Jesus
Pastor e as Vocações
Mons. José Maria Pereira
O Quarto Domingo da
Páscoa é o domingo do BOM PASTOR.
Depois de várias aparições de Cristo ressuscitado às
mulheres, aos apóstolos, aos discípulos, hoje Jesus se apresenta como o BOM
PASTOR! É um título de Cristo muito familiar aos primeiros cristãos.
A liturgia deste domingo convida-nos a meditar na
misericordiosa ternura de nosso Salvador, para que reconheçamos os direitos que
Ele adquiriu sobre cada um de nós com a sua morte.
No
Evangelho (Jo 10, 11-18) ouvimos a palavra do próprio Cristo que nos fala em
primeira pessoa: Eu sou o bom pastor! É uma catequese sobre a missão de Jesus:
conduzir o homem às pastagens verdejantes e às fontes cristalinas, de onde brota
a vida em plenitude.
O
Bom Pastor aparece numa atitude de ternura com as ovelhas... Ele as conhece-as
chama pelo nome, caminha com elas e estas O seguem. Elas escutam a Sua voz,
porque sabem que as conduz com segurança.
Em
contraste com o pastor, aparece a figura dos ladrões e dos bandidos. São todos
os que se apresentam como Pastor, ou até falam em nome de Cristo, mas procuram
somente vantagens pessoais. Além do título de Bom Pastor, Cristo aplica-Se a Si
mesmo a imagem da porta pela qual se entra no aprisco das ovelhas que é a
Igreja. Ensina o Concílio Vaticano II:” A Igreja é o redil, cuja única porta e
necessário pastor é Cristo (LG,6). No redil entram os pastores e as ovelhas.
Tanto uns como outras hão de entrar pela porta que é Cristo. “ Eu, pregava
Santo Agostinho, querendo chegar até vós, isto é, ao vosso coração, prego-vos
Cristo: se pregasse outra coisa, quereria entrar por outro lado. Cristo é para
mim a porta para entrar em vós: por Cristo entro não nas vossas casas, mas nos
vossos corações. Por Cristo entro gozosamente e escutais-me ao falar d Ele. Por
quê? Porque sois ovelhas de Cristo e fostes compradas com o Seu Sangue”.
“...
e as ovelhas O seguem, porque conhecem a sua voz” (Jo 10,4). Ora, a Igreja é
Cristo continuado! Diz São Josemaria Escrivá: “Cristo deu à Sua Igreja a
segurança da doutrina, a corrente de graça dos sacramentos; e providenciou para
que haja pessoas que nos orientem, que nos conduzam, que nos recordem
constantemente o caminho. Dispomos de um tesouro infinito de ciência: a Palavra
de Deus guardada pela Igreja; a graça de Cristo, que se administra nos
Sacramentos; o testemunho e o exemplo dos que vivem com retidão ao nosso lado e
sabem fazer das suas vidas um caminho de fidelidade a Deus” (Cristo que passa,
nº 34). Jesus é a porta das ovelhas! Para as ovelhas significa que Jesus é o
único lugar de acesso para que as ovelhas possam encontrar as pastagens que dão
vida.
Para
os cristãos, o Pastor por excelência é Cristo: Ele recebeu do Pai a missão de
conduzir o rebanho de Deus... Portanto, Cristo deve conduzir as nossas
escolhas.
Quem
nos conduz? Qual é a voz que escutamos? A voz da política, a voz da opinião
pública, a voz do comodismo e da instalação, a voz dos nossos privilégios, a
voz do êxito e do triunfo a qualquer custo, a voz da novela? A voz da
televisão?
Cristo
é o nosso Pastor! Ele Conhece as ovelhas e as chama pelo nome, mantendo com
cada uma delas uma relação muito pessoal.
A
existência humana é bem complexa para que se possa vivê-la com segurança absoluta.
Jesus, porém, oferece a quem O segue a direção exata e a proteção eficaz para
evitar os elementos que podem prejudicar. Afirma o Sl 22(23): “ Mesmo que eu
passe pelo vale tenebroso, nenhum mal eu temerei;estais comigo...”.
O
Divino Pastor é quem pode, realmente, ajudar, salvar e conservar a vida. Ele
afirmou: “Eu vim para que todos tenham a vida e a tenham em abundância” (Jo 10,
10).
