XXVI Domingo do Tempo Comum – Ano A
O Patrão Generoso
“Os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, e vossos
caminhos não são os meus”, diz o Senhor (Is 55,8).
O homem não pode reduzir Deus à medida dos seus pensamentos, nem condicionar o
comportamento do Altíssimo às suas categorias de justiça e de bondade.
Deus
está muito acima do homem, muito mais do que está o céu acima da terra (Is
55,9); por isso, muitas vezes os projetos da sua providência são incompreensíveis
à inteligência humana, que os deve aceitar com humildade, sem pretender
adivinhá-los ou julgá-los.
Quantas vezes ficamos aquém das maravilhas que Deus
nos preparou! Quantas vezes os nossos planos se revelam tão estreitos!
É este o ensinamento profundo contido na parábola dos trabalhadores da vinha
(Mt 20,1-16).
Trata-se de um patrão que saiu de manhã cedo para contratar trabalhadores para
a sua vinha.Combina com eles um denário por dia.Torna a sair pelas nove,pelo
meio dia, pelas três da tarde e pelas cindo da tarde.Chegado o fim do dia,
manda pagar a todos o mesmo salário, a começar pelos últimos. Os primeiros
murmuraram, pensando que haviam de receber mais. O patrão mostra que não é
injusto para com os primeiros, e defende o direito de fazer o bem.
Esta parábola pode aplicar-se ao povo judeu, que passou para o último lugar
porque não reconheceu o dom de Deus.Depois chamou também os gentios.Todos são
chamados com o mesmo direito a fazer parte do novo Povo de Deus, que é a
Igreja.
Para todos o convite é gratuito.Por isso, os Judeus, que foram chamados
primeiro, não teriam razão ao murmurar contra Deus pela escolha dos últimos,
que têm o mesmo prêmio: fazer parte do Seu Povo. À primeira vista, o protesto
dos trabalhadores da primeira hora parece justo. E parece-o, porque não
compreendeu que poder trabalhar na vinha do Senhor é um dom divino.Jesus deixa
claro com a parábola que são diversos os caminhos pelos quais chama, mas que o
prêmio é sempre o mesmo: o Céu!
Com esta parábola o Senhor não deseja dar-nos uma lição de moral salarial ou
profissional, mas sublinhar que, no mundo da Graça, tudo é um puro dom, mesmo o
que parece ser um direito que nos assiste pelas nossas boas obras.
Os que fomos chamados a diferentes horas para trabalhar na vinha do Senhor, só
temos motivos de agradecimento.A chamada, em si mesma, já é uma honra.”Não há
ninguém, afirma São Bernardo,que, por pouco que reflita, não encontre em si
mesmo poderosos motivos que o obriguem a mostrar-se agradecido a Deus.E
especialmente nós, porque o Senhor nos escolheu para si e nos guardou para o
servirmos somente a Ele”.
O patrão insiste com mais energia no seu convite: “Ide vós também para a minha
vinha”.
Podemos ficar indiferentes diante de tantos que não conhecem a figura de
Cristo? No campo do Senhor há trabalho para todos! Deus não chega nem demasiado
cedo nem demasiado tarde às nossas vidas. O que Ele quer é que, a partir do
momento em que nos visitou na sua misericórdia, nos sintamos verdadeiramente comprometidos
a trabalhar na sua vinha, com todas as forças e com todo o entusiasmo, sem nos
esquivarmos com promessas futuras, nem desanimarmos com o tempo perdido.
Não são gratas ao Senhor as queixas estéreis, que revelam falta de fé, ou mesmo
um sentido negativo e cético do ambiente que nos rodeia. Esta é a vinha e este
é o campo em que o Senhor quer que estejamos inseridos nessa sociedade que
apresenta os seus valores e deficiências.
É na nossa própria família, e não em
outra, que devemos santificar-nos , e é essa família que devemos levar a Deus;
e o trabalho que nos espera hoje, na Universidade ou no escritório, e não
outro, que devemos converter em trabalho de Deus…Esta é a vinha do Senhor, onde
Ele quer que trabalhemos sem falsas desculpas, sem saudosismos, sem exagerar as
dificuldades, sem esperar oportunidades melhores.
Para levarmos a cabo este apostolado, temos todas as graças necessárias. É
nisto que se fundamenta todo o nosso otimismo.Deus chama-me e envia-me como
trabalhador para a sua vinha; chama-me e envia-me a trabalhar para o advento do
seu Reino na história: esta vocação e missão pessoal define a dignidade e a
responsabilidade de cada fiel leigo e constitui o ponto forte de toda a ação
formativa.
O Senhor quer nos mostrar que no mundo da Graça não se podem fazer valer
quaisquer direitos. É certo que o homem deve colaborar na sua salvação eterna,
mas esta é um bem tão sublime que jamais deixa de ser um dom, até mesmo para as
almas mais santas.
Deus pode chamar a qualquer hora e o homem deve estar sempre pronto para
responder ao Seu chamamento. “Buscai o Senhor, enquanto pode ser achado;
invocai-o, enquanto Ele está perto” (Is 55,6).
Mons. José Maria Pereira
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