O Distintivo do Cristão
Mons. José Maria Pereira
O Evangelho
(Jo 13, 31-35) refere-se ao momento em que, após ter anunciado a traição de
Judas, Jesus fala da sua glorificação como se tratasse de uma realidade já
presente, vinculada à Sua Paixão: “Agora foi glorificado o Filho do Homem, e
Deus foi glorificado nele” (Jo 13, 31). O contraste é chocante, mas apenas
aparente; na verdade, aceitando ser atraiçoado e entregue à morte para a
salvação dos homens, Jesus cumpre a missão que recebera do Pai e isto constitui
o motivo preciso da Sua glorificação.
Jesus
continuará no meio de seus discípulos pelo amor com que os amou e que lhes
deixa como herança para que vivam nele e o realizem sempre nas suas relações
mútuas. “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos
amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros” (Jo 13, 34). O amor
recíproco, ajustado ao amor do Mestre, ou melhor, nascido dele, garante, à
comunidade cristã a presença de Jesus, da qual é autêntico sinal. Ao mesmo tempo,
é o distintivo dos verdadeiros cristãos: “Nisto todos conhecerão que sois meus
discípulos, se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13, 35). Deste modo, a vida da
Igreja começou amparada numa força de coesão e de expansão totalmente nova e
dotada de um poder extraordinário porque fundamentada, não no amor humano que é
sempre frágil e falível, mas no amor divino: o amor de Cristo revivido nas
mútuas relações dos que creem.
Jesus deixa
um Mandamento Novo: “Amai-vos uns aos outros, COMO eu vos amei.”
Este anúncio
nos é dado num contexto pascal, para nos dizer que é da Páscoa de Cristo que
floresceu toda novidade. Cristo foi ressuscitado dos mortos... Por isso também
nós caminhamos numa vida nova (Rm 6, 4). A Páscoa é a renovação do mundo, uma
passagem da velhice para a juventude, que não é uma juventude de idade, mas de
simplicidade. “Tínhamos caído na velhice do pecado, mas pela ressurreição de
Cristo fomos renovados na inocência das crianças” (São Máximo de Turim).
A novidade
é o amor.
No Antigo
Testamento o mandamento do amor já era conhecido; no Novo Testamento Jesus diz
“o meu mandamento”.
Agora, com
Jesus, este mandamento se torna possível. Antes, se existia, era pura teoria,
um ideal abstrato; era algo completamente diferente. Certamente existiram
homens que tinham se amado antes de Cristo; mas por quê? Porque eram parentes
entre eles, porque eram aliados, amigos, pertenciam ao mesmo clã ou ao mesmo
povo. Agora é preciso ir além: amar a quem nos persegue, amar os inimigos,
aqueles que não nos saúdam e não nos amam (Cf. Mt 5, 43-48).
Amar, isto
é, os irmãos por si mesmos e não porque me podem ser úteis. É a palavra
“próximo” que mudou de sentido; o conteúdo desse termo se ampliou de modo a
compreender não só o vizinho, mas todo homem do qual tu podes te aproximar (ex.
a parábola do Bom Samaritano).
Jesus viveu
esse amor até as últimas consequências: até amar-nos assim com somos, primeiro,
e a se identificar conosco diante do Pai, a nos perdoar e a morrer por nós.
Amou-nos de verdade até o fim (Jo 13, 1), onde “fim” não indica somente até o
fim da vida, mas também até o extremo limite do possível, a totalidade, o que
ele proclamou na Cruz quando disse: “Tudo está consumado” (Jo 19,30).
O
mandamento de Jesus é novo também por outro motivo: porque renova! Ele é de tal
modo que muda a face da terra, transforma as relações humanas, como aquele
fermento do qual fala Jesus, que, introduzido na massa, a faz fermentar toda,
levantando-a de sua inércia.
A novidade
está na medida desse amor: “COMO EU vos tenho amado...”
O amor de
que Jesus fala é o amor que acolhe, que se faz serviço, que respeita a
dignidade e a liberdade do outro, que se faz dom total (até à morte) para que o
outro tenha mais vida.
A proposta
cristã resume-se no amor. O amor é o distintivo, que nos identifica... Que em
nossos gestos as pessoas possam descobrir a presença do Amor de Deus no mundo!
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