O Amor da Pecadora
Mons. José Maria Pereira
O Evangelho
(Lc 7, 36 – 8, 3) narra a história da mulher pecadora.
Jesus foi
convidado a almoçar por um fariseu chamado Simão. Quando estavam à mesa, entra
uma mulher e vai diretamente a Cristo. Era uma mulher pecadora que havia na
cidade e que decidiu ter um encontro pessoal com o Senhor. E dá amplas mostras
de arrependimento e de contrição: “Ela trouxe um frasco de alabastro com
perfume, e, ficando por detrás, chorava aos pés de Jesus; com as lágrimas começou
a banhar-lhe os pés, enxugava-os com os cabelos, cobria-os de beijos e os ungia
com o perfume” (Lc 7, 37-38). Sabemos o
que se passava no seu íntimo pelas palavras posteriores do Senhor: Amou muito.
Mostrou que professava por Jesus uma veneração sem limites. Esqueceu-se dos
outros e de si mesma; só Cristo é que importava.
São-lhe
perdoados os seus muitos pecados porque muito amou: esta e não outra foi a
razão de tanto perdão. A cena termina com as consoladoras palavras do Senhor:
“Tua fé te salvou. Vai em paz.” (Lc 7, 50). Recomeça a tua vida com uma nova
esperança.
A fé e a
humildade salvaram aquela mulher do desastre definitivo; com a contrição,
iniciou uma nova vida. E diz São Gregório Magno que “aquela mulher nos
representou a todos os que, depois de termos pecado, nos voltamos de todo o
coração para o Senhor e a imitamos no pranto da penitência”.
Os nossos
piores defeitos e faltas, ainda que sejam muitos e frequentes, não nos devem
desanimar enquanto formos humildes e quisermos voltar arrependidos.
Simão não
se apercebeu das suas faltas, como também não é consciente de que, se não
cometeu mais pecados e mais graves, foi pela misericórdia divina, que o
preservou do mal. “Ama pouco – comenta Santo Agostinho – aquele que é perdoado
em pouco. Tu que dizes não ter cometido muitos pecados, por que não os
cometeste? Sem dúvida porque Deus te conduziu pela mão. Não há nenhum pecado
cometido por um homem que não possa ser cometido por outro, se Deus, que fez o
homem, não o sustenta com a sua mão.
Não podemos
esquecer a realidade das nossas faltas, nem atribuí-las ao ambiente, às
circunstâncias que rodeiam a nossa vida, ou admiti-las como algo inevitável,
desculpando-nos e fugindo da responsabilidade. Se o fizéssemos, fecharíamos as
portas ao perdão e ao reencontro verdadeiro com Deus, tal como aconteceu com o
fariseu. “Mais que o próprio pecado – diz São João Crisóstomo-, o que irrita e
ofende a Deus é que os pecadores não sintam dor alguma dos seus pecados.” E não
pode haver dor se nos desculpamos das nossas fraquezas. Devemos, pelo
contrário, examinar-nos em profundidade, sem nos limitarmos a aceitar
genericamente que somos pecadores. “Não podemos ficar na superfície do mal –
dizia o então Cardeal Wojtyla - ; é preciso chegar à sua raiz, às causas, à
verdade mais profunda da consciência.” Jesus conhece bem o nosso coração e
deseja limpá-lo e purificá-lo.
“Se este
homem fosse um profeta, saberia que tipo de mulher está tocando nele, pois é
uma pecadora” (Lc 7, 39). A caridade e a humildade ensinam-nos a ver nas faltas
e pecados dos outros a nossa própria condição fraca e desvalida, e ajudam-nos a
unir-nos de coração à dor de todo o pecador que se arrepende, porque também nós
cairíamos em faltas iguais ou piores, se a misericórdia de Deus não nos
sustentasse.
Quem nos
livra de nossa dívida é Deus. Só Ele, que criou nossa vida, é capaz de
restaurá-la na sua integridade. Pedir perdão é dar a Deus uma chance para
refazer em nós a obra de seu amor criador. Mas quem pouco ama, não lhe dá esta
chance...
Peçamos à
Virgem Maria, Refúgio dos pecadores, que nos obtenha, do seu Filho, uma dor
sincera dos nossos pecados e um amor maior que as nossas faltas.
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