domingo, 31 de julho de 2016

homilía Dominical dia 31/07/2016





Valor dos Bens Materiais

Mons. José Maria Pereira
Um homem vem a Jesus pedindo que diga ao irmão que reparta consigo a herança. Depois de responder que Ele não é juiz sobre a questão, Jesus adverte: “Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens” (Lc 12, 15). E conta a parábola do homem que acumulou riquezas e morreu logo em seguida (Cf. Lc. 12, 13-21). Jesus conclui: “Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico diante de Deus”. Dependendo do uso que se faça dela, a riqueza pode constituir a perdição do homem.
O Senhor ensina-nos que é uma insensatez colocar o coração, feito para a eternidade, na ânsia de riqueza e de bem estar material, porque nem a felicidade nem a vida verdadeiramente humana se fundamentam neles: “A vida de um homem não consiste na abundância de bens.” O rico da parábola revela o seu ideal de vida no diálogo que trava consigo próprio. Está seguro de si por ter muitos bens e por basear neles a sua estabilidade e felicidade. Viver é para ele, como para tantas pessoas, desfrutar do máximo que puder: trabalhar pouco, comer, beber, ter uma vida cômoda, dispor de reservas para longos anos. Este é o seu ideal.
E como dar segurança a uma vida construída a partir desse sentido puramente material dos dias? Diz: Armazenarei…No entanto, tudo o que não se constrói sobre Deus está falsamente construído. A segurança que os bens materiais podem dar é frágil e além disso insuficiente, porque só Deus pode nos tornar plenamente felizes. A fonte da vida está só em Deus.
Podemos perguntar-nos hoje: onde está o nosso coração? Em que se ocupa? Com que se preocupa? Com que se alegra ou com que se entristece? Daí ter mais consciência de que o nosso destino definitivo é o Céu, e que, se não o alcançarmos, nada de nada terá valido a pena.
A nossa passagem pela terra é um tempo para merecer; foi o próprio Senhor que nos deu esse tempo. Recorda-nos a Bíblia que “não temos aqui moradia (cidade) permanente, mas vamos em busca da futura” (Hb 13, 14). O Senhor virá chamar-nos, pedir-nos contas dos bens que nos deixou em depósito para que os administrássemos criteriosamente: a inteligência, a saúde, os bens materiais, a capacidade de amizade, a possibilidade de tornar felizes os que temos à nossa volta… O Senhor virá um só vez, talvez quando menos O esperamos, como o ladrão na noite (Mt 25, 43), como um relâmpago no Céu (Mt 24, 27), e é preciso que nos encontre bem preparados. Quem vive só para os bens materiais, Deus o chama de néscio, louco! Não podemos nos esquecer que os bens são simples meios para alcançarmos a meta que o Senhor nos marcou. Nunca devem ser o fim dos nossos dias aqui na terra.
“Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida…” (Lc 12, 20). O tempo é escasso: esta mesma noite…, e talvez nós estejamos pensando em muitos anos, como se a nossa passagem pela terra houvesse de durar para sempre! Os nossos dias estão numerados e contados; estamos nas mãos de Deus. Dentro de algum tempo – que nunca será tão longo como quereríamos –, encontrar-nos-emos face a face com o Senhor.
Meditar sobre o nosso fim, o encontro definitivo com Deus, ajuda-nos a aproveitar todas as circunstâncias desta vida para merecer e reparar pelos pecados, recuperando o tempo perdido. “Quem vive como se tivesse de morrer cada dia – visto que é incerta nossa vida por natureza – não pecará, já que o bom temor extingue grande parte da desordem dos apetites; pelo contrário, quem julga que vai ter uma vida longa, facilmente se deixa dominar pelos prazeres” (Santo Atanásio).
A insensatez do homem rico consiste em que considerou a posse de bens materiais como o único fim da sua existência e a garantia da sua segurança. É legítima a aspiração do homem a possuir o necessário para a sua vida e o seu desenvolvimento, mas ter como bem absoluto a posse de bens materiais acaba por destruir o homem e a sociedade.
O cristão não pode desprezar ou depreciar a existência temporal, pois toda ela deve servir como preparação para a sua existência definitiva com Deus no Céu. Só quem se torna rico diante de Deus, quem acumula tesouros que Deus reconhece como tais é que tira proveito certo destes dias terrenos. Fora isso, o resto é viver de enganos: “O homem passa como uma sombra, apenas sopro as riquezas que amontoa, sem saber para quem” (Sl 39 (38), 7).
A consideração da morte ensina-nos também a aproveitar bem os dias, pois o tempo que temos pela frente não é muito longo. “Este mundo, meus filhos, escapa-nos das mãos. Não podemos perder o tempo, que é curto. Compreendo muito bem aquela exclamação de S. Paulo a Corinto: “O tempo é breve!, como é breve a duração da nossa passagem pela terra! Para um cristão coerente, estas palavras ressoam no mais íntimo do seu coração como uma censura perante a falta de generosidade, e como um convite constante para que seja leal. Verdadeiramente, é curto o nosso tempo para amar, para dar, para desagravar” (São Josemaria Escrivá).
Aproveitemos bem, muito bem, cada instante de nossa existência!
A meditação das verdades eternas é uma ajuda eficaz para darmos à nossa vida o seu verdadeiro sentido.
Mons. José Maria Pereira


