivo.
São
Francisco de Sales fala-nos da necessidade de lutar nas pequenas tentações,
pois são muitas as ocasiões em que se apresentam num dia corrente e, se se vencem,
essas vitórias são mais importantes – por serem muitas – do que se se tivesse
vencido uma tentação mais grave. É fácil, ensina o Santo, “não cometer um
homicídio; mas é difícil repelir os pequenos ímpetos de cólera, que se
apresentam com bastante facilidade. É fácil não furtar os bens do próximo, mas
é difícil não os desejar. É fácil não levantar falsos testemunhos em juízo; mas
é difícil não mentir numa conversa; é fácil não embriagar-se, mas é difícil ser
sóbrio”!
As
pequenas vitórias diárias fortalecem a vida interior e despertam a alma para as
coisas divinas. São ocasiões que se apresentam com muita freqüência: trata-se
de viver a pontualidade à hora de levantar-se ou de começar o trabalho; de
deixar de lado uma leitura inútil que leva à perda de tempo; trata-se de fazer
um pequeno sacrifício à hora das refeições; de dominar a língua num encontro de
amigos ou numa reunião social, etc;
Se
formos fiéis nas pequenas coisas, permaneceremos cingidos, vigilantes, à espera
do Senhor que está para chegar.
Disse
Jesus: “onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Lc 12,
34). O Senhor quer nos ensinar que nenhuma coisa criada pode ser o “tesouro”, o
fim último do homem. Pelo contrário, o homem, usando retamente das coisas
nobres da terra, percorre o caminho para Deus, santifica-se e dá ao Senhor toda
a glória: “quer comais ou bebais ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo
para a glória de Deus” (1 Cor 10, 31).
“...vai chegar
na hora em que menos esperardes” (Lc 12, 40). Não devemos ficar preocupados com
o dia ou a hora da morte. Deus quis ocultar o momento da morte de cada um e do
fim do mundo. Imediatamente depois da morte, todo homem comparece para o juízo
particular: “Assim, está estabelecido que os homens morram uma só vez; e depois
disto, o juízo” (Hb 9, 27). Daí o cristão não poder aceitar a reencarnação!
Quem morre não volta mais! Morre-se uma só vez! Estejamos preparados para esse
encontro definitivo com o Senhor. Ele pedirá contas a cada um segundo as suas
circunstâncias pessoais: todo o homem tem nesta vida uma missão para cumprir; dela
teremos de responder diante do tribunal divino e seremos julgados segundo os
frutos, abundantes ou escassos, que tenhamos dado.
O
Senhor espera de nós uma conversão sincera e uma correspondência cada vez mais
generosa: espera que estejamos vigilantes para que não adormeçamos na tibieza,
para que andemos sempre despertos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário