Homilia do Mons. José Maria – XXIX Domingo do Tempo Comum (Ano C)
A Oração da Viúva
O Evangelho (Lc 18, 1-8) realça três aspectos
quanto à oração: a oração como expressão da fé em Deus; a presença da oração em
toda a vida da pessoa e a perseverança nela.
Jesus narra a parábola do juiz injusto e da
viúva. Trata-se de um juiz que “não temia a Deus nem respeitava os homens” e
que não quer saber nada de uma pobre viúva que a ele recorre exigindo justiça;
por fim, cede às suas incessantes súplicas para que ela não o continue a
incomodar. Deste exemplo Jesus tira uma lição: fazer compreender que Deus,
muito melhor que o juiz injusto, escutará as súplicas de quem a Ele recorre
confiadamente.
Santo Agostinho, ao comentar esta passagem do
Evangelho, ressalta a relação que existe entre a fé e a oração confiante: “Se a
fé fraqueja, a oração perece; pois a fé é a fonte da oração e o rio não pode
fluir se o manancial fica seco”. A nossa oração tem de ser contínua e confiada,
como a de Jesus, nosso Modelo: “Pai, eu sei que sempre me ouves” (Jo 11, 42).
Ele nos escuta sempre.
Não devemos cansar-nos de orar! E se alguma vez o
desalento e a fadiga começam a atingir-nos, temos que pedir aos que estão ao
nosso lado que nos ajudem a continuar a rezar, sabendo que já nesse momento o
Senhor nos está concedendo muitas outras graças, talvez mais necessárias do que
os dons que lhe pedimos.
Examinemos hoje se a nossa oração é perseverante,
confiada, insistente. “Persevera na oração, como aconselha o Mestre. Esse ponto
de partida será a origem da tua paz, da tua alegria, da tua serenidade e,
portanto, da tua eficácia sobrenatural e humana” (São Josemaria Escrivá, Forja,
nº 536). Não há nada que uma oração perseverante não alcance!
Na parábola, ao juiz o Senhor contrapõe uma
viúva, símbolo da pessoa indefesa e desamparada. E à sua insistência
perseverante em pedir justiça, a resistência do juiz em atendê-la. O final
inesperado acontece depois de um contínuo ir e vir da viúva e das reiteradas
negativas do juiz. Este acaba por ceder, e a parte mais fraca obtém o que
desejava. Mas a razão desta vitória não está em que o coração do administrador
da justiça mudou: a única arma que conseguiu a vitória foi a oração incessante,
a insistência da mulher! E o Senhor conclui com uma reviravolta: “E Deus, não
fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por Ele? Será que vai
fazê-los esperar?” (Lc 18, 7). Jesus faz ver que o centro da parábola não é o
juiz injusto, mas Deus, cheio de misericórdia, paciente e imensamente zeloso
pelos seus.
O Senhor explica nesta parábola que são três as
razões pelas quais as nossas orações são sempre ouvidas: primeiro, a bondade e
a misericórdia de Deus, que distam tanto das disposições do juiz ímpio; depois,
o amor de Deus por cada um dos seus filhos; e por fim, o interesse que nós
mostramos perseverando na oração.
“É preciso reconhecer humilde e realmente que
somos frágeis e débeis, com necessidade contínua de força interior e de
consolação. A oração dá força para os grandes ideais, para manter a fé, a
caridade, a pureza, a generosidade; a oração dá ânimo para sair da indiferença
e da culpa, se por desgraça se cedeu à tentação e à debilidade; a oração dá luz
para ver e julgar os acontecimentos da própria vida e da própria história na
perspectiva salvífica de Deus e da eternidade. Por isso, não deixeis de orar!
Não passe um dia sem que tenhais orado um pouco! A oração é um dever, mas
também é uma grande alegria, porque é um diálogo com Deus por meio de Jesus
Cristo! Cada domingo a Santa Missa e, se vos é possível, alguma vez também
durante a semana; cada dia as orações da manhã e da noite e nos momentos mais
oportunos!” (Papa João Paulo II, Aos Jovens, 14/03/1979).
Ao terminar a parábola, Jesus acrescenta: “Mas o
Filho do Homem, quando vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?”
(Lc 18, 8). Por ventura encontrará uma fé semelhante à da viúva? Trata-se de
uma fé concreta: a fé dos filhos de Deus na bondade e no poder do seu Pai do
Céu. O homem pode fechar-se a Deus, não sentir necessidade dEle, procurar por
outros caminhos a solução para as suas deficiências, e então jamais encontrará
os bens de que necessita.
Uma conseqüência direta da fé é a oração, mas, ao
mesmo tempo, “a oração dá maior firmeza à própria fé. Ambas estão perfeitamente
unidas. Por isso, quando pedimos, acabamos por ser melhores; se não fosse
assim, não nos tornaríamos mais piedosos, mas mais avaros e ambiciosos”, diz
Santo Agostinho.
Neste mês de outubro, não deixemos de servir-nos
do Santo Rosário como oração sempre eficaz para conseguir através de Nossa
Senhora, tudo aquilo de que precisamos, nós e as pessoas que de alguma maneira
dependem de nós. Não separemos a oração da vida, da ação! Tudo pode ser
impregnado da presença de Deus. E isto é oração!
Mons. José Maria Pereira
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