IV DOMINGO DA QUARESMA - ANO B
(11/03/2018)
A CRUZ E A ALEGRIA
Hoje é o domingo Laetare, isto é, da alegria. O motivo de
nossa alegria é: Deus nos ama! Diz São Paulo: “Por causa do grande amor com que
nos amou, quando estávamos mortos por causa de nossas faltas, ele nos deu a
vida com Cristo.” (Ef 2,5).
E no Evangelho (Jo 3,
14-21),João nos apresenta a conclusão do diálogo de Jesus
com Nicodemos: “ Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário
que o Filho do Homem seja levantado, para que todos os que nele crerem tenham a
vida eterna. Pois Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho único, para
que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 14-16).
A
Palavra de Deus é uma Palavra de esperança sem limites. Deus nunca nos
considera um caso perdido. Continua a convidar – nos para erguermos os olhos
para um futuro de esperança, e promete – nos a força para o realizar.
Escreve São João: “Com efeito, Deus não enviou o seu Filho
ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele” ( Jo
3, 17).
Santo Agostinho comenta: “O médico, na medida das suas
possibilidades, vem para curar o doente. Se alguém não seguir as prescrições do
médico, arruína – se sozinho, O Salvador veio ao mundo... Se tu não quiseres
ser salvo por ele, julgar – te – ás sozinho”.
Portanto, se é infinito o amor
misericordioso de Deus, que chegou a ponto de dar o seu único Filho em resgate
pela nossa vida, grande é inclusive a
nossa responsabilidade: com efeito, cada um deve reconhecer que está enfermo,
para poder ser curado; cada um deve confessar o próprio pecado, para que o
perdão de Deus, já conferido na Cruz, possa ter efeito no seu coração e na sua
vida. Santo Agostinho escreve ainda: “Deus condena os teus pecados; e se também
tu os condenares, unir – te- ás a Deus... Quando começa a desagradar – te
aquilo que fizeste, então tem início as tuas boas obras, porque condenas as
tuas obras más. As obras boas têm início com o reconhecimento das obras más”.
Às vezes o homem gosta mais das trevas do que da luz, porque está apegado aos
seus pecados. Mas só abrindo – se à luz, só confessando sinceramente as suas
culpas a Deus, encontrará a paz verdadeira, a alegria autêntica. Então, é
importante aproximar – se com regularidade do Sacramento da Penitência ( Confissão ), em particular na Quaresma, para
receber o perdão do Senhor e intensificar o nosso caminho de conversão.
O amor de Deus é uma realidade única. É um amor eterno,
indefectível ( Jr 31, 3): Amo – te com eterno amor.
Em Jesus, o amor de Deus se
adequou à nossa condição humana, que tem necessidade de ver, de sentir, de
tocar, de dialogar. O amor de Jesus pelos homens é forte, viril, terno,
constante, até a prova suprema da vida. Porque ninguém tem amor maior do que
quem dá a vida pela pessoa amada ( Cf. Jo 5, 13 ). E ele deu a vida!
No deserto, os hebreus olhavam a serpente levantada por
Moisés como sinal de cura e libertação. Faz lembrar a cruz onde foi levantado o
Filho do Homem. Da Cruz de Jesus brota a vida e a salvação para todos. Ao olhar
com fé para esse sinal, ficamos curados.
Nesse tempo de conversão, que é a Quaresma, meditemos na
Cruz, na alegria da Cruz! É sempre o mesmo júbilo de estar com Cristo: “Somente
d’Ele é que cada um de nós pode dizer com plena verdade, juntamente com S.
Paulo: “Ele me amou e se entregou por mim” (Gal 2,20). Daí deve partir a vossa
alegria mais profunda, daí deve advir também a vossa força e o vosso ponto de
apoio. Se, por desgraça, deveis encontrar amarguras, padecer sofrimentos,
experimentar incompreensões e até cair em pecado, que o vosso pensamento se
dirija rapidamente para Aquele que vos ama sempre e que, com o seu amor
ilimitado, faz vencer todas as provas, preenche todos os nossos vazios, perdoa
todos os nossos pecados e nos impele com entusiasmo para um caminho novamente
seguro e alegre” (São João Paulo II).
A Igreja quer recordar-nos que a alegria é perfeitamente
compatível com a mortificação e a dor. O que se opõe à alegria é a tristeza,
não a penitência!Vivendo com profundidade o tempo da Quaresma que conduz à
Paixão – e portanto à dor -, compreendemos que aproximar-se da Cruz significa
também aproximar-se do momento da Redenção, e por isso a Igreja e cada um dos
seus filhos se enchem de alegria.
A mortificação que procuramos viver nestes
dias não deve ofuscar a nossa alegria interior, mas, pelo contrário, deve
fazê-la crescer, porque está prestes a realizar-se essa prova máxima de amor
pelos homens que é a Paixão, e é iminente o júbilo da Páscoa. Por isso queremos
estar muito unidos ao Senhor, para que também na nossa vida se repita o mesmo
processo da sua: chegarmos, pela sua Paixão e Cruz, à glória e à alegria da sua
Ressurreição.
Os sofrimentos e as tribulações acompanham todos os homens
na terra, mas o sofrimento, por si só, não transforma nem purifica; pode até
causar revolta e ódio. Alguns cristãos separam-se do Mestre quando chegam até a
Cruz, porque esperavam uma felicidade puramente humana, que estivesse isenta de
dor e acompanhada de bens naturais.
Para O amarmos com obras, o Senhor pede-nos que percamos o
medo à dor, às tribulações, e o procuremos onde Ele nos espera: na Cruz. A
nossa alma ficará então mais purificada e o nosso amor mais forte. Então
compreenderemos que a alegria está muito perto da Cruz. Mais ainda: que nunca
seremos felizes se não amarmos o sacrifício.
Essas tribulações que, à luz exclusiva da razão, nos parecem
injustas e sem sentido, são necessárias para a nossa santidade pessoal e para a
salvação de muitas almas. No mistério da co-redenção, a nossa dor, unida aos
sofrimentos de Cristo, adquire um valor incomparável para toda a Igreja e para
toda a Humanidade. A dor, quando lhe damos o seu verdadeiro sentido, quando
serve para amar mais, produz uma paz íntima e uma profunda alegria. Por isso,
em muitas ocasiões, o Senhor abençoa-nos com a Cruz.
Assim temos que percorrer “o caminho da entrega: a Cruz às
costas, com um sorriso nos lábios, com uma luz na alma” (São Josemaria Escrivá,
Via Sacra, II º est.).
Sigamos Jesus com alegria, até Jerusalém, até o Calvário,
até a Cruz. Além disso, “não é verdade que, mal deixas de ter medo à Cruz, a
isso que a gente chama de cruz, quando pões a tua vontade em aceitar a Vontade
divina, és feliz, e passam todas as preocupações, os sofrimentos físicos ou morais?”
(São Josemaria Escrivá, Via Sacra, IIº est.).
Dirigindo o olhar para Maria, “Mãe da santa alegria”,
pedimos – lhe que nos ajude a aprofundar as razões da nossa fé, para que, como
nos exorta hoje a Liturgia, renovados no Espírito e com o coração rejubilante
correspondamos ao amor de Deus eterno e desmedido. Amém!
MONSENHOR JOSÉ MARIA PEREIRA
SCE REGIÃO RIO II
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