quinta-feira, 21 de julho de 2016

Homilía Dominical dia 24/07/2016




O Poder da Oração
Mons. José Maria Pereira
            A oração constitui um dos elementos essenciais da vida cristã e do seguimento de Cristo.
            Na primeira leitura (Gn 18, 20-32) aparece a comovente e atrevida oração de Abraão, em favor das cidades pecadoras, expressão magnífica da sua confiança em Deus e da sua solicitude pela salvação dos outros. Deus revelou-lhe o Seu desígnio de destruir as cidades de Sodoma e Gomorra, pervertidas ao máximo, e o patriarca procura deter o castigo, em atenção aos justos que, possivelmente, poderia haver entre os pecadores.
            O Evangelho (Lc 11, 1-13) retoma o tema da oração. Jesus, solicitado pelos seus discípulos, ensina-os a orar: “Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o Teu nome. Venha o Teu reino” (Lc 11, 2). O cristão, autorizado por Jesus, chama a Deus de Pai, nome que dá à oração uma atitude filial, que pode derramar o seu coração no coração de Deus, apresentando-Lhe as suas necessidades, de maneira simples e espontânea, como indica o Pai-nosso.
            Com a parábola do amigo importuno Jesus ensina a orar com perseverança e insistência, como fez Abraão, sem temer a ser indiscretos: “Pedi, procurai, batei”. Não há horas inconvenientes para Deus. Nunca se aborrece da oração humilde e confiada dos Seus filhos, mas antes se compraz com ela: “Todo aquele que pede recebe; quem procura encontra; e ao que bate abrir-se-á” (Lc 11, 10). E, mesmo que o homem nem sempre obtenha aquilo que pede, é certo que a sua oração não é em vão, pois o Pai celeste responde sempre com o Seu amor e a seu favor, embora de uma maneira oculta e diferente da que o homem espera. O mais importante não é obter isto ou aquilo, mas sim, que nunca lhe falte a graça de ser cada dia fiel a Deus. Esta graça está garantida ao que ora sem cessar: “Se vós que sois maus sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do céu dará o Espírito Santo aos que O pedirem” (Lc 11, 13). No dom do Espírito Santo, estão incluídos todos os bens que Deus quer conceder aos Seus filhos.
            Jesus retirava-se para rezar, com freqüência! E um dia, ao terminar a sua oração, disse-lhe um de seus discípulos: “Senhor, ensina-nos a orar... É o que nós temos de pedir também: Jesus, ensina-me de que modo relacionar-me contigo, diz-me como e que coisas devo pedir-te...Pois, se Jesus foi um homem orante, também os cristãos são chamados a serem homens e mulheres orantes. Para que possam transformar toda a sua vida numa comunhão profunda com Deus, importa dedicar espaços de tempo explicitamente ao exercício da oração. Sem dúvida a oração constitui uma profunda experiência pascal. Daí cuidarmos da vida de oração, pois a oração é o grande recurso que no resta para sair do pecado, perseverar na graça, mover o coração de Deus e atrair sobre nós toda a sorte de bênçãos do céu, quer para a alma, quer pelo que respeita às nossas necessidades temporais.
            Aos jovens ensinava São João Paulo II: “É preciso reconhecer humilde e realmente que somos pobres criaturas com idéias confusas, frágeis e débeis, com necessidade contínua de força interior e de consolação. A oração dá força para os grandes ideais, para manter a fé, a caridade, a pureza, a generosidade; a oração dá ânimo para sair da indiferença e da culpa, se por desgraça se cedeu à tentação e à debilidade; a oração dá luz para ver e julgar os acontecimentos da própria vida e da própria história na perspectiva salvífica de Deus e da eternidade. Por isto, não deixeis de orar! Não passe um dia sem que tenhais orado um pouco! A oração é um dever, mas também é uma grande alegria, porque é um diálogo com Deus por meio de Jesus Cristo! Cada domingo a Santa Missa e, se vos é possível, alguma vez também durante a semana; cada dia as orações da manhã e da noite e nos momentos mais oportunos!”
            O que devemos pedir e desejar é que se cumpra a vontade de Deus: Faça-se a tua vontade assim na terra como no céu. E este é sempre o meio de acertar, o melhor caminho que podíamos ter sonhado, pois é o que foi preparado pelo nosso Pai do Céu. “Diz-Lhe: – Senhor, nada quero fora do que Tu quiseres. Não me dês nem mesmo aquilo que te venho pedindo nestes dias, se me afasta um milímetro da tua vontade (S. Josemaria Escrivá, Josemaria Escrivá, Forja, 512).
            “Orai sem cessar”, diz-nos S. Paulo. “Não sabes orar? – Põe-te na presença de Deus, e logo que começares a dizer: “Senhor, não sei fazer oração!...”, podes ter certeza de que começaste a fazê-la” (Caminho, 90). Continua S. Josemaria no nº. 101 de Caminho: “Persevera na oração. – Persevera, ainda que o teu esforço pareça estéril. – A oração é sempre fecunda.”


