As Tentações de Jesus!
Mons. José
Maria Pereira
O 1º Domingo
da Quaresma nos apresenta todos os anos o mistério do jejum de Jesus no
deserto, seguido das tentações (cf. Mt 4, 1-11).
Quaresma é
para nós um tempo forte de conversão e renovação em preparação à Páscoa. É
tempo de rasgar o coração e voltar ao Senhor. Tempo de retomar o caminho e de
se abrir à graça do Senhor, que nos ama e nos socorre. É um tempo sagrado para
aprofundar o Plano de Deus e rever a nossa vida cristã. E nós somos convidados
pelo Espírito ao DESERTO da Quaresma para nos fortalecer nas TENTAÇÕES, que
freqüentemente tentam nos afastar dos planos de Deus.
A Quaresma
comemora os quarenta dias que Jesus passou no deserto, como preparação para
esses anos de pregação que culminam na CRUZ e na glória da Páscoa. Quarenta
dias de oração e de penitência que, ao findarem, desembocam na cena que Mateus
narra no cap. 4, 1-11. É uma cena cheia de mistério, que o homem em vão pretende
entender – Deus que se submete à tentação, que deixa agir o Maligno –, mas que
pode ser meditada se pedirmos ao Senhor que nos faça compreender a lição que
encerra.
É a primeira
vez que o demônio intervém na vida de Jesus, e faz isto abertamente. Põe à
prova Nosso Senhor; talvez queira averiguar se chegou a hora do Messias. Jesus
deixa-o agir para nos dar exemplo de humildade e para nos ensinar – diz São
João Crisóstomo –, quis também ser conduzido ao deserto e ali travar combate
com o demônio a fim de que os batizados, se depois do batismo sofrem maiores
tentações, não se assustem com isso, como se fosse algo de inesperado. Se não
contássemos com as tentações que temos de sofrer, abriríamos a porta a um
grande inimigo: o desalento e a tristeza.
A narrativa
das tentações que Jesus sofreu mostra que Jesus “foi experimentado em tudo” (Hb
4, 15), comprovando também a veracidade da Encarnação do Verbo de Deus.
Diz Santo
Agostinho que, na sua passagem por este mundo nossa vida não pode escapar à
prova da tentação, dado que nosso progresso se realiza pela prova. De fato,
ninguém se conhece a si mesmo sem ser experimentado, e não pode ser coroado sem
ter vencido, e não pode vencer, se não tiver combatido e não pode lutar se não
encontrou o inimigo e as tentações.
Por isso, a
existência do ser humano nesta terra é uma batalha contínua contra o mal. É
esta luta contra o pecado, a exemplo de Cristo, que devemos intensificar nesta
Quaresma; luta que constitui uma tarefa para a vida toda.
O demônio
promete sempre mais do que pode dar. A felicidade está muito longe das suas
mãos. Toda a tentação é sempre um engano miserável! Mas, para nos experimentar,
o demônio conta com as nossas ambições. E a pior delas é desejar a todo o custo
a glória pessoal; a ânsia de nos procurarmos sistematicamente a nós mesmos nas
coisas que fazemos e projetamos. Muitas vezes, o pior dos ídolos é o nosso
próprio eu. Temos que vigiar, em luta constante, porque dentro de nós permanece
a tendência de desejar a glória humana, apesar de termos dito ao Senhor que não
queremos outra glória que não a dEle. Jesus também se dirige a nós quando diz:
“Adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás”. E é isto o que nós desejamos
e pedimos: servir a Deus, alicerçados na vocação a que Ele nos chamou.
O Senhor está
sempre ao nosso lado, em cada tentação, e nos diz afetuosamente: “Confiai: Eu
venci o mundo” (Jo16, 33). E com o salmista podemos dizer: “O Senhor é a minha
luz e a minha salvação; a quem temerei?” (Sl 26, 1).
