ASCENSÃO DO SENHOR - ANO B
ASCENSÃO: Pensar no Céu
Hoje celebramos o mistério conclusivo da vida de Jesus: sua
Ascensão ao Céu. É a sua entrada oficial na glória que lhe correspondia como
ressuscitado, depois das humilhações do Calvário; é a volta ao Pai anunciada
por Si no dia de Páscoa; “ Vou subir para Meu e vosso Pai, Meu e vosso Deus”
(Jo 20,17). E aos discípulos de Emaús: “Não tinha o Messias de sofrer
essas coisas para entrar na sua glória?” (Lc 24,26). “Depois de falar com os
discípulos, o Senhor jesus foi elevado ao céu e sentou – se à direita de Deus.
Então, os discípulos foram anunciar a Boa Nova por toda parte...” ( Mc 16, 15 –
20).
O livro dos Atos dos Apóstolos narra que Jesus, depois da
sua Ressurreição, apareceu aos discípulos durante quarenta dias e depois
“elevou – se à vista deles” ( At 1, 9). O significado deste último gesto de
Cristo é duplo. Em primeiro lugar, “elevando – se”, Ele revela de modo
inequívoco a sua divindade; volta para lá, de onde veio, isto é, para Deus,
depois de ter cumprido a sua Missão na Terra. Além disso Cristo sobe ao Céu com
a humanidade que assumiu e que ressuscitou dos mortos: aquela humanidade é a
nossa, transfigurada, divinizada, que se tornou eterna. Portanto, a Ascensão
revela a “altíssima vocação” ( Gaudium et Spes, 22) de cada pessoa humana: ela
está chamada à vida eterna no Reino de Deus, Reino de amor, de luz e de paz.
A vida de Jesus na terra não termina com a sua morte na
Cruz, mas com a Ascensão aos céus. É o último mistério da vida do Senhor aqui
na terra. É um mistério redentor, que constitui, com a Paixão, a Morte e a
Ressurreição, o mistério pascal. Convinha que os que tinham visto Cristo morrer
na Cruz, entre os insultos, desprezos e escárnios, fossem testemunhas da sua
exaltação suprema.
E eles “estavam com os olhos fixos no céu, para onde Jesus
se afastava” ( At 1, 9 – 10). Estavam, portanto, fixando o céu, porque
acompanhavam com o olhar Jesus Cristo, crucificado e ressuscitado, que era
elevado ao Céu. Somos chamados, permanecendo na Terra, a fixar o Céu, a
orientar a atenção, o pensamento e o coração para o Mistério inefável de Deus.
Somos chamados a olhar na direção da realidade divina, para a qual o homem está
orientado desde a criação. Ali está contido o sentido definitivo da nossa vida.
Comentando sobre a Ascensão, ensina São Leão Magno: ”Hoje
não só fomos constituídos possuidores do paraíso, mas com Cristo ascendemos,
mística mais realmente, ao mais alto dos céus, e conseguimos por Cristo uma graça
mais inefável que a que havíamos perdido.”
A Ascensão fortalece e estimula a nossa esperança de
alcançarmos o Céu e incita-nos constantemente a levantar o coração a fim de
procurarmos as coisas que são do alto. Agora a nossa esperança é muito grande,
pois o próprio Cristo foi preparar-nos uma morada.
O Senhor está já no Céu com o seu Corpo glorificado, com os
sinais do seu Sacrifício redentor, com as marcas da Paixão que Tomé pôde
contemplar e que clamam pela salvação de todos nós.
A Ascensão se nos apresenta, assim, não tanto como uma festa
da partida de Jesus deste mundo quanto como a festa de sua permanência aqui na
terra. Ele, com efeito, não deixou este nosso universo. “Não abandonou o
céu quando de lá desceu até nós e nem se afastou de nós quando novamente subiu
ao céu. Ele é exaltado acima dos céus: todavia, sofre aqui na terra todos os
dissabores que nós, seus membros, suportamos. Disto deu testemunho gritando:
Saulo, Saulo, por que me persegues?” (Santo Agostinho). Cristo está ainda
presente e comprometido com este mundo com todo seu corpo que é a Igreja.
Dizia São JosemariaEscrivá: “Cristo espera-nos. Vivemos já
como cidadãos do Céu (Fil 3,20), sendo plenamente cidadãos da terra, no meio
das dificuldades, das injustiças, das incompreensões, mas também no meio da
alegria e da serenidade que nos dá sabermo-nos filhos amados de Deus. E se,
apesar de tudo, a subida de Jesus aos céus nos deixar na alma um travo de
tristeza, recorramos à sua Mãe, como fizeram os apóstolos: Tornaram então a
Jerusalém… e oravam unanimemente… com Maria, a Mãe de Jesus (At 1,12-14).”
