Preparar
o Natal
Mons. José Maria Pereira
Nesse domingo, inicia mais um Ano Litúrgico, no qual relembramos e
revivemos os Mistérios da História da Salvação. A Igreja nos põe de sobreaviso
com quatro semanas de antecedência a fim de que nos preparemos para celebrar de
novo o Natal e, ao mesmo tempo, para que, com a lembrança da primeira vinda de
Deus feito homem ao mundo, estejamos atentos a essas outras vindas do Senhor:
no fim da vida de cada um e no fim dos tempos. Por isso o Advento é o tempo de
preparação e de esperança.
A palavra ADVENTO significa “Vinda”, chegada: nos faz relembrar e reviver
as primeiras etapas da História da Salvação, quando os homens se preparam para
a vinda do Salvador, a fim de que também nós possamos preparar hoje em nossa
vida a vinda de Cristo por ocasião do Natal.
Isaías fala com ênfase da era messiânica, quando todos os povos se hão de
reunir em Jerusalém para adorarem o único Deus. Jerusalém é figura da Igreja,
constituída por Deus “sacramento universal de salvação” (LG 48), que abre os
seus braços a todos os homens para os conduzir a Cristo e para que, seguindo os
seus ensinamentos, vivam como irmãos na concórdia e na paz. Cada cristão deve
ser uma voz a chamar os homens, com a veemência de Isaías, à fé verdadeira e ao
amor fraterno. Convida Isaías: “Vinde, e deixemo-nos guiar pela luz do Senhor”
(Is 2, 5).
No texto do Evangelho (Mc 13,33-37) ressoa o tema da espera, que suscita
a solene palavra-chave: Vigiai! É uma palavra que faz de nós discípulos,
sentinelas ou, como disse Jesus, porteiros. Será como um homem que, partindo em
viagem, deixa a sua casa e delega sua autoridade aos seus servos (Mc 13, 34).
Esta parábola do porteiro, constituída de breves palavras, parece ser o
núcleo originário da atual perícope evangélica. É uma das parábolas mais
modernas do Evangelho; mais atual, talvez, hoje que no tempo de Jesus (raros
palácios tinham então o porteiro e suas tarefas eram bem mais fáceis do que
hoje!). A vida do porteiro num prédio moderno de cidade é realmente fechar as portas,
vigiar quem sai e quem entra, cuidar para que não haja invasão de ladrões;
enfim, vigiar sempre. Sua vida é uma vida de espera, ou melhor, de “atenção”.
Originária do vocábulo latino ad-tendere,
isto é, tender a, ou para alguma coisa, “atenção” é a palavra que reúne o
sentido de todas as metáforas usadas por Jesus no contexto destes discursos
escatológicos: Ficai de sobreaviso,
vigiai! É viver concentrando a atenção não só da mente, mas também do
coração e de toda a vida; viver tendendo para alguma coisa, prontos a captar
todos os sinais que anunciam sua presença.
É muito oportuno que no início do Advento a Igreja dê um grande destaque
àquelas palavras de São Paulo: Já é hora
de despertardes do sono (Rm 13, 11).
O quadro visa reavivar a Esperança pelo novo dia que surgirá e
motivar a Vigilância para reconhecer e acolher o Senhor que vem. O
cristão, portanto, não vive só na espera de Cristo, mas também em comunhão com
Cristo, isto é, na posse daquilo que espera. Isto nos recorda o tempo do
Advento.
É preciso “estar atento” a essa
salvação que nos é oferecida e aceitá-la.
É preciso ter a vontade e a liberdade de acolher o dom de Jesus, deixar
que Ele nos transforme o coração e se faça vida em nossos gestos e palavras.
Preparemos o caminho para o Senhor que chegará em breve; e se notarmos
que a nossa visão está embaçada e não distinguimos com clareza essa luz que
procede de Belém, é o momento de afastar os obstáculos. É tempo de fazer com
especial delicadeza o exame de consciência e de melhorar a nossa pureza
interior para receber a Deus. É o momento de discernir as coisas que nos
separam do Senhor e de lançá-las para longe de nós. Um bom exame de consciência
deve ir até as raízes dos nossos atos, até os motivos que inspiram as nossas
ações. E logo buscar o remédio no Sacramento da Penitência (Confissão)!
“Vigiai, não sabeis em que dia o Senhor virá”. Não se trata apenas da
“parusia”, mas também da vinda do Senhor para cada homem no fim da sua vida,
quando se encontrar face a face com o seu Salvador; e será esse o dia mais
belo, o princípio da vida eterna! Toda a existência do homem é uma constante
preparação para ver o Senhor, que cada vez está mais perto; mas no Advento a
Igreja ajuda-nos a pedir de um modo especial: “Senhor, mostrai-me os vossos
caminhos e ensinai-me as vossas veredas. Dirigi-me na vossa verdade, porque
sois o meu Salvador” (Sl 24).
Para manter este estado de vigília, é necessário lutar, porque a
tendência de todo homem é viver de olhos cravados nas coisas da terra.
Fiquemos alertas! Assim será se cuidarmos com atenção da oração pessoal,
que evita a tibieza e, com ela, a morte dos desejos de santidade; estaremos
vigilantes se não abandonarmos os pequenos sacrifícios, que nos mantêm
despertos para as coisas de Deus. Diz-nos São Bernardo: “Irmãos, a vós, como às
crianças, Deus revela o que ocultou aos sábios e entendidos: os autênticos
caminhos da salvação. Aprofundai no sentido deste Advento. E, sobretudo,
observai quem é Aquele que vem, de onde vem e para onde vem; para quê, quando e
por onde vem. É uma curiosidade boa. A Igreja não celebraria com tanta devoção
este Advento se não contivesse algum grande mistério”
Procuremos afastar os motivos que impedem a acolhida do Senhor:
– os prazeres da
vida: a pessoa mergulhada nos prazeres fica alienada... No domingo, dorme...
passeia... pratica esportes... mas não sobra tempo para a Missa.
– trabalho
excessivo: a pessoa obcecada pelo trabalho esquece o resto: Deus, a família, os
amigos, a própria saúde...
Como desejo me preparar para o Natal desse ano?
Apenas programando festas, presentes, enfeites, músicas?
Preparemos numa atitude de humildade e vigilância a chegada de Cristo que
vem.
Procuremos remover de nossa vida toda bagagem inútil que possa impedir os
nossos passos para Cristo.
Escutemos São Paulo: “Fazei progressos ainda maiores! “ (1Ts 4, 1).