"A cruz de Cristo é motivo de esperança para todos" Papa Bento XVI. |
Carregar a Cruz
Mons. José Maria
Pereira (SCE - ENS)
Jesus está a
caminho de Jerusalém. E enquanto caminhava perguntou, em tom familiar, aos
discípulos que O acompanhavam: “Quem dizem os homens que eu sou?” (Mc 8,27-35).
E eles, com simplicidade, contaram-lhe o que lhes chegava aos ouvidos: “Alguns
dizem que tu és João Batista; outros que és Elias... Então Ele voltou a
interrogá-los: “E vós, quem dizeis que eu sou?”
Jesus
explicava aos discípulos que a sua Missão messiânica passa pela Cruz.
Pedro
reage e tenta afastar Jesus do Plano do Pai.
Jesus
lhe responde: “Vai para longe de mim, satanás!
Porém,
antes Pedro dissera: “Tu és o Messias.”
Os
Apóstolos, pela boca de Pedro, deram a Jesus a resposta certa depois de dois
anos de convivência e trato. Nós, como eles, “temos de percorrer um caminho de
escuta atenta, diligente. Temos de ir à escola dos primeiros discípulos, que
são as suas testemunhas e os nossos mestres, e ao mesmo tempo temos de receber
a experiência e o testemunho nada menos que de vinte séculos de história
sulcados pela pergunta do Mestre e enriquecidos pelo imenso coro das respostas
dos fiéis de todos os tempos e lugares” (Beato João Paulo II).
Também
nós que estamos seguindo o Mestre devemos examinar hoje, na intimidade do nosso
coração, o que Cristo significa para nós. Digamos como São Paulo: “As coisas
que eram lucros para mim, considerei-as prejuízo por causa de Cristo. Mais que
isso, julgo que tudo é prejuízo diante deste bem supremo que é o conhecimento
do Cristo Jesus, meu Senhor. Por causa dele, perdi tudo e considero tudo como
lixo, a fim de ganhar Cristo e ser encontrado unido a Ele.” (Fl 3,7-9).
A
primeira preocupação do cristão deve, pois, consistir em viver a vida de
Cristo, em incorporar-se a Ele, como os ramos à videira. O ramo depende da
união com a videira, que lhe envia a seiva vivificante; separado dela, seca e é
lançado ao fogo.
Diz
Jesus: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me
siga.”
Quando
Jesus disse “se alguém quer vir após Mim...”, tinha presente que o cumprimento
da Sua missão O levaria à morte de cruz; por isso fala claramente da Sua
Paixão. Mas também a vida cristã, vivida como se deve viver, com todas as suas
exigências, é uma cruz que se deve levar em seguimento de Cristo.
As
palavras de Jesus, que devem ter parecido assustadoras àqueles que as
escutavam, dão a medida do que Cristo exige para O seguir. Jesus não pede um
entusiasmo passageiro, nem uma dedicação momentânea; o que pede é a renúncia de
si mesmo, o carregar cada um a sua cruz e o segui-Lo. Porque a meta que o
Senhor quer para os homens é a vida eterna. O texto do Evangelho de hoje mostra
o destino eterno do homem. À luz dessa vida eterna é que deve ser avaliada a
vida presente! A vida terrena não tem um caráter definitivo, nem absoluto, mas
é transitória, relativa; é um meio para conseguir aquela vida definitiva do
Céu. “Tudo isso, que te preocupa de momento, é mais ou menos importante.- o que
importa acima de tudo é que sejas feliz, que te salves” (Caminho, 297).
“Há
no ambiente uma espécie de medo da Cruz, da Cruz do Senhor. Tudo porque
começaram a chamar cruzes a todas as coisas desagradáveis que acontecem na
vida, e não sabem aceitá-las com sentido de filhos de Deus, com visão
sobrenatural!”
A exigência do
Senhor inclui renunciar à própria vontade para identificá-la com a de Deus, não
aconteça que, como comenta São João da Cruz, tenhamos a sorte de muitos “que
queriam que Deus quisesse o que eles querem, e entristecem-se de querer o que
Deus quer, e têm repugnância em acomodar a sua vontade à de Deus. Disto vem que
muitas vezes, no que não acham a sua vontade e gosto, pensam não ser da vontade
de Deus e, pelo contrário, quando se satisfazem, creem que Deus Se satisfaz,
medindo também a Deus por si, e não a si mesmos por Deus” (Noite Escura, liv.
I, Cap. 7, nº. 3).
O fim do homem
não é ganhar os bens temporais deste mundo, que são apenas meios ou
instrumentos; o fim último do homem é o próprio Deus, que é possuído como
antecipação aqui na terra pela Graça, e plenamente e para sempre na Glória.
Jesus indica qual é o caminho para conseguir esse fim: negar-se a si mesmo
(isto é, tudo o que é comodidade, egoísmo, apego aos bens temporais) e levar a
cruz. Porque nenhum bem terreno, que é caduco, é comparável à salvação eterna
da alma. Diz São Tomás: “O menor bem da Graça é superior a todo o bem do
universo” (Suma Teológica, I-II, q.113, a. 9).
“Cristo
repete-o a cada um de nós, ao ouvido, intimamente: a Cruz de cada dia. Não só,
escreve São Jerônimo, em tempo de perseguição ou quando se apresente a
possibilidade do martírio, mas em todas as situações, em todas as atividades,
em todos os pensamentos, em todas as palavras, neguemos aquilo que antes éramos
e confessemos o que agora somos, visto que renascemos em Cristo. Vedes? A cruz
de cada dia. Nenhum dia sem Cruz: nenhum dia que não carreguemos com a Cruz do
Senhor, em que não aceitemos o Seu jugo. E muito certo que aquele que ama os
prazeres, que busca as suas comodidades, que foge das ocasiões de sofrer, que
se inquieta, que murmura, que repreende e se impacienta porque a coisa mais
insignificante não corre segundo a sua vontade e o seu desejo, tal pessoa, de
cristão só tem o nome; somente serve para desonrar a sua religião, pois Jesus
Cristo disse: aquele que queira vir após Mim, renuncie a si mesmo, tome a sua
cruz todos os dias da vida, e siga-Me.”
A Cruz não só
deve estar presente na vida da cada cristão. Mas também em todas as
encruzilhadas do mundo. Diz São Josemaria Escrivá: “Que formosas essas cruzes
no cimo dos montes, no alto dos grandes monumentos, no pináculo das
catedrais!...Mas também é preciso inserir a Cruz nas entranhas do mundo.
Jesus quer ser
levantado ao alto, aí: no ruído das fábricas e das oficinas, no silêncio das
bibliotecas, no fragor das ruas, na quietude dos campos, na intimidade das
famílias, nas assembleias, nos estádios... Onde quer que um cristão gaste a sua
vida honradamente, aí deve colocar, com o seu amor, a Cruz de Cristo, que atrai
a Si todas as coisas” (Via Sacra, XI).
A Cruz é sinal
do cristão. Está presente em toda parte, com muitos nomes...
Que o Senhor
nos conceda a graça de também segui-Lo na Cruz; de perder a vida por causa de
Cristo para salvá-la.
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