Homilia do Mons. José Maria
Assunção de Nossa Senhora
Assunção de Maria ao Céu
No dia 15 de agosto, a Igreja celebra a Solenidade da
Assunção de Nossa Senhora, ou Nossa Senhora da Glória. No Brasil, celebra – se,no
domingo, logo após o dia 15.
A Igreja professou unanimemente, desde os primeiros séculos, a fé na Assunção de Maria
Santíssima em corpo e alma à glória celestial, como se deduz da Liturgia, dos
documentos, dos escritos dos Padres e dos Doutores.
“Para nós, a Solenidade de hoje é como uma continuação da Páscoa, da Ressurreição e
da Ascensão do Senhor. E é, ao mesmo tempo, o sinal e a fonte da esperança da vida eterna e da
futura ressurreição” ( São João Paulo ll, Homilia).
Diz o Prefácio da Solenidade que proclama maravilhosamente o
mistério celebrado: “Hoje, a Virgem Maria, Mãe de Deus, foi elevada à glória do
céu. Aurora e esplendor da Igreja triunfante, Ela é consolo e esperança do
vosso povo ainda em caminho, pois preservastes da corrupção da morte aquela que
gerou de modo inefável o vosso próprio Filho feito homem, autor de toda a
vida”.
Todos ressuscitaremos!
Cada qual, porém, em sua ordem: como primícias, Cristo; em seguida, os que
forem de Cristo, na ocasião de sua vinda (1Cor 15,23).
Entre aqueles que são do Cristo há uma pessoa que é “de
Cristo” de modo único e inigualável: sua Mãe, aquela que O gerou como homem,
que viveu com ele, partilhando a oração, as alegrias, os trabalhos e,
sobretudo, ficando a seu lado ao pé da cruz. Para essa criatura Jesus não
esperou o fim dos tempos para uni-la a si, na glória; imediatamente, depois de
sua morte, ela foi ao céu em corpo e alma. É esta uma convicção da Igreja,
celebrada com uma festa muito antiga, mas a partir de 1º de novembro de 1950, a
festa se tornou mais solene com a proclamação do Dogma da Assunção, pelo papa
Pio XII.
O que diz para nós o mistério da Assunção? Maria é, também
ela, de um modo diferente de Cristo, o primeiro fruto: as primícias da
ressurreição e da Igreja. Nela Deus traçou como que um esboço daquilo que, ao
final, acontecerá para toda a Igreja. Porque toda a Igreja, no fim, tornada
como ela imaculada e santa, será elevada ao céu!
Em Maria, Deus quis mostrar quão grande e profunda foi a
redenção operada por Cristo e a que tamanha glória pode conduzir a criatura que
se deixa envolver inteiramente. Maria, por sua vez, nos ensina como chegar à
glória que hoje contemplamos e nos abre o caminho. É um caminho traçado, em
todo seu percurso, por duas linhas retas: “a fé e a humildade”.
Bem-aventurada és tu que creste. Maria foi uma pessoa de fé,
sempre; acreditou na encarnação e disse: Fiat- seja feita a vossa vontade;
acreditou apesar do longo silêncio de Nazaré; acreditou no Calvário. Acreditou
também quando tudo parecia estar sendo desmentindo pelos fatos, também quando
não compreendia; deixou-se conduzir docilmente por Deus, como uma ovelha que
segue o Cordeiro conduzido à imolação, como é definida num hino da liturgia
bizantina (Romano, o Mélode).
A humildade é a explicação do mistério de Maria e da sua
eleição. Ela foi “cheia de graça” porque era vazia de si.
Para que Deus possa realizar “grandes coisas” também em nós,
para que possa conduzir-nos àquela glória final alcançada por Maria, é
necessário, portanto, que nós também apresentemos estes dois requisitos: a fé e
a humildade.
Quem poderá ter uma fé pura e forte como a da Mãe de Jesus?
Quem poderá alcançar a profundidade e a sinceridade da sua humildade? Ninguém!
Podemos, porém, aproximar-nos dela, imitar-lhe a docilidade e a abertura a
Deus. Podemos, sobretudo, rezar a ela: Aumentai nossa fé; ensinai-nos a
permanecer na humildade “sob a poderosa – e paterna- mão de Deus”. É a oração
que, levantando o olhar, lhe dirigimos neste dia, em que a liturgia no-la
apresenta como Rainha sentada à direita do Rei.
As leituras contemplam esta realidade. A 1ª Leitura (Ap 11,
19; 12, 1-10) apresenta uma mulher vestida com o sol, tendo a lua sob os pés, e
do Filho que ela deu à luz, um varão, que irá reger todas as nações. Nesta
imagem a Mulher e o Filho representam Jesus Cristo e a Igreja, mais a mulher
confunde-se também com Maria, pois nela realizou-se plenamente a Igreja.