terça-feira, 12 de julho de 2016

Homilía Dominical dia 17/07/2016





Exemplo de Marta e Maria
Mons. José Maria Pereira

            O Evangelho, em Lc 10, 38-42, apresenta Jesus a caminho de Jerusalém e que, em Betânia, é recebido em casa de Marta, irmã de Maria e Lázaro, por quem o Senhor havia chorado e a quem havia ressuscitado. Na casa dos três irmãos, que Jesus amava de todo o coração, encontrou Ele a acolhida e o repouso necessários para descansar, depois de uma longa jornada.
            O diálogo de Jesus com Marta tem um tom familiar cheio de confiança, que nos faz pensar na grande amizade do Senhor com os três irmãos.
            Santo Agostinho comenta esta cena da seguinte maneira: “Marta ocupava-se em muitas coisas, dispondo e preparando a refeição do Senhor. Pelo contrário, Maria preferiu alimentar-se do que dizia o Senhor. Não reparou de certo modo na agitação contínua de sua irmã e sentou-se aos pés de Jesus, sem fazer outra coisa senão escutar as Suas palavras. Tinha muito bem compreendido o que diz o Salmo: “Descansai e vede que Eu sou o Senhor” (Sl 46, 11). Marta consumia-se, Maria alimentava-se; aquela abarcava muitas coisas, esta só atendia a uma. Ambas as coisas são boas.”
            Por séculos quis-se apresentar Marta e Maria como dois modelos de vida contrapostos: em Maria quis-se representar a contemplação, a vida de união com Deus; em Marta, a vida ativa de trabalho; mas a vida contemplativa não consiste em estar aos pés de Jesus sem fazer nada: isso seria uma desordem! Os afazeres de cada um são precisamente o lugar em que encontramos a Deus, “o eixo sobre o qual assenta e gira a nossa chamada à santidade” (São Josemaria Escrivá). Sem um trabalho sério, consciente, prestigioso, seria muito difícil, para não dizer impossível, ter uma vida interior profunda e exercer um apostolado eficaz no meio do mundo.
            A maioria dos cristãos, chamados a santificar-se no meio do mundo, não se podem considerar como dois modos contrapostos de viver o cristianismo. Pois, uma vida ativa que se esqueça da união com Deus é algo inútil e estéril; uma suposta vida de oração que prescinda da preocupação apostólica e da santificação das realidades ordinárias também não pode agradar a Deus. A chave está, pois, em saber unir estas duas vidas, sem prejuízo nem de uma nem de outra. Esta união profunda entre ação e contemplação pode viver-se de modos muito diversos, segundo a vocação concreta que cada um recebe de Deus.
