Fazer a vontade de Deus
Mons. José Maria Pereira
Jesus foi por toda a Galiléia
pregando o Evangelho nas sinagogas e expulsando os demônios. O fato despertava
tanto entusiasmo entre o povo, que os escribas- incrédulos e perversos-, sem
poder negar tal evidência e não querendo reconhecer em Jesus o Messias,
atribuem o Seu poder à influência de Belzebu. E o Mestre reage a esta
insinuação: “Se, portanto, satanás se levanta contra si mesmo e se divide, não
poderá sobreviver, mas será destruído” (Mc 3, 26).
Jesus
coloca as coisas no seu lugar! Nele trava-se o grande combate entre o bem e o
mal, entre Deus e satanás, o adversário da humanidade. Jesus é mais forte do
que o príncipe dos demônios. Veio a este mundo para combatê-lo. Vence-o no
deserto após o seu batismo; vence-o expulsando os demônios. É Ele o homem forte
que guarda a casa. Tudo isso Ele o faz pelo Espírito Santo e não por algum
espírito imundo.
O
Senhor convida os fariseus, obcecados e endurecidos, a fazer uma consideração
simples: se alguém expulsa o demônio, isto quer dizer que é mais forte do que
ele. É uma exortação a mais a reconhecer em Jesus o Deus “forte”, o Deus que
com o Seu poder liberta o homem da escravidão do demônio. Terminou o domínio de
satanás: o príncipe deste mundo está a ponto de ser expulso. A vitória de Jesus
sobre o poder das trevas, que culmina como na Sua Morte e Ressurreição,
demonstra que a luz está já no mundo. Disse-o o próprio Senhor: “Agora é o
julgamento deste mundo. Agora que o príncipe deste mundo vai ser lançado fora
(cf. Jo 12, 31-32).
Por
isso, acreditar no poder de Cristo Jesus é confiar na misericórdia e no perdão
de Deus. Ele tem o poder de perdoar pecados, pois por sua morte e ressurreição
há de vencer definitivamente a satanás e o pecado. Este é, na verdade, o maior
adversário do ser humano, pois o afasta da comunhão com Deus.
“Saíram
para agarrá-Lo, porque diziam que estava fora de si” (Mc 3 , 21). Alguns de
seus parentes, deixando-se levar por pensamentos meramente humanos,
interpretavam a absorvente dedicação de Jesus ao apostolado como um exagero,
explicável- na sua opinião- apenas por uma perda de juízo. Ao ler estas
palavras do Evangelho pensemos no que Jesus se submeteu por nosso amor:
disseram que Ele tinha “perdido o juízo”. Muitos santos, a exemplo de Cristo,
passarão também por loucos, mas serão loucos de amor, loucos de amor a Jesus
Cristo!
Comunicam
a Jesus que a Sua Mãe e alguns parentes vieram à sua procura. Jesus
respondeu-lhes: “Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e
minha mãe” (Mc 3 , 35). Todos aqueles que, seguindo o Seu exemplo, abraçam a
vontade do Pai e a cumprem, ficam unidos a Ele com vínculos tão íntimos, só
comparáveis aos mais estreitos laços familiares. E desta união a Cristo, na
mesma vontade do Pai, é que se tiram forças para vencer satanás.
Por
isso, a Igreja recorda-nos que a Santíssima Virgem “acolheu as palavras com que
o Filho, pondo o reino acima de todas as relações de parentesco, proclamou
bem-aventurados todos os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática; coisa
que Ela fazia fielmente” (Lumen Gentium, 58).
O
Senhor, pois, nos ensina também que segui-Lo nos leva a compartilhar a Sua vida
até tal ponto de intimidade que consistiu um vínculo mais forte que o familiar.
A
verdadeira família de Jesus é formada pelos que estão ao redor dele e que fazem
a vontade de Deus.
Maria
era mãe duplamente: porque gerou Jesus e porque mais do que ninguém soube fazer
sempre a vontade de Deus.
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