O FIM do Mundo
Mons. José
Maria Pereira
Estamos
no penúltimo domingo do Ano Litúrgico. A Palavra de Deus convida-nos a meditar
no fim último do homem, no seu destino além da morte. A meta final, para onde
Deus nos conduz, faz nascer em nós a esperança e a coragem para enfrentar as
adversidades e lutar pelo Advento do Reino.
O
Profeta Malaquias fala do juízo final, com acentos fortes: “Eis que virá o dia,
abrasador como fornalha...” (Ml 3, 19)
O
texto não pretende incutir medo, falando do “fim do mundo”, mas fortalecer a
esperança em Deus para enfrentar os dramas da vida e da história; esperança que
devemos ter ainda hoje, apesar do que vemos...
São
Paulo (2Ts 3, 7-12) fala da comunidade de Tessalônica, perturbada por fanáticos
que pregavam estar próximo o fim do mundo. Por isso não valia a pena continuar
trabalhando. Paulo diz: “Quem não quer trabalhar, também não deve comer...”
(2Ts 3, 10).
A
vida é realmente muito curta e o encontro com Jesus está próximo. Isto
ajuda-nos a despreender-nos dos bens que temos de utilizar e aproveitar o
tempo; mas não nos exime de maneira nenhuma de dedicar-nos plenamente à nossa
profissão no seio da sociedade. Mais ainda: é com os nossos afazeres terrenos,
ajudados pela graça, que temos de ganhar o Céu.
Para
imitar Cristo, que trabalhou como artesão a maior parte de sua vida, longe de
descuidar as tarefas temporais, os cristãos “estão mais obrigados a cumpri-los,
por causa da própria fé, de acordo com a vocação a que cada um foi chamado (GS,
43).
O
trabalho é o meio ordinário de subsistência e o campo privilegiado para o
desenvolvimento das virtudes humanas: a rijeza, a constância, o otimismo por
cima das dificuldades... A fé cristã impele-nos além disso a comporta-nos como
filhos de Deus com os filhos de Deus, a viver um espírito de caridade, de
convivência, de compreensão, a tirar da vida o apego à nossa comodidade, a
tentação do egoísmo, a tendência para a exaltação pessoal, a mostrar a caridade
de Cristo e os seus resultados concretos de amizade, de compreensão, de afeto
humano, de paz. Pelo contrário, a preguiça, a ociosidade, o trabalho mal
acabado trazem graves conseqüências. “A ociosidade ensina muitas maldades”
(Eclo 33, 29), pois impede a perfeição humana e sobrenatural do homem,
debilita-lhe o caráter e abre as portas à concupiscência e a muitas tentações.
Durante
séculos, muitos pensavam que, para serem bons cristãos, bastava-lhes uma vida
de piedade sem conexão alguma com as suas ocupações profissionais no
escritório, na fábrica, no campo, na Universidade... Muitos tinham, além disso,
a convicção de que os afazeres temporais, os assuntos profanos em que o homem
está imerso de uma forma ou de outra eram um obstáculo para o encontro com Deus
e para uma vida plenamente cristã. A vida oculta de Jesus veio ensinar-nos o
valor do trabalho, da unidade de vida, pois com o seu trabalho diário o Senhor
estava também redimindo o mundo.
O
fiel cristão não deve esquecer que, além de ser cidadão da Terra, também o é do
Céu, e por isso deve comportar-se entre os outros de uma maneira digna da
vocação a que foi chamado, sempre alegre, irrepreensível e simples,
compreensivo com todos, bom trabalhador e bom amigo, aberto a todas as
realidades autenticamente humanas (cf. Fl. 1, 27; 2, 3-4; 2, 15; 4,4).
Jesus
(Lc, 21, 5-19) alerta sobre os falsos profetas: “Cuidado para não serdes
enganados...” (Lc 21, 8). Diante das catástrofes Jesus exorta à esperança: não
ter medo... Esses sinais de desagregação do mundo velho não devem assustar,
pelo contrário são anúncio de alegria e esperança, de que um mundo novo está
por surgir. “Quando essas coisas começarem a acontecer, levantem-se, ergam a
cabeça, porque a libertação está próxima” (Lc 21, 28).
“É
permanecendo firmes que ireis ganhar a vida” (Lc 21, 19). Aproveitemos o
tempo!... Diante das dificuldades não nos deixemos levar pelo desânimo!
Acreditemos na Vitória final do Reino de Cristo.
Na
nossa vida cotidiana, no exercício da nossa profissão, encontraremos
naturalmente, sem assumir ares de mestres, inúmeras ocasiões de dar a conhecer
a doutrina de Cristo: numa conversa amigável, no comentário a uma notícia que
está na boca de todos, ao escutarmos a confidência de um problema pessoal ou
familiar... O Anjo da Guarda, a quem tantas vezes recorremos, porá na nossa
boca a palavra certa que anime, que ajude e facilite, talvez com o tempo, a
aproximação mais direta de Cristo das pessoas que trabalham conosco.
Cristo
nos garante: “Coragem, levantai a cabeça, porque se aproxima a libertação”.
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