            O trabalho, longe de ser obstáculo, há de ser meio e ocasião de uma intimidade afetuosa com Nosso Senhor, que é o mais importante. Ou seja, é no meio de nossos trabalhos cotidianos e através deles, não apesar deles, que Deus convida a maioria dos cristãos a santificar o mundo e a santificação nele, com uma vida transbordante de oração que vivifique e dê sentido a essas tarefas. A um grupo numeroso ensinava S. Josemaria Escrivá: “Deveis compreender agora – com uma nova clareza – que Deus vos chama a servi-Lo nas e a partir das tarefas civis, materiais, seculares, da vida humana. Deus espera-nos cada dia no laboratório, na sala de operações de um hospital, no quartel, na cátedra universitária, na fábrica, na oficina, no campo, no lar, e em todo o imenso panorama do trabalho. Não esqueçam nunca: há algo de santo, de divino, escondido nas situações mais comuns, algo que a cada um de nós compete descobrir (...). Não há outro caminho: ou sabemos encontrar o Senhor na nossa vida de todos os dias, ou não O encontraremos nunca. Por isso, posso afirmar que a nossa época precisa devolver à matéria e às situações aparentemente vulgares o seu sentido nobre e original; pondo-as ao serviço do Reino de Deus, espiritualizando-as, fazendo delas o meio e a ocasião para o nosso encontro contínuo com Jesus Cristo” (Temas Atuais do Cristianismo, nº 114). Temos que chegar ao amor de Maria enquanto levamos a cabo o trabalho de Marta. Pois, o trabalho alimenta a oração e a oração “embebe” o trabalho. E isto até se chegar ao ponto de o trabalho em si mesmo, enquanto serviço feito ao homem e à sociedade, se converter em oração agradável a Deus. Numa palavra, o trabalho é o meio com que nos santificamos.
            E isto é o que verdadeiramente importa: encontrar Jesus no meio desses afazeres diários, não esquecer em momento algum “o Senhor das coisas”; e menos ainda quando esses afazeres se referem mais diretamente a Ele, pois, do contrário, talvez acabássemos por realizá-los com a atenção posta em nós mesmos, procurando neles somente a nossa realização pessoal, o gosto ou a mera satisfação de um dever cumprido, e deixando de lado a retidão de intenção, esquecendo o Mestre.
            Marta ao acolher Jesus em sua casa também nos ensina que devemos abrir o coração para o próximo, todo o próximo que se aproxima de nós ou de quem nós nos aproximamos. É toda uma atitude de acolhimento entre os esposos, entre pais e filhos, entre irmãos, entre os vizinhos, no trabalho, em nossas comunidades paroquiais, etc.
É importante que acolhamos Jesus como Maria, colocando-nos aos seus pés para ouví-Lo, mas é importante também que O acolhamos como Marta, proporcionando-Lhe descanso e alimento, contanto que tudo seja feito no Senhor.
Que a Virgem Santíssima nos alcance o espírito de trabalho de Marta e a presença de Deus de Maria, daquela que, sentada aos pés de Jesus, escutava embevecida as suas palavras.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Homilía Dominical dia 10/07/2016



