Jesus e o Cego
Mons. José Maria
Pereira
Celebrando o 4º Domingo da Quaresma,
o Evangelho (Jo 9, 1-41) nos apresenta o tema da Luz. Jesus unge os olhos do
cego de nascença com lama feita a partir da saliva. Jesus como que inicia com
um rito. Toca os olhos do cego, concedendo-lhe a visão. E, aos poucos no
diálogo com ele, vai-lhe despertando a fé. E o cego acaba vendo, à luz da fé,
que Jesus é o Filho do Homem. Acaba dando testemunho dele. A cura
do cego descreve o processo da fé de um homem, que vai passando das trevas da
cegueira, para a luz da visão, e desta para a Luz da fé em Cristo. O
“Cego” é um símbolo de todos os homens que renascem pela fé, acolhendo Jesus
(no Batismo) e deixando-se conduzir pela sua palavra. Tudo começa por uma pergunta dos
discípulos a Jesus: “Por que esse homem nasceu cego?” ”Quem pecou para que
nascesse cego: ele ou seus pais?” (Jo 9,2). Jesus responde: “Nem ele, nem seus
pais pecaram...” (Jo 9,3). Com essa resposta Jesus lembra o que os profetas já
combatiam que era uma crença popular antiga que pensavam que o cego estava
pagando pelos seus pecados ou dos seus antepassados. Trata-se de uma crença
errada, semelhante ao absurdo da reencarnação. Esta é uma crença espírita, não
é cristã. A Palavra de Deus nos diz: “os homens morrem uma só vez, depois vem o
juízo” (Hb 9,27). A reencarnação é uma injustiça! É negar a obra redentora de
Cristo e afirmar que é o próprio homem que se salva, por etapa, cada vez mais
que se reencarna. É a onda do reciclável, como lixo. “Nem ele, nem
seus pais pecaram...”. Com isso Jesus quer nos ensinar que os segredos da vida
pertencem a Deus! Se crermos no seu amor, se nos abandonarmos nas suas mãos, a
maior dor, o mais inexplicável sofrimento pode ser confortado pela certeza de
que Deus está conosco e nos fortalece. “Se Deus é por nós, quem será contra
nós?” Até na dor e no sofrimento Deus está presente. O
mundo hedonista, consumista e superficial não compreende isso! O cego é questionado
pelas autoridades sobre a origem de Jesus. E ele mostra-se livre (diz o que
pensa...); corajoso (não se intimida); sincero (não renuncia à verdade);
suporta a violência( é expulso da Sinagoga). Antes de se encontrar com Jesus, o
cego é um homem prisioneiro das “trevas”, dependente e limitado. “Não sabe quem
o curou...” Finalmente,
encontrando-se com Jesus, que lhe pergunta: “Acreditas no Filho do Homem”,
manifesta a sua adesão total: “Creio, Senhor”. Prostra-se e O adora. O caminho
de fé do cego é um itinerário para todo cristão! São
Josemaria Escrivá, em Amigos de Deus, nº 193, diz: “Que belo exemplo de firmeza
na fé nos dá este cego! Uma fé viva, operativa. É assim que te comportas com os
mandatos de Deus, quando muitas vezes estás cego, quando nas preocupações da
tua alma se oculta a luz? Que poder continha a água, para que os olhos ficassem
curados ao serem umedecidos? Teria sido
mais adequado um colírio desconhecido, um medicamento precioso preparado no
laboratório de um sábio alquimista. Mas aquele homem crê, põe em prática o que Deus lhe ordena e volta com
os olhos cheios de claridade”. Nesta
Quaresma, somos convidados a viver a experiência catecumenal, renovando o nosso
Batismo, mediante o Sacramento da Penitência (Confissão). Quanto mais
buscamos Jesus como Luz, mais nossa vida terá sentido. O nosso comportamento de
cristão deve ser testemunho do Batismo recebido; devemos testemunhar com as
obras que Cristo é para nós, não apenas luz da mente, mas também luz da vida.
Não são as obras das trevas - o pecado- as que correspondem a um batizado, mas
sim as obras da luz. Como
o cego, após o encontro com Jesus, iluminado, manifestemos a alegria de sermos
cristãos! “A
alegria do discípulo não é um sentimento de bem estar egoísta, mas uma certeza
que brota da fé, que serena o coração e capacita para anunciar a boa nova do
amor de Deus. Conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode
receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas e fazê-lo
conhecido com nossa palavra e obras é a nossa alegria” (DA, 29). “
Ó Deus, luz de todo o ser humano que vem a este mundo, iluminai nossos corações
com o esplendor da vossa graça, para pensarmos sempre o que vos agrada e amar-vos
de todo o coração.”