“Procuremos
fugir das ocasiões de pecado, por pequenas que sejam, pois aquele que ama o
perigo nele perecerá” (Eclo 3, 27). Como Jesus nos ensinou na oração do Pai
Nosso: “Não nos deixeis cair em tentação”; é necessário repetir muitas vezes e
com confiança essa oração!
Contamos sempre
com a graça de Deus para vencer qualquer tentação. Usemos as armas para
vencermos na batalha espiritual, que são: a oração contínua, a sinceridade com
o diretor espiritual, a Eucaristia, o sacramento da Confissão (Penitência), um
generoso espírito de mortificação cristã, a humildade de coração e uma devoção
terna e filial a Nossa Senhora.
No caminho de
conversão quaresmal, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil nos apresenta
a Campanha da Fraternidade com o tema Tráfico Humano e Fraternidade. O lema é
inspirado na carta de S. Paulo aos Gálatas: “ É para a liberdade que Cristo nos
libertou” (5,1).
A situação do
Tráfico humano no país e no mundo é alarmante: a Organização Internacional do
Trabalho atenta para o aumento de vítimas do tráfico humano, do trabalho
forçado e do tráfico para a exploração sexual.
De acordo com
o site da Organização das Nações Unidas, no Brasil, o tráfico de pessoas faz
cerca de 2,5 milhões de vítimas por ano, incluindo homens, mulheres e crianças,
mas principalmente pessoas vulneráveis e carentes, psicologicamente e de
recursos.
Na mensagem da
Quaresma, o Santo Padre o Papa Francisco diz: “À imitação do Mestre, nós
cristãos, somos chamados a ver as misérias dos irmãos, a tocá-las, a ocupar-nos
delas e a trabalhar concretamente para as aliviar. O nosso compromisso
orienta-se também para fazer com que cessem no mundo as violações da dignidade
humana, as discriminações e os abusos, que, em muitos casos, estão na origem da
miséria. Quando o poder, o luxo e o dinheiro se tornam ídolos, acabam por se
antepor à exigência duma distribuição equitativa das riquezas. Portanto, é
necessário que as consciências se convertam à justiça, à igualdade, à
sobriedade e à partilha.
Queridos
irmãos e irmãs, possa este tempo de Quaresma encontrar a Igreja inteira pronta
e solícita para testemunhar, a quantos vivem na miséria material, moral e
espiritual, a mensagem evangélica, que se resume no anúncio do amor do Pai
misericordioso, pronto a abraçar em Cristo toda pessoa. E poderemos fazê-lo na
medida em que estivermos configurados com Cristo, que Se fez pobre e nos
enriqueceu com a sua pobreza. A Quaresma é um tempo propício para o
despojamento; e far-nos-á bem questionar-nos acerca do que nos podemos privar a
fim de ajudar e enriquecer a outros com a nossa pobreza. Não esqueçamos que a
verdadeira pobreza dói: não seria válido um despojamento sem esta dimensão
penitencial. Desconfio da esmola que não custa nem dói.
Pedimos a
graça do Espírito Santo que nos permita ser “tidos por pobres, nós que enriquecemos
a muitos; por nada tendo e, no entanto, tudo possuindo” (2 Cor 6,10). Que Ele
sustente estes nossos propósitos e reforce em nós a atenção e solicitude pela
miséria humana, para nos tornarmos misericordiosos e agentes de misericórdia.
Com estes votos, asseguro a minha oração para que cada crente e cada comunidade
eclesial percorra frutuosamente o itinerário quaresmal, e peço-vos que rezeis
por mim. Que o Senhor vos abençoe e Nossa Senhora vos guarde!”(Papa Francisco).
Vale a pena
fazer nossa, a oração da coleta do 1° Domingo da Quaresma: “Concedei-nos, ó
Deus onipotente, que, ao longo desta Quaresma, possamos progredir no
conhecimento de Jesus Cristo e corresponder a seu amor por uma vida santa.”
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