Para
distinguir a Voz do Pastor é preciso três coisas: - Uma vida de oração intensa;
um confronto permanente com a Palavra de Deus e uma participação ativa nos
sacramentos, onde recebemos a vida, que o Pastor nos oferece.
Nesse
domingo celebramos 52° Dia Mundial de Oração pelas Vocações e o Santo Padre, o Papa
Francisco convida-nos a refletir sobre o tema “O Êxodo, experiência fundamental
da vocação ”.
Amados irmãos e irmãs!
O IV Domingo de Páscoa apresenta-nos o ícone do
Bom Pastor, que conhece as suas ovelhas, chama-as, alimenta-as e condu-las. Há
mais de 50 anos que, neste domingo, vivemos o Dia Mundial de Oração pelas
Vocações. Este dia sempre nos lembra a importância de rezar para que o «dono da
messe – como disse Jesus aos seus discípulos – mande trabalhadores para a sua
messe» (Lc 10, 2). Jesus dá esta ordem no
contexto dum envio missionário: além dos doze apóstolos, Ele chamou mais
setenta e dois discípulos, enviando-os em missão dois a dois (cf. Lc 10,1-16). Com efeito, se a Igreja «é,
por sua natureza, missionária» (Conc. Ecum. Vat. II., Decr. Ad gentes,
2), a vocação cristã só pode nascer dentro duma experiência de missão. Assim,
ouvir e seguir a voz de Cristo Bom Pastor, deixando-se atrair e conduzir por
Ele e consagrando-Lhe a própria vida, significa permitir que o Espírito Santo
nos introduza neste dinamismo missionário, suscitando em nós o desejo e a
coragem jubilosa de oferecer a nossa vida e gastá-la pela causa do Reino de
Deus.
A oferta da própria vida nesta atitude
missionária só é possível se formos capazes de sair de nós mesmos. Por isso,
neste 52º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, gostaria de refletir
precisamente sobre um «êxodo» muito particular que é a vocação ou, melhor, a
nossa resposta à vocação que Deus nos dá. Quando ouvimos a palavra «êxodo», ao
nosso pensamento acodem imediatamente os inícios da maravilhosa história de
amor entre Deus e o povo dos seus filhos, uma história que passa através dos
dias dramáticos da escravidão no Egito, a vocação de Moisés, a libertação e o
caminho para a Terra Prometida. O segundo livro da Bíblia – o Êxodo – que narra
esta história constitui uma parábola de toda a história da salvação e também da
dinâmica fundamental da fé cristã. Na verdade, passar da escravidão do homem
velho à vida nova em Cristo é a obra redentora que se realiza em nós por meio
da fé (Ef 4, 22-24). Esta passagem é um real e
verdadeiro «êxodo», é o caminho da alma cristã e da Igreja inteira, a
orientação decisiva da existência para o Pai.
Na raiz de cada vocação cristã, há este
movimento fundamental da experiência de fé: crer significa deixar-se a si
mesmo, sair da comodidade e rigidez do próprio eu para centrar a nossa vida em
Jesus Cristo; abandonar como Abraão a própria terra pondo-se confiadamente a
caminho, sabendo que Deus indicará a estrada para a nova terra. Esta «saída»
não deve ser entendida como um desprezo da própria vida, do próprio sentir, da
própria humanidade; pelo contrário, quem se põe a caminho no seguimento de
Cristo encontra a vida em abundância, colocando tudo de si à disposição de Deus
e do seu Reino. Como diz Jesus, «todo aquele que tiver deixado casas, irmãos,
irmãs, pai, mãe, filhos ou campos por causa do meu nome, receberá cem vezes
mais e terá por herança a vida eterna» (Mt 19, 29). Tudo isto tem a sua raiz mais
profunda no amor. De facto, a vocação cristã é, antes de mais nada, uma chamada
de amor que atrai e reenvia para além de si mesmo, descentraliza a pessoa,
provoca um «êxodo permanente do eu fechado em si mesmo para a sua libertação no
dom de si e, precisamente dessa forma, para o reencontro de si mesmo, mais
ainda para a descoberta de Deus» (Bento XVI,
Carta enc.Deus caritas est, 6).
