Homilia de Mons. José Maria
Pereira – VI Domingo do Tempo Comum – Ano A
O Cristão: Lei Nova e Antiga
O Senhor diz no Evangelho (Mt 5,
17-37) que Ele não veio destruir a antiga Lei, mas dar-lhe a sua plenitude;
restaura, aperfeiçoa, e eleva a uma ordem superior os preceitos do Antigo
Testamento. Somos convidados a refletir sobre qual deve ser a atitude do
cristão diante da Lei de Deus e as implicações que a mesma tem nas nossas
opções de vida.
Só em Deus poderemos conseguir a luz
e a força, para alcançarmos o procedimento ideal que nos conduzirá à verdadeira
liberdade e à plena felicidade.
Jesus não veio abolir a lei, mas
levá-la à perfeição. Depois de ter anunciado os grandes princípios da nova lei,
nas bem-aventuranças, Jesus as desenvolve, aprofundando o espírito dos
mandamentos dados ao povo de Deus por Moisés. Trata-se de cumprir não apenas
materialmente os mandamentos, mas de dar-lhes o verdadeiro espírito de justiça
e de amor. Daí as palavras de Jesus: “Ouvistes o que foi dito aos antigos; Eu,
porém, vos digo” .São Mateus, com esta frase, repetida várias vezes, anuncia os
aperfeiçoamentos introduzidos por Cristo na Lei. Não basta, por exemplo, não matar; é preciso
também evitar palavras de desamor, de ressentimento ou de desprezo para com o
próximo. Não basta privar-se dos atos materiais contra a lei; é preciso
eliminar também os maus pensamentos e os maus desejos, porque quem os consente,
já pecou no “seu coração” (Mt 5, 28): já assassinou o seu irmão ou cometeu
adultério.
É preciso superar a lei antiga,
aperfeiçoá-la, isto é, tendo uma delicada atenção à pureza interior, à justiça,não só no que diz respeito ao
comportamento externo que todos vêem, mas também a todos os movimentos íntimos
do coração e da mente que só Deus conhece.
“Se vossa justiça não superar a dos
escribas e fariseus…” (Mt 5, 20). Não se trata da virtude da justiça que leva a
“dar a cada um aquilo que lhe pertence”. Aqui podia traduzir-se por santidade;
a dos escribas é meramente externa e ritualista. Entre eles, o cumprimento
exato, minucioso, mas externo, dos preceitos tinha-se convertido numa garantia
de salvação do homem diante de Deus: “se eu cumpri isto, sou justo, sou santo e
Deus tem que me salvar”. Com esse modo de conceber a justificação, já não é
Deus fundamentalmente quem salva, mas vem a ser o homem quem se salva pelas
suas obras externas. A justificação ou santificação é uma graça de Deus, com a
qual o homem só pode colaborar secundariamente pela sua fidelidade a essa
graça.
Quanto à verdade, diz Jesus: “Seja o
vosso sim sim, e o vosso não não” (Mt 5,
37). O cristão é chamado a ser transparente, simples. O contrário seria cheio
de dobras, complicado. Não é só não jurar em falso, mas viver de tal modo a
verdade, que não se precise jurar de modo algum. Fazer tudo em nome do Senhor,
no Senhor.
Jesus quer inculcar a sinceridade
sempre: “sim, sim; não, não!” Se partirmos do princípio da sinceridade, há
confiança mútua nas relações humanas e jurar torna-se coisa supérflua; jurar a
torto e a direito é um sintoma de falta de sinceridade entre as pessoas. “Não
tenhas medo à verdade, ainda que a verdade te acarrete a morte” ( São Josemaria
Escrivá, Caminho, 34 ).
A necessidade de juramento é sinal de
que a mentira e a desconfiança pervertem as relações humanas. Deus Pai apenas
exige um relacionamento em que as pessoas sejam verdadeiras e responsáveis.
E nós, como observamos os
Mandamentos? Com o espírito do Antigo Testamento? (fazer isto ou aquilo porque
é lei, porque é “obrigado”?)
Porque vou à Missa? Porque é um
preceito?
“Se a vossa justiça não for maior que
a justiça dos mestres da lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos
Céus” (Mt 5, 20).
“Quem me ama, guarda os meus
mandamentos”, disse Jesus. Que o Senhor nos fortaleça para, cada dia, fazermos
a sua vontade! “Seja feita a vossa vontade”, rezamos na oração do Pai Nosso!
Ensinou São Josemaria Escrivá: “Ato de identificação com a Vontade de Deus: --
Tu o queres, Senhor?... Eu também o quero!” ( Caminho, 762 ).
Seja a nossa observância uma
expressão sincera e profunda do nosso amor para com Deus. Peçamos a Deus a Graça
de vivermos os seus mandamentos. “Se quiseres observar os mandamentos, eles te
guardarão; se confias em Deus, tu também viverás” (Eclo 15, 16). “A vida e a
morte, o bem e o mal, estão diante do homem; o que ele escolher, isso será
dado” (Eclo 15, 16-18). É como quem diz: o que seguir a lei divina, terá como
recompensa a vida e o que não a seguir, espera-o a morte. Tanto a vida como a
morte eterna são a conseqüência da sua opção. O homem é livre e, por isso,
responsável das suas ações…
Mons.
José Maria Pereira
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