A Cruz Salvadora
Mons. José Maria Pereira
No
Evangelho (Lc 9, 18-24) Jesus pergunta aos discípulos: “Quem diz o povo que eu
sou?” (Lc 9, 18). Eles responderam: “João Batista; outros, que és Elias;
outros, que és um dos antigos profetas, que ressuscitou.” E vem a pergunta
decisiva: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Pedro respondeu: “O Cristo de Deus”.
Em seguida, Jesus revela a outra face da sua pessoa: o sofrimento e a morte
pela qual deve passar o Filho do Homem. Finalmente, Ele mostra que o caminho do
Mestre é também o caminho do discípulo.
“Se alguém
me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz de cada dia, e siga-me.”
Ele irá à
frente para dar o exemplo: Será o primeiro a levar a cruz. Quem quiser ser seu
discípulo, há de imitá-lo.
E conclui:
“Aquele que quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas quem a perder, por
minha causa, esse se salvará.
A resposta
de Jesus foi muito dura e perturbadora para os seus discípulos que, como os
seus compatriotas, sonhavam só com um Messias-Rei. Mas Jesus não retrocede;
pelo contrário, prossegue no seu esclarecimento avisando-os que também eles
haveriam de passar pelo caminho do sofrimento.
Quem quiser
ser seu discípulo, deverá imitá-Lo, não apenas uma vez, mas dia após dia,
negando-se a si mesmo – vontade, inclinações, gostos – para se conformar com o
Mestre sofredor e crucificado.
O
seguimento de Cristo leva os cristãos a experimentarem em suas vidas a mesma
sorte do Cristo de Deus: tornados filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus, todos
foram batizados em Cristo e se revestiram de Cristo (Gl 3, 26-28). Este
processo de ser batizado em Cristo e revestir-se dele continua através da vida.
É tomar a cruz todos os dias e segui-Lo. É perder a vida por causa de Cristo
para salvá-la.
A pedagogia
de Deus, que consiste em converter o homem não pela força, mas pelo exemplo do
amor até o fim, atinge a plenitude em Jesus de Nazaré.
Os pequenos
sacrifícios do dia a dia não são apenas exercícios esportivos. Eles são,
verdadeiramente, exercícios do amor de Cristo. São a manifestação, até nos
mínimos detalhes de nossa vida, de quanto temos constantemente diante dos olhos
seu amor por nós, manifestado na cruz. A cruz do dia a dia é nossa participação
da cruz do Calvário e recebe desta todo seu valor.
Cristo na
Cruz: esta é a única chave verdadeira. Ele aceita o sofrimento na Cruz para nos
fazer felizes; e nos ensina que, unidos a Ele, podemos também nós dar um valor
de salvação ao nosso sofrimento, que se transforma então em alegria: na alegria
profunda do sacrifício pelo bem dos outros e na alegria da penitência pelos
pecados pessoais e pelos pecados do mundo.
“À luz da
Cruz de Cristo, portanto, não há motivo para termos medo à dor, porque
entendemos que é na dor que se manifesta o amor: a verdade do amor, do nosso
amor a Deus e a todos os homens” (Beato Álvaro Del Portillo, Homilia).
O Senhor
disse por meio de Neemias: Não vos entristeçais, porque a alegria do Senhor é a
vossa força” (Ne 8,10).
A tristeza
provoca muito mal em nós e à nossa volta. É uma erva da minha que devemos
arrancar logo que aparece: “...afasta para longe de ti a tristeza; pois a
tristeza matou a muitos e não traz proveito algum” (Eclo. 30, 24-25).
Podemos
recuperar a alegria, em qualquer circunstância que tenda a abater-nos, se
soubermos recorrer à oração ou buscarmos contritamente o sacramento da
Confissão, sobretudo quando a perdemos por causa do pecado ou por descuidos
culpáveis no relacionamento com Deus.
Digamos ao
Senhor que nos ajude com a sua graça para que, a cada momento, possa contar efetivamente
conosco para o que queira: livres de objeções e de laços que nos prendam.
Senhor, não tenho outro fim na vida a não ser buscar-vos, amar-vos e
servir-vos... Todos os outros objetivos da minha vida se orientam para isso.
Não quero nada que me separe de vós.
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