Valor dos Bens Materiais
Mons. José Maria Pereira
Um homem vem a
Jesus pedindo que diga ao irmão que reparta consigo a herança. Depois de
responder que Ele não é juiz sobre a questão, Jesus adverte: “Tomai cuidado
contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a
vida de um homem não consiste na abundância de bens” (Lc 12, 15). E conta a
parábola do homem que acumulou riquezas e morreu logo em seguida (Cf. Lc. 12,
13-21). Jesus conclui: “Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo,
mas não é rico diante de Deus”. Dependendo do uso que se faça dela, a riqueza
pode constituir a perdição do homem.
O Senhor
ensina-nos que é uma insensatez colocar o coração, feito para a eternidade, na
ânsia de riqueza e de bem estar material, porque nem a felicidade nem a vida
verdadeiramente humana se fundamentam neles: “A vida de um homem não consiste
na abundância de bens.” O rico da parábola revela o seu ideal de vida no
diálogo que trava consigo próprio. Está seguro de si por ter muitos bens e por
basear neles a sua estabilidade e felicidade. Viver é para ele, como para
tantas pessoas, desfrutar do máximo que puder: trabalhar pouco, comer, beber,
ter uma vida cômoda, dispor de reservas para longos anos. Este é o seu ideal.
E como dar segurança
a uma vida construída a partir desse sentido puramente material dos dias? Diz:
Armazenarei…No entanto, tudo o que não se constrói sobre Deus está falsamente
construído. A segurança que os bens materiais podem dar é frágil e além disso
insuficiente, porque só Deus pode nos tornar plenamente felizes. A fonte da
vida está só em Deus.
Podemos
perguntar-nos hoje: onde está o nosso coração? Em que se ocupa? Com que se
preocupa? Com que se alegra ou com que se entristece? Daí ter mais consciência
de que o nosso destino definitivo é o Céu, e que, se não o alcançarmos, nada de
nada terá valido a pena.
A nossa
passagem pela terra é um tempo para merecer; foi o próprio Senhor que nos deu
esse tempo. Recorda-nos a Bíblia que “não temos aqui moradia (cidade) permanente,
mas vamos em busca da futura” (Hb 13, 14). O Senhor virá chamar-nos, pedir-nos
contas dos bens que nos deixou em depósito para que os administrássemos
criteriosamente: a inteligência, a saúde, os bens materiais, a capacidade de
amizade, a possibilidade de tornar felizes os que temos à nossa volta… O Senhor
virá um só vez, talvez quando menos O esperamos, como o ladrão na noite (Mt 25,
43), como um relâmpago no Céu (Mt 24, 27), e é preciso que nos encontre bem
preparados. Quem vive só para os bens materiais, Deus o chama de néscio, louco!
Não podemos nos esquecer que os bens são simples meios para alcançarmos a meta
que o Senhor nos marcou. Nunca devem ser o fim dos nossos dias aqui na terra.
“Ainda nesta
noite, pedirão de volta a tua vida…” (Lc 12, 20). O tempo é escasso: esta mesma
noite…, e talvez nós estejamos pensando em muitos anos, como se a nossa
passagem pela terra houvesse de durar para sempre! Os nossos dias estão
numerados e contados; estamos nas mãos de Deus. Dentro de algum tempo – que nunca
será tão longo como quereríamos –, encontrar-nos-emos face a face com o Senhor.
Meditar sobre o nosso fim, o
encontro definitivo com Deus, ajuda-nos a aproveitar todas as circunstâncias
desta vida para merecer e reparar pelos pecados, recuperando o tempo perdido.
“Quem vive como se tivesse de morrer cada dia – visto que é incerta nossa vida
por natureza – não pecará, já que o bom temor extingue grande parte da desordem
dos apetites; pelo contrário, quem julga que vai ter uma vida longa, facilmente
se deixa dominar pelos prazeres” (Santo Atanásio).
A insensatez
do homem rico consiste em que considerou a posse de bens materiais como o único
fim da sua existência e a garantia da sua segurança. É legítima a aspiração do
homem a possuir o necessário para a sua vida e o seu desenvolvimento, mas ter
como bem absoluto a posse de bens materiais acaba por destruir o homem e a
sociedade.
O cristão não
pode desprezar ou depreciar a existência temporal, pois toda ela deve servir
como preparação para a sua existência definitiva com Deus no Céu. Só quem se
torna rico diante de Deus, quem acumula tesouros que Deus reconhece como tais é
que tira proveito certo destes dias terrenos. Fora isso, o resto é viver de
enganos: “O homem passa como uma sombra, apenas sopro as riquezas que amontoa,
sem saber para quem” (Sl 39 (38), 7).
A consideração
da morte ensina-nos também a aproveitar bem os dias, pois o tempo que temos
pela frente não é muito longo. “Este mundo, meus filhos, escapa-nos das mãos.
Não podemos perder o tempo, que é curto. Compreendo muito bem aquela exclamação
de S. Paulo a Corinto: “O tempo é breve!, como é breve a duração da nossa
passagem pela terra! Para um cristão coerente, estas palavras ressoam no mais
íntimo do seu coração como uma censura perante a falta de generosidade, e como
um convite constante para que seja leal. Verdadeiramente, é curto o nosso tempo
para amar, para dar, para desagravar” (São Josemaria Escrivá).
Aproveitemos bem, muito bem, cada
instante de nossa existência!
A meditação
das verdades eternas é uma ajuda eficaz para darmos à nossa vida o seu
verdadeiro sentido.
Mons. José Maria Pereira