A esperança do Céu encherá de alegria o nosso peregrinar
diário. Imitaremos os apóstolos que, segundo São Leão Magno, “tiraram tanto
proveito da Ascensão do Senhor que tudo quanto antes lhes causava medo, depois
se converteu em alegria. A partir daquele momento, elevaram toda a contemplação
das suas almas à divindade que está à direita do Pai; a perda da visão do corpo
do Senhor não foi obstáculo para que a inteligência, iluminada pela fé acreditasse
que Cristo, mesmo descendo até nós, não se tinha afastado do Pai e, com a sua
Ascensão, não se separou dos seus discípulos.”
O pensamento do Céu ajudar - nos-á a superar os momentos
difíceis. É muito agradável a Deus que fomentemos esta esperança teologal, que
está unida à e ao amor, e que em muitas ocasiões nos será especialmente
necessária. “A hora da tentação, pensa no Amor que te espera no Céu. Fomenta a
virtude da esperança, que não é falta de generosidade”( Caminho, 139 ).
A meditação sobre o Céu deve também estimular-nos a ser mais
generosos na nossa luta diária “porque a esperança do prêmio conforta a alma
para que empreenda boas obras”( São Cirilo de Jerusalém). O pensamento
desse encontro definitivo de amor a que fomos chamados ajudar-nos-á a estar
mais vigilantes nas nossas tarefas grandes e nas pequenas, realizando-as
de um modo acabado, como se fossem as últimas antes de irmos para o Pai.
O pensamento do Céu, ao celebrarmos a festa da Ascensão,
deve levar-nos a uma luta decidida e alegre por tirar os obstáculos que se
interpõem entre nós e Cristo, deve estimular- nos a procurar sobretudo os bens
que perduram e a não desejar a todo custo as consolações que acabam.
Com a Ascensão termina a missão terrena de Cristo e começa a
dos seus discípulos, a nossa: “Vós sereis testemunhas de tudo isso” (Lc 24,48),
diz Jesus. Portanto, a festa de hoje, recorda-nos que o zelo pelas almas é um
mandamento amoroso do Senhor. Ao subir para a sua glória, Ele nos envia pelo
mundo inteiro como suas testemunhas. Grande é a nossa responsabilidade, porque
ser testemunhas de Cristo implica, antes de mais nada, procurar comportar-se
segundo a sua doutrina, lutar para que a nossa conduta recorde Jesus e evoque a
sua figura amabilíssima.
Jesus parte, mas permanece muito perto de cada um. Nós O
encontramos na Eucaristia, no Sacrário de nossas Igrejas .
Visitemos mais Jesus no Sacrário, à nossa espera! Não
deixemos de procurá-Lo com frequência, ainda que na maioria das vezes só
possamos fazê-lo com o coração, para dizer-Lhe que nos ajude na tarefa
apostólica, que conte conosco para estender a Sua doutrina por todos os
ambientes.
Nessa semana, que precede a Solenidade de Pentecostes,
fiquemos unidos em oração, como disse Jesus: “Permanecei na cidade até que
sejais revestidos da força do alto” (Lc 24,48). Assim a vida da Igreja não
começa com a ação, mas com a oração, junto com Maria, a Mãe de Jesus.
A festa de hoje nos fortalece a esperança pelo destino que
nos aguarda, mas também nos lembra que a nossa missão hoje é continuar o
projeto de Jesus, Não fiquemos de braços cruzados, parados, olhando para o Céu!
É hora de olhar ao nosso redor e começar a Missão!
A Ascensão nos proporciona a oportunidade de ascender em
cada ano com mais claridade a grande certeza de nossa vida: Jesus está vivo e
está ainda conosco! E nossa maior esperança: nós iremos a Ele para ir junto ao
Pai!
“Esse Jesus que vos foi levado para o Céu, virá do mesmo
modo como O vistes partir para o Céu” ( At 1,11 ). Diz Santo Agostinho:
“Quem é esse que sobe? O mesmo que desceu. Desceu para me sarar e subiu
para me elevar. Se me elevo sozinho, caio. Se me levantais, permaneço elevado.
A Vós, que Vos elevais, digo: sois a minha esperança. Vós, que subis, sede o
meu refúgio ( Sermões, 261, 1).
Os discípulos partiram (diz o Evangelho em Mc 16,20) e
pregaram a Boa Nova por toda parte. Vamos nós também com humildade, sabendo em
que vasos nós carregamos esta esperança, mas vamos com coragem!
Ascensão! Pensar no Céu dá uma grande serenidade. Nada aqui
na terra é irreparável, nada é definitivo, todos os erros podem ser
retificados. O único fracasso definitivo seria não acertarmos com a porta que
conduz à Vida. Ali nos espera também a Santíssima Virgem.
Supliquemos à Virgem Maria, para que nos ajude a contemplar
os bens celestes, que o Senhor nos promete, e a tornar – nos testemunhas cada
vez mais credíveis da sua Ressurreição, da sua verdadeira Vida!
MONSENHOR JOSÉ MARIA PEREIRA
Sacerdote Conselheiro Espiritual da Região RIO II