A 2ª Leitura (1 Cor 15, 20-27) completa a idéia da 1ª.
Paulo, falando de Cristo, primícia dos ressuscitados, termina dizendo que, um
dia, todos os que crêem terão parte na Sua glorificação, mas em proporção
diversa: “Primeiro, Cristo, como os primeiros frutos da seara; e a seguir, os
que pertencem a Cristo” (1 Cor 15, 23). Entre os cristãos, o primeiro lugar
pertence, sem dúvida, a Nossa Senhora, que foi sempre de Deus, porque jamais
conheceu o pecado. É a única criatura em quem o esplendor da imagem de Deus
nunca se viu ofuscado; é a Imaculada Conceição, a obra prima e intacta da
Santíssima Trindade em quem o Pai, o Filho e o Espírito Santo sentiram as suas
complacências, encontrando nela uma resposta total ao Seu amor.
A resposta de Maria ao amor de Deus ressoa no Evangelho (Lc
1, 35-56), tanto nas palavras de Isabel que exaltam a grande fé que levou Maria
a aderir, sem vacilação alguma à vontade de Deus, como nas palavras da própria
Virgem, que entoa um hino de louvor ao Altíssimo pelas maravilhas que realizou
nela.
Ela é a nossa grande intercessora junto do Altíssimo. Maria
nunca deixa de ajudar os que recorrem ao seu amparo: “Nunca se ouviu dizer que
algum daqueles que tivesse recorrido à vossa proteção fosse por Vós
desamparado”, rezava São Bernardo. Procuremos confiar mais na sua intercessão,
persuadidos de que Ela é a Rainha dos céus e da terra, o refúgio dos pecadores,
e peçamos-lhe com simplicidade: Mostrai-nos Jesus!
A Assunção de Maria é uma preciosa antecipação da nossa
ressurreição e baseia-se na Ressurreição de Cristo, que transformará o nosso
corpo corruptível, fazendo-o semelhante ao seu corpo glorioso (Fil 3, 21 ). Por
isso São Paulo recorda-nos (1 Cor 15, 20-26): “Se a morte veio por um homem
(pelo pecado de Adão), também por um homem, Cristo, veio a ressurreição. Por
Ele, todos retornarão à vida, mas cada um a seu tempo: como primícias, Cristo;
em seguida, quando Ele voltar, todos os que são de Cristo; depois, os últimos, quando Cristo devolver a Deus Pai
o seu reino… Essa vinda de Cristo, de
que fala o Apóstolo, disse São João Paulo II, “não devia por acaso cumprir-se,
neste único caso (o da Virgem), de modo excepcional, por dizê-lo assim,
imediatamente, quer dizer, no momento da conclusão da sua vida terrena? Esse
final da vida que para todos os homens é a morte, a Tradição, no caso de Maria,
chama-o com mais propriedade dormição. Externamente, deve ter sido como um doce
sono: “Saiu deste mundo em estado de vigília” ( São Germano de Constantinopla,
Homilias sobre a Virgem ); na plenitude do amor. “ Terminado o curso da sua vida terrena, foi assunta em
corpo e alma à glória celestial” ( Papa Pio Xll ). Ali a esperava o seu Filho
Jesus, com o seu corpo glorioso, tal como Ela o tinha contemplado depois da
Ressurreição.
A Solenidade de hoje enche-nos de confiança nas nossas
súplicas. Pois, diz São Bernardo, “subiu aos céus a nossa Advogada para, como
Mãe do Juiz e Mãe de Misericórdia, tratar dos negócios da nossa salvação.” Ela
alenta continuamente a nossa esperança. Ensina São JosemariaEscrivá: “Somos
ainda peregrinos, mas a nossa Mãe precedeu-nos e indica-nos já o termo do
caminho: repete-nos que é possível lá chegarmos, e que lá chegaremos, se formos
fiéis. Porque a Santíssima Virgem não é apenas nosso exemplo: é auxílio dos
cristãos. E ante a nossa súplica – mostra que és Mãe –, não sabe nem quer negar-se a cuidar dos seus
filhos com solicitude maternal.
Fixemos o nosso olhar em Maria, já
assunta aos céus! Ela é a certeza e a prova de que os seus filhos estarão um
dia com o corpo glorificado junto de Cristo glorioso. A nossa aspiração à vida
eterna ganha asas ao meditarmos que a nossa Mãe celeste está lá em cima, que
nos vê e nos contempla com o seu olhar cheio de ternura, com tanto mais amor
quanto mais necessitados nos vê. “Realiza a função, própria da mãe, de
medianeira de clemência na vinda definitiva” ( São João Paulo ll).
No dia dedicado às Vocações Religiosas, Maria é apresentada
como Modelo de pessoa consagrada e um “sinal” de Deus no mundo de hoje.
Mons. José Maria Pereira
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