Tempestade Acalmada
Mons. José Maria
Pereira
No Evangelho (Mc 4, 35-41) São
Marcos narra que Jesus estava com os Apóstolos na barca e aproveitou esses
momentos para descansar, depois de um dia particularmente intenso de pregação.
Era noite. Jesus dormia. Quando ninguém esperava, começou uma ventania muito
forte e as ondas se lançavam dentro da barca, ficando quase cheia de água.
Cheios de medo, os discípulos acordaram Jesus, que com uma simples ordem acalma
aquele temporal. Gritaram: Mestre, estamos perecendo e tu não te importas? E
Jesus: “Silêncio! Cala-te!”. O vento cessou e houve uma grande calmaria.
Às vezes, a tempestade está em
nosso coração. O mar de Tiberíades era pequeno, apenas um lago, contudo lá se
armou uma grande tempestade! Tentações, desânimos, rebeliões: tudo parece
abater-se sobre nós. Salvai-me, ó Deus, porque as águas me vão submergir (Sl
69, 2). É o momento de despertar a fé que o Evangelho nos propõe: Por que sois
tão medrosos? Ainda não tendes fé? É o momento de despertar Jesus que dorme em
nossa mesma barca e dizer-lhe: “Senhor, não te importas que esteja para
afundar?”. Procurar o diálogo com Ele na oração; procura-lo a qualquer custo.
Hoje, Ele também espera este grito para se levantar e agraciar-nos a nós e a
sua Igreja com aquela grande bonança que não significa o fim de toda
dificuldade e de toda contradição, mas antes a paz e a certeza também no meio
das contradições.
O Senhor nunca nos deixará sós. Devemos
aproximar-nos dele e dize-lhe a todo momento, com a confiança de quem o tomou
por Mestre, de quem quer segui-lo sem nenhuma condição: Senhor, não me largues!
E passaremos as tribulações junto dele, e as tempestades deixarão de
inquietar-nos.
Ensina São Josemaria Escrivá: “Se
tiveres presença de Deus, por cima da tempestade que ensurdece, brilhará
sempreo sol no teu olhar; e por baixo das ondas tumultuosas e devastadoras,
reinarão na tua alma a calma e a serenidade” (Forja, 343).
As tribulações, as tempestades...,
devemos aproveitá-las para purificar a intenção, para estar mais unidos ao
Mestre, para nos fortalecermos na fé. Recorda-nos Santo Agostinho: “Cristão, na
tua nave dorme Cristo, desperta-o, que Ele admoestará a tempestade e far-se-á a
calma”. Tudo é para nosso proveito e para o bem das almas. Por isso, basta-nos
estar na companhia do Senhor para nos sentirmos seguros. A inquietação, o medo
e a covardia nascem quando a nossa oração murcha. Deus sabe bem tudo o que se
passa conosco. E se for necessário, admoestará os ventos e o mar, e far-se-á
uma grande bonança. E também nós ficaremos maravilhados, como os Apóstolos.
“O episódio da tempestade acalmada, cuja recordação deve ter devolvido
muitas vezes a serenidade aos Apóstolos no meio das suas lutas e das
dificuldades, serve também a cada alma para nunca perder o ponto de mira
sobrenatural: a vida do cristão é comparável a uma barca: Assim como a nave que
atravessa o mar, comenta Santo Afonso Maria de Ligório, está sujeito a milhares
de perigos, corsários, incêndios, escolhos e tempestades, assim o homem se vê
assaltado na vida por milhares de perigos, de tentações, ocasiões de pecar,
escândalos, ou maus conselhos dos homens, respeitos humanos e sobretudo pelas
paixões desordenadas. Não por isto há que desconfiar nem desesperar-se.Pelo
contrário, quando alguém se vê assaltado por uma paixão incontrolada, ponha os
meios humanos para evitar as ocasiões e apoie-se em Deus: no furor da
tempestade não deixa o marinheiro de olhar para a estrela cuja claridade o terá
de guiar para o porto. De igual modo nesta vida temos sempre de ter os olhos
fixos em Deus, que é o Único que nos há de livrar de tais perigos”.
A Santíssima Virgem não nos
abandona em nenhum momento: “Se se levantarem os ventos das tentações, diz São
Bernardo, olha para a estrela, chama por Maria. Não te extraviarás se a segues,
não desesperarás se lhe rogas, não te perderás se nela pensas. Se ela te
sustenta, não cairás; se te protege, nada terás a temer; se te guia, não te
fatigarás; se te ampara, chegarás ao porto”.
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