A Paciência de Deus
Mons.
José Maria Pereira
A
Palavra de Deus, em Mt 13, 24 – 43, nos apresenta três parábolas: O trigo e o
joio, o grão de mostarda e o fermento na massa. Na volta da Missão, nota-se a
impaciência dos Apóstolos para com aqueles que não os acolheram: “Queres que
mandemos que desça o fogo do céu para destruí-los?” Jesus critica a pressa dos
Apóstolos contando as três parábolas citadas.
A
parábola (do trigo e do joio) nos revela duas atitudes: a impaciência dos
homens: “Senhor, queres que arranquemos o joio?” – A paciência de Deus: “Deixai
crescer junto até a colheita...”
O
mundo é o campo em que o Senhor semeia continuamente a semente da sua graça:
semente divina que, ao arraigar nas almas, produz frutos de santidade. Com que
amor Jesus nos dá a sua graça! Para Ele, cada homem é único, e, para redimi-lo,
não vacilou em assumir a nossa natureza humana.
A
parábola não perdeu atualidade: muitos cristãos dormiram e permitiram que o
inimigo semeasse a má semente na mais completa impunidade; surgiram erros sobre
quase todas as verdades da fé e da moral.
É
necessário que vigiemos dia e noite, e não nos deixemos surpreender; que
vigiemos para podermos ser fiéis a todas as exigências da vocação cristã, para
não deixarmos prosperar o erro, que leva rapidamente à esterilidade e ao
afastamento de Deus. É necessário que vigiemos sobretudo o nosso coração, sem
falsas desculpas de idade ou de experiência, pois “ o coração é um traidor, e
tem que estar fechado a sete chaves” (Caminho, 188).
Diz
Jesus: “o joio são os filhos do Maligno, e o inimigo, que o semeou, é o
demônio” (Mt 13, 39). O inimigo de Deus e das almas sempre lançou mão de todos
os meios humanos possíveis. Vemos, por exemplo, que ora se desfiguram umas
notícias, ora se silenciam outras; ora se propagam idéias demolidoras sobre o
casamento, por meio dos seriados de televisão de grande alcance, ora se
ridiculariza o valor da castidade e do celibato; defende-se o aborto ou a
eutanásia, ou semeia-se a desconfiança em relação aos sacramentos e se dá uma
visão pagã da vida, como se Cristo não tivesse vindo redimir-nos e lembrar-nos
que o Céu nos espera. E tudo isto com uma constância e um empenho incríveis. O
inimigo não descansa!
A
parábola constitui, pois, um convite universal à vigilância, a não deixar
passar em vão a hora da graça e a estar preparados para a ceifa, porque tal
como o joio é apanhado e queimado no fogo, assim será no fim do mundo”. Então,
“todos os que fazem outros pecar e os que praticam o mal, serão lançados na
fornalha de fogo, enquanto os justos brilharão como o sol no Reino de Seu Pai” (Mt 13, 40-43).
A
abundância do joio só pode ser enfrentada com maior abundância de boa doutrina:
vencer o mal com o bem (Rm 12, 21), com o exemplo da vida e a coerência da
conduta. O Senhor nos chama para que procuremos a santidade no meio do mundo,
no cumprimento dos deveres cotidianos.
O
joio e o trigo estão presentes em toda parte: Mesmo em nossas comunidades
cristãs vemos presente tanto joio de desunião, de inveja, de fofocas...
Fiquemos
atentos pois, dentro de cada um de nós, há trigo e joio! Peçamos ao Senhor para
que sejamos trigo de amor, dedicação e colaboração. Que seja afastado de nós o
joio de ódio, discórdia, calúnia...
É
preciso saber valorizar a semente de trigo presente no coração de cada pessoa;
cultivá-la com paciência e profundo respeito. Respeitar o processo de
amadurecimento de cada pessoa, usando de paciência.
Para
que possamos transformar o joio em trigo, devemos ser a semente de mostarda,
pequena, insignificante, mas que cresce até aninhar os pássaros em seus ramos.
Devemos ser o fermento, que leveda toda a massa da farinha, o mundo em que
vivemos...
O
fermento é também figura do cristão! Vivendo no meio do mundo, sem se
desnaturalizar, o cristão conquista com o seu exemplo e com a sua palavra as
almas para o Senhor. Ensinava São Josemaria Escrivá: “A nossa vocação de filhos
de Deus, no meio do mundo, exige-nos que não procuremos apenas a nossa
santidade pessoal, mas que vamos pelos caminhos da terra, para convertê-los em
atalhos que, através dos obstáculos, levem as almas ao Senhor; que
participemos, como cidadãos normais e correntes, em todas as atividades temporais,
para sermos levedura que há de fermentar toda a massa” (Cristo que passa, nº
120).
Somos
convidados a imitar a misericórdia do Pai celeste, aceitando pacientemente as
dificuldades provenientes da convivência com os inimigos do bem e tratá-los com
bondade fraterna na esperança de que, vencidos pelo amor, mudem de
comportamento. Deve-se recorrer também à oração, para que o Senhor defenda os
seus filhos de serem contagiados. “Que o Espírito Santo venha em auxílio de
nossa fraqueza, pois não sabemos o que pedir... É que o Espírito intercede
pelos cristãos de acordo com a vontade de Deus” (Rm 8, 26-27). Há que deixar em
Suas mãos a causa do bem!
Nenhum comentário:
Postar um comentário