A Cruz e a Alegria
Mons. José Maria Pereira
Mons. José Maria Pereira
O
Evangelho (Jo 3, 14-21) nos apresenta a conclusão do diálogo de Jesus com
Nicodemos: “ Como Moisés levantou a
serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado,
para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna. Pois Deus amou tanto o
mundo que entregou o seu Filho único, para que não morra todo o que nele crer,
mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 14-16).
No
deserto, os hebreus olhavam a serpente levantada por Moisés como sinal de cura
e libertação. Faz lembrar a cruz onde foi levantado o Filho do Homem. Da Cruz
de Jesus brota a vida e a salvação para todos. Ao olhar com fé para esse sinal,
ficamos curados...
Nesse
tempo de conversão, que é a Quaresma, meditemos na Cruz, na alegria da Cruz! É
sempre o mesmo júbilo de estar com Cristo: “Somente d’Ele é que cada um de nós
pode dizer com plena verdade, juntamente com S. Paulo: “Ele me amou e se
entregou por mim” (Gal 2,20). Daí deve partir a vossa alegria mais profunda,
daí deve advir também a vossa força e o vosso ponto de apoio. Se, por desgraça,
deveis encontrar amarguras, padecer sofrimentos, experimentar incompreensões e
até cair em pecado, que o vosso pensamento se dirija rapidamente para Aquele
que vos ama sempre e que, com o seu amor ilimitado, faz vencer todas as provas,
preenche todos os nossos vazios, perdoa todos os nossos pecados e nos impele
com entusiasmo para um caminho novamente seguro e alegre” (São João Paulo
II).
A
Igreja quer recordar-nos que a alegria é perfeitamente compatível com a
mortificação e a dor. O que se opõe à alegria é a tristeza, não a penitência!Vivendo
com profundidade o tempo da Quaresma que conduz à Paixão – e portanto à dor -,
compreendemos que aproximar-se da Cruz significa também aproximar-se do momento
da Redenção, e por isso a Igreja e cada um dos seus filhos se enchem de
alegria. A mortificação que procuramos viver nestes dias não deve ofuscar a
nossa alegria interior, mas, pelo contrário, deve fazê-la crescer, porque está
prestes a realizar-se essa prova máxima de amor pelos homens que é a Paixão, e
é iminente o júbilo da Páscoa. Por isso queremos estar muito unidos ao Senhor,
para que também na nossa vida se repita o mesmo processo da sua: chegarmos,
pela sua Paixão e Cruz, à glória e à alegria da sua Ressurreição.
Os
sofrimentos e as tribulações acompanham todos os homens na terra, mas o
sofrimento, por si só, não transforma nem purifica; pode até causar revolta e
ódio. Alguns cristãos separam-se do Mestre quando chegam até a Cruz, porque esperavam
uma felicidade puramente humana, que estivesse isenta de dor e acompanhada de
bens naturais.
Para
O amarmos com obras, o Senhor pede-nos que percamos o medo à dor, às
tribulações, e o procuremos onde Ele nos espera: na Cruz. A nossa alma ficará
então mais purificada e o nosso amor mais forte. Então compreenderemos que a
alegria está muito perto da Cruz. Mais ainda: que nunca seremos felizes se não amarmos
o sacrifício.
Essas
tribulações que, à luz exclusiva da razão, nos parecem injustas e sem sentido,
são necessárias para a nossa santidade pessoal e para a salvação de muitas
almas. No mistério da co-redenção, a nossa dor, unida aos
sofrimentos de Cristo, adquire um valor incomparável para toda a Igreja e para
toda a Humanidade. A dor, quando lhe damos o seu verdadeiro sentido, quando
serve para amar mais, produz uma paz íntima e uma profunda alegria. Por isso,
em muitas ocasiões, o Senhor abençoa-nos com a Cruz.
Assim
temos que percorrer “o caminho da entrega: a Cruz às costas, com um sorriso nos
lábios, com uma luz na alma” (São Josemaria Escrivá, Via Sacra, II º est.).
Sigamos
Jesus com alegria, até Jerusalém, até o Calvário, até a Cruz. Além disso, “não
é verdade que, mal deixas de ter medo à Cruz, a isso que a gente chama de cruz,
quando pões a tua vontade em aceitar a Vontade divina, és feliz, e passam
todas as preocupações, os sofrimentos físicos ou morais?” (São Josemaria
Escrivá, Via Sacra, IIº est.).
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