                                                          Um amor sem distinção
Mons. José Maria Pereira

O evangelho, em (Lc 10, 25-37), apresenta Jesus a falar com um doutor da lei sobre o primeiro mandamento: o amor a Deus e ao próximo. O doutor interroga o Mestre, não por desejo de aprender, mas “para O experimentar.” “E quem é o meu próximo?”
            Em resposta, Jesus conta a história do samaritano que socorre o homem caído nas mãos dos ladrões e deixado meio morto ao lado da estrada. Este é o meu próximo: um homem, um homem qualquer, alguém que necessita de mim. O Senhor não introduz nenhuma especificação de raça, amizade ou parentesco. O nosso próximo é qualquer pessoa que esteja perto de nós e necessite de ajuda. Nada se diz do seu país, nem da sua cultura, nem da sua condição social: um homem qualquer
            No caminho da nossa vida, encontraremos pessoas feridas, despojadas de tudo e meio mortas, da alma e do corpo. A preocupação por ajudar os outros, se estamos unidos ao Senhor, tirar-nos-á do nosso caminho rotineiro, de todo o egoísmo, e dilatará o nosso coração preservando-nos da mesquinhez. Encontraremos pessoas cobertas de dor pela falta de compreensão e de carinho, ou necessitadas dos meios materiais mais indispensáveis; feridas por terem sofrido humilhações que vão contra a dignidade humana; despojadas, talvez, dos direitos mais fundamentais: situações de misérias que bradam aos céus. O cristão nunca pode passar ao largo, como fizeram alguns personagens da parábola.
            Nesta passagem do Evangelho encontramos outro ensinamento fundamental: a Lei de Deus não é algo negativo, “não fazer”, mais algo claramente positivo, é amor; a santidade, a que todos os batizados estão chamados, não consiste tanto em não pecar, mas em amar, em fazer coisas positivas, em dar frutos de amor de Deus. Quando o Senhor nos descreve o Juízo Final realça esse aspecto positivo da Lei de Deus (Mt 25, 31-46). O prêmio da vida eterna será concedido aos que fizeram o bem. Nesta parábola do bom samaritano, Santo Agostinho identifica o Senhor com o bom samaritano, e o homem assaltado pelos ladrões com Adão, origem e figura de toda a humanidade caída. Levado por essa compaixão e misericórdia, desce à terra para curar as chagas do homem, fazendo-as suas próprias (Is 53, 4; Mt 8, 17; 1Pd 2, 14; 1 Jo 3, 5).
Essa mesma compaixão e amor de Jesus Cristo temos de sentir nós, os Cristãos, que devemos ser discípulos Seus, para não passar nunca do lado oposto perante as necessidade alheias. Uma concretização do amor ao próximo encontramos nas Obras de Misericórdia, que se chamam assim porque não são devidas por justiça. São quatorze: sete espirituais e sete corporais. As espirituais abarcam: ensinar a quem não sabe, dar bom conselho a quem dele tenha necessidade, corrigir a quem erra, perdoar as injúrias, consolar o triste, sofrer com paciência as adversidades e as fraquezas do próximo, e rogar a Deus pelos vivos e pelos mortos. As corporais são: visitar os doentes, dar de comer ao faminto, dar de beber ao que tem sede, redimir o cativo, vestir o nu, dar pousada ao peregrino, e enterrar os mortos.
            O amor ao próximo é muito concreto. “Com razão se pode dizer que é o próprio Cristo quem nos pobres levanta a voz para despertar a caridade dos seus discípulos” (GS, 88).
            O samaritano não tem uma compaixão puramente teórica, ineficaz. Antes de mais nada aproximou-se, que é o que devemos começar por fazer perante a necessidade do próximo.
Nem sempre se tratará de atos heróicos, difíceis; freqüentemente, serão coisas simples, muitas vezes pequenas, “pois essa caridade não deve ser procurada unicamente nos acontecimentos importantes, mas, sobretudo, na vida corrente” (GS, 38)
            Jesus conclui o ensinamento com uma palavra cordial, dirigida ao doutor: “Vai e faze tu o mesmo”. Sê o próximo inteligente, ativo e compassivo com todo aquele que precisar de ti. Pois, como ensina São Tomás, “quando é amado o homem, é amado Deus já que o homem é imagem de Deus”. Quem ama de verdade Deus ama também os seus iguais, porque verá neles os seus irmãos, filhos do mesmo Pai, redimidos pelo mesmo sangue de Nossa Senhor Jesus Cristo: “Temos este mandamento de Deus: que o que ame a Deus ame também o seu irmão” (1 Jo 4, 21). Há, porém, um perigo! Se amamos o homem pelo homem, sem referência a Deus, este amor converte-se em obstáculo que impede o cumprimento do primeiro preceito; e então deixa também de ser verdadeiro amor ao próximo. Mas o amor ao próximo por Deus é prova patente de que amamos a Deus: “se alguém diz: amo a Deus, mas despreza o seu irmão, é um mentiroso” (1 Jo 4, 20).