A experiência do êxodo é paradigma da vida
cristã, particularmente de quem abraça uma vocação de especial dedicação ao
serviço do Evangelho. Consiste numa atitude sempre renovada de conversão e
transformação, em permanecer sempre em caminho, em passar da morte à vida, como
celebramos em toda a liturgia: é o dinamismo pascal. Fundamentalmente, desde a
chamada de Abraão até à de Moisés, desde o caminho de Israel peregrino no
deserto até à conversão pregada pelos profetas, até à viagem missionária de
Jesus que culmina na sua morte e ressurreição, a vocação é sempre aquela ação
de Deus que nos faz sair da nossa situação inicial, nos liberta de todas as
formas de escravidão, nos arranca da rotina e da indiferença e nos projeta para
a alegria da comunhão com Deus e com os irmãos. Por isso, responder à chamada
de Deus é deixar que Ele nos faça sair da nossa falsa estabilidade para nos
pormos a caminho rumo a Jesus Cristo, meta primeira e última da nossa vida e da
nossa felicidade.
Esta dinâmica do êxodo diz respeito não só à
pessoa chamada, mas também à atividade missionária e evangelizadora da Igreja
inteira. Esta é verdadeiramente fiel ao seu Mestre na medida em que é uma
Igreja «em saída», não preocupada consigo mesma, com as suas próprias
estruturas e conquistas, mas sim capaz de ir, de se mover, de encontrar os
filhos de Deus na sua situação real e compadecer-se das suas feridas. Deus sai
de Si mesmo numa dinâmica trinitária de amor, dá-Se conta da miséria do seu
povo e intervém para o libertar (Ex 3, 7). A este modo de ser e de agir, é
chamada também a Igreja: a Igreja que evangeliza sai ao encontro do homem,
anuncia a palavra libertadora do Evangelho, cuida as feridas das almas e dos
corpos com a graça de Deus, levanta os pobres e os necessitados.
Amados irmãos e irmãs, este êxodo libertador
rumo a Cristo e aos irmãos constitui também o caminho para a plena compreensão
do homem e para o crescimento humano e social na história. Ouvir e receber a
chamada do Senhor não é uma questão privada e intimista que se possa confundir
com a emoção do momento; é um compromisso concreto, real e total que abraça a
nossa existência e a põe ao serviço da construção do Reino de Deus na terra.
Por isso, a vocação cristã, radicada na contemplação do coração do Pai, impele
simultaneamente para o compromisso solidário a favor da libertação dos irmãos,
sobretudo dos mais pobres. O discípulo de Jesus tem o coração aberto ao seu
horizonte sem fim, e a sua intimidade com o Senhor nunca é uma fuga da vida e
do mundo, mas, pelo contrário, «reveste essencialmente a forma de comunhão
missionária» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 23).
Esta dinâmica de êxodo rumo a Deus e ao homem
enche a vida de alegria e significado. Gostaria de o dizer sobretudo aos mais
jovens que, inclusive pela sua idade e a visão do futuro que se abre diante dos
seus olhos, sabem ser disponíveis e generosos. Às vezes, as incógnitas e
preocupações pelo futuro e a incerteza que afeta o dia-a-dia encerram o risco
de paralisar estes seus impulsos, refrear os seus sonhos, a ponto de pensar que
não vale a pena comprometer-se e que o Deus da fé cristã limita a sua
liberdade. Ao invés, queridos jovens, não haja em vós o medo de sair de vós
mesmos e de vos pôr a caminho! O Evangelho é a Palavra que liberta, transforma
e torna mais bela a nossa vida. Como é bom deixar-se surpreender pela chamada
de Deus, acolher a sua Palavra, pôr os passos da vossa vida nas pegadas de
Jesus, na adoração do mistério divino e na generosa dedicação aos outros! A
vossa vida tornar-se-á cada dia mais rica e feliz.
A Virgem Maria, modelo de toda a vocação, não
teve medo de pronunciar o seu «fiat»
à chamada do Senhor. Ela acompanha-nos e guia-nos. Com a generosa coragem da
fé, Maria cantou a alegria de sair de Si mesma e confiar a Deus os seus planos
de vida. A Ela nos dirigimos pedindo para estarmos plenamente disponíveis ao
desígnio que Deus tem para cada um de nós; para crescer em nós o desejo de sair
e caminhar, com solicitude, ao encontro dos outros (cf. Lc 1, 39). A Virgem Mãe nos proteja e
interceda por todos nós.
Vaticano, 29 de Março – Domingo de
Ramos – de 2015.
Franciscus PP.
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