O Pão da Salvação
Mons. José Maria Pereira
A Palavra de
Deus, em Mt 14, 13 – 21, mostra-nos Jesus, ao desembarcar num lugar deserto,
viu-se rodeado de uma grande multidão que O procurava. Jesus “encheu-se de
compaixão por eles e curou os que estavam doentes” (Mt 14, 14). Curou-os por
própria iniciativa, porque, levar os doentes para aquele lugar isolado,
deserto, era já uma bela oração e uma forte expressão de fé.
Os Apóstolos
ficam preocupados com a multidão que não tem o que comer naquela região
desértica e manifestam essa preocupação a Jesus. Eram cinco mil homens, sem contar
as mulheres e as crianças; para comer tinham apenas cinco pães e dois peixes.
Depois de
mandar que se sentassem na relva, Jesus, tomando os cinco pães e os dois
peixes, levantando os olhos ao Céu, pronunciou a bênção e, partindo os pães os
deu aos discípulos e os discípulos às multidões. Todos comeram até ficarem
saciados. O Senhor cuida dos seus, dos que O seguem!
O relato do
Milagre começa com as mesmas palavras e descreve os mesmos gestos com que os
Evangelhos e São Paulo nos transmitem a instituição da Eucaristia (Mt 26, 26;
Mc 14, 22; Lc 22, 19; 1Cor 11, 25). Esse milagre, além de ser uma manifestação
da misericórdia divina de Jesus para com os necessitados, era figura da Sagrada
Eucaristia, da qual o Senhor falaria pouco depois, na sinagoga de Cafarnaum (Jo
6, 26 – 59). Assim o interpretaram muitos padres da Igreja.
O milagre
daquela tarde junto do lago manifestou o poder e o amor de Jesus pelos homens.
Poder e amor que hão de possibilitar também, ao longo da história, que o Corpo
de Cristo seja encontrado, sob as espécies sacramentais, pelas multidões dos
fiéis que O procurarão famintas e necessitadas de consolo. Como diz São Tomás
de Aquino: “... tomam-no um, tomam-no mil, tomam-no este ou aquele, mas não se
esgota quando O tomam...”.
São João indica-nos
que o milagre causou um grande entusiasmo naquela multidão que se tinha saciado
(Jo 6, 14). Refletia São Josemaria Escrivá: “Senhor, se aqueles homens, por um
pedaço de pão – embora o milagre da multiplicação tenha sido muito grande –, se
entusiasmam e te aclamam, que não devemos nós fazer pelos muitos dons que nos
concedeste, e especialmente porque te entregas a nós, sem reservas, na
Eucaristia ?(Forja, 304). O Concílio Vaticano II afirmou que o sacrifício
eucarístico é “fonte e centro de toda a vida cristã. Na Eucaristia está contido
todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, a nossa Páscoa e
o pão vivo que dá aos homens a vida mediante a sua carne vivificada e
vivificadora pelo Espírito Santo” (L.G. 11 e PO. 5).
Na comunhão, recebemos
Jesus, Filho de Maria, que naquela tarde realizou o grandioso milagre. Na
Hóstia, possuímos o Cristo de todos os mistérios da Redenção: o Cristo de Maria
Madalena, do filho pródigo e da Samaritana, o Cristo ressuscitado dos mortos,
sentado à direita do Pai. Esta maravilhosa presença de Cristo no meio de nós
deveria revolucionar a nossa vida! Ele está aqui, conosco: em cada cidade, em
cada povoado...
Jesus,
realmente presente na Sagrada Eucaristia, dá a este sacramento uma eficácia
sobrenatural infinita. A Santíssima Eucaristia é a doação máxima que Jesus
Cristo fez de si mesmo, revelando-nos o amor infinito de Deus por cada homem.
Na Eucaristia, Jesus não dá “alguma coisa”, mas dá-se a si mesmo; entrega o seu
corpo e derrama o seu sangue. Graças à Eucaristia, a Igreja renasce sempre de
novo! Quanto mais viva for a fé eucarística no povo de Deus, tanto mais
profunda será a sua participação na vida eclesial por meio de uma adesão
convicta à missão que Cristo confiou aos seus discípulos.
Vimos no relato
do milagre que aquelas pessoas até se esqueceram da comida para não perderem o
contato com Jesus. Peçamos a graça de sempre procurarmos o Mestre, desejar
recebê-Lo na Eucaristia. Nós O encontramos na Sagrada Comunhão. Ele nos espera
a cada um! Não fica na expectativa de que lhe peçamos alguma coisa: antecipa-se
e cura-nos das nossas fraquezas, protege-nos contra os perigos, contra as
vacilações que pretendem separar-nos dEle, e dá vida ao nosso caminhar. Cada
Comunhão é uma fonte de graças, uma nova luz e um novo impulso que, às vezes
sem o notarmos, nos dá fortaleza para enfrentarmos com garbo humano e
sobrenatural a vida diária, a fim de que os nossos afazeres nos levem até Ele.
“A piedade
eucarística, disse São João Paulo II,
aproximar-vos-á cada vez mais do Senhor; e pedir-vos-á o oportuno recurso à
Confissão sacramental, que leva à Eucaristia, como a Eucaristia leva a
Confissão”. Recebendo a Eucaristia, podemos compreender o que diz São Paulo:
“Quem nos separará do amor de Cristo?” (Rm 8, 35 – 39). Em Cristo encontramos
sempre a nossa fortaleza!
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