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Homilía Dominical dia 26/06/2016





Ontem Pedro, hoje Francisco!
Mons. José Maria Pereira


            Celebramos hoje o martírio dos Apóstolos Pedro e Paulo; mortos na perseguição de Nero pelo ano de 64. Através destes dois apóstolos a Igreja celebra sua apostolicidade: Creio na Igreja uma, santa, católica, apostólica.
São Pedro e São Paulo são os últimos dois anéis de uma corrente que nos une ao próprio Cristo. Em certo sentido, nossa comunhão com Jesus passa através deles. Nós celebramos, por isso, a festa dos “fundadores” de nossa fé, dos antepassados do povo cristão.
Disse Jesus: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja” (Mt 16,18).
A Igreja, portanto, não é uma sociedade de livres pensadores, mas é a sociedade, ou melhor, a comunidade daqueles que se unem a Pedro em proclamar a fé em Jesus Cristo. Quem edifica a Igreja é Cristo. É ele que escolhe livremente um homem e o põe na base do edifício.
            Pedro é apenas um instrumento, a primeira pedra do edifício, enquanto Cristo é aquele que põe a primeira pedra. Todavia, doravante, não se poderá estar verdadeira e plenamente na Igreja, como pedra viva, se não se está em comunhão com a fé de Pedro e sua autoridade ou, ao menos, se não se procura estar. Santo Ambrósio escreveu uma palavra forte: “onde está Pedro, ali está a Igreja.” Isto não significa que Pedro seja, sozinho, toda a Igreja, mas que não pode haver Igreja sem Pedro.
            O primado de Pedro e de seus sucessores está claro no Evangelho (cf. tb. Jo 21, 15). Pedro exerceu este primado, como encontramos nos Atos dos Apóstolos (At. 1, 15; 2, 14; 3, 6; 10, 1; 9, 32; 15, 7-2). Pedro foi bispo de Roma, onde foi sepultado. Santo Inácio de Antioquia refere-se à Igreja de Roma como a “que preside a aliança do amor.”
O Papa é o representante de Cristo na terra (seu vigário), o fundamento da unidade da Igreja.
A ordem de Jesus foi: “Apascenta os meus cordeiros... apascenta as minhas ovelhas!” (Jo. 21, 15-17). Era a investidura no supremo poder! A Igreja sem o Papa seria um barco sem timoneiro!
Jesus quis fundar a sua Igreja tendo Pedro e seus sucessores à frente dela. Em dois mil anos de Cristianismo, até hoje, Pedro teve 266 sucessores! Pedro, Lino, Cleto, Clemente... João Paulo II, Bento XVI, Francisco. Podemos dizer, ontem Pedro, hoje Francisco. Agradeçamos a Deus por pertencermos à Igreja fundada por Cristo que é “Una, Santa, Católica e Apostólica, edificada por Jesus Cristo, sociedade visível instituída com órgãos hierárquicos e comunidade espiritual simultaneamente (...); fundada sobre os Apóstolos e transmitindo de geração em geração a sua palavra sempre viva e os seus poderes de Pastores no Sucessor de Pedro e nos Bispos em comunhão com ele; perpetuamente assistida pelo Espírito Santo” (Paulo VI, Credo do Povo de Deus).
