terça-feira, 15 de outubro de 2013

Homilia Dominical, 13/10/2013.

Em Tudo Dai Graças!
Mons. José Maria Pereira



Vivemos num mundo em que a vida humana transformou-se num grande comércio onde tudo se compra e tudo se paga... É a época do descartável! Diante dessa realidade, muitos perderam o valor da gratuidade e da gratidão.
“Obrigado”  é uma palavra tão simples, mas tão esquecida por muitos!
No Evangelho (Lc. 17, 11-19) Jesus cura dez leprosos, mas apenas um volta para agradecer.
Na sua última viagem a Jerusalém, Jesus passava entre a Samaria e a Galiléia; saíram-Lhe ao encontro dez leprosos que se detiveram a certa distância do lugar em que se encontravam o Mestre e o grupo que o acompanhava, pois a lei proibia que esses doentes se aproximassem das pessoas. Entre os leprosos contava-se um samaritano, apesar de não haver trato entre os judeus e os samaritanos, dada a inimizade secular que separava os dois povos; mas a desgraça unira-os, como acontece tantas vezes na vida.
Eles gritam de longe: “Jesus, mestre, tem compaixão de nós...”
Jesus se compadece e os manda se apresentarem aos sacerdotes, que eram os responsáveis para comprovar a cura e liberar a reintegração na Comunidade.
Os dez obedecem e no caminho se vêem curados; mas só um volta para agradecer... e era um samaritano, considerado estrangeiro e desprezado pelos judeus...
Cristo questiona: “Não foram dez os curados? Onde estão os outros nove? E acrescenta: Levanta-te e vai. TUA FÉ te salvou.”
Estes leprosos ensinam-nos a pedir: recorrem à misericórdia divina, que é fonte de todas as graças. E mostra-nos o caminho da cura, seja qual for a lepra que tenhamos na alma: ter fé e sermos dóceis àqueles que, em nome do Mestre, nos indicam o que devemos fazer.
Imaginemos o samaritano correndo, glorificando a Deus em voz alta; e foi prostrar-se aos pés do Mestre, dando-lhe graças.
Foi uma ação profundamente humana e cheia de beleza. Dizia Santo Agostinho: “Que coisa melhor podemos trazer no coração, pronunciar com a boca, escrever com a pena, do que estas palavras: “graças a Deus”? Não há nada que se possa dizer com maior brevidade, nem ouvir com maior alegria, nem sentir com maior elevação, nem realizar com maior utilidade.” A gratidão é uma das virtudes que enobrecem a pessoa humana. Desde criança, fomos educados a agradecer os favores recebidos. A gratidão é uma atitude que brota do coração de quem se sente amado pelo amor de Deus...
“Não foram dez os curados? E os outros nove, onde estão?” Quantas vezes Jesus não terá perguntado por nós, depois de tantas graças!
Com freqüência, temos melhor memória para as nossas necessidades e carências do que para os nossos bens. Vivemos pendentes daquilo que nos falta, e reparamos pouco naquilo que temos, e talvez seja por isso que ficamos aquém no nosso agradecimento. Pensamos que temos pleno direito ao que possuímos e esquecemo-nos do que diz Santo Agostinho: “Nada é  nosso, a não ser o pecado que possuímos. Pois que tens tu que não tenhas recebido? (1Cor 4, 7).”
Toda a nossa vida deve ser uma contínua ação de graças. Lembrai-vos das maravilhas que Ele fez, exorta o salmista. O samaritano, através do seu mal, pôde conhecer Jesus Cristo e por ser agradecido conquistou a sua amizade e o incomparável dom da fé: ...Tua fé te salvou.
Saibamos agradecer a tantas pessoas que tornaram nossa vida mais feliz: nossos pais, nossos professores, o padre, o médico, o catequista, os colegas de estudo, de trabalho, de esporte e de tantos outros.
Também  é significativo que fosse um estrangeiro quem voltasse para agradecer. Isso recorda-nos que, por vezes, cuidamos de agradecer um serviço ocasional prestado por uma pessoa desconhecida, e ao mesmo tempo não sabemos dar importância às contínuas delicadezas e atenções que recebemos dos mais próximos.
Não existe um só dia em que Deus não nos conceda alguma graça particular e extraordinária! Em todos os momentos saibamos dizer: “Obrigado, Senhor, por tudo.”
Não podemos esquecer-nos de que na vida das criaturas humanas tudo é  dom de Deus, tudo é graça, tudo é benção de Deus.
Ensina São Paulo: “Em todas as circunstâncias dai graças...” (1Ts 5, 18).
Já  dizia Sêneca: “Só os espíritos bem formados são capazes de cultivar a gratidão.”
Importantíssimo é educar-nos para esta atitude de ação de graças.


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