Dizia São Josemaria Escrivá: “O amor ao Romano Pontífice há de ser em nós uma bela paixão, porque nele vemos Cristo.”
Também S. Paulo é hoje apresentado na cadeia (2 Tm. 4, 6-8. 17-18), na sua última prisão que terminará com o seu martírio. O Apóstolo está consciente da sua situação; porém, as suas palavras não revelam amargura, mas a serena satisfação de ter gasto a sua vida pelo Evangelho: “aproxima-se o momento de minha partida. Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. Agora está reservada para mim a coroa da justiça...” (2 Tm. 4, 6-8).
Paulo disse: “Escolheu-nos antes da constituição do mundo” (Ef 1, 4). E continua: “chamou-nos com vocação santa, não em virtude das nossas obras, mas em virtude do seu desígnio” (2 Tm. 1, 9).
A vocação é um dom que Deus preparou desde toda a eternidade. Todos nós recebemos, de diversas maneiras, uma chamada concreta para servir o Senhor. E ao longo da vida chegam-nos novos convites para segui-Lo, e temos de ser generosos com Ele em cada encontro. Temos de saber perguntar a Jesus na intimidade da oração, como São Paulo: Que devo fazer, Senhor?, que queres que eu deixe por Ti?, em que desejas que eu melhore? Neste momento da minha vida, que posso fazer por Ti?
O Senhor chama todos os cristãos à santidade; e é uma vocação exigente, muitas vezes heróica, pois Ele não quer seguidores tíbios, discípulos de segunda classe; se quiser ser discípulo do Mestre, deve imprimir um sentido apostólico à sua vida: um sentido que o levará a não deixar passar nenhuma oportunidade de aproximar os outros de Cristo, que é aproximá-los da fonte de alegria, da paz e da plenitude.
Temos de pedir hoje a São Paulo que saibamos converter em oportuna qualquer situação que se nos apresente. Quem verdadeiramente ama a Cristo sentirá a necessidade de O dar a conhecer, pois, como diz São Tomás de Aquino, aquilo que os homens muito admiram divulgam-no logo, porque da abundância do coração fala a boca”.
Relembrando o ardor missionário de São Pedro e São Paulo, que o Senhor nos conceda o mesmo entusiasmo para sermos discípulos e missionários de Cristo.
A exemplo da Igreja primitiva que rezava por Pedro, enquanto estava na prisão (At 12, 5), rezemos, antes de tudo, para que Deus faça de nós cristãos verdadeiramente apostólicos, solidamente ancorados à fé dos apóstolos Pedro e Paulo. Rezemos, também, pelo sucessor de Pedro, hoje Francisco, para que Ele que o colocou em tal posição o ilumine e o torne capaz de “confirmar os irmãos.”