VIGILÂNCIA
Mons.
José Maria Pereira
No Evangelho (Lc 12,
32-48) o Senhor adverte-nos: “Que vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas
acesas. Sede como homens que estão esperando seu senhor voltar de uma festa de
casamento, para lhe abrirem, imediatamente, a porta, logo que ele chegar e
bater” (Lc 12, 35-36).
Jesus exorta-nos à
vigilância, porque o inimigo não descansa, está sempre à espreita, e porque o
amor nunca dorme.
Os judeus costumavam
usar umas túnicas folgadas e por isso cingiam-nas com um cinturão para poderem
andar e executar determinados trabalhos. “Ter roupas cingidas” é uma imagem
expressiva utilizada para indicar que alguém se prepara para realizar um
trabalho, para empreender uma viagem, para entrar em luta. Do mesmo modo, “ter
lâmpadas acesas” indica a atitude própria daquele que está de vigia ou espera a
chegada de alguém. Quando o Senhor vier no final de nossa vida, deve
encontrar-nos assim: em estado de vigília, como quem vive ao dia; servindo por
amor e empenhado em melhorar as realidades terrenas, mas sem perder o sentido
sobrenatural da vida, o fim para que tudo se dirige; avaliando devidamente as
coisas terrenas – a profissão, os negócios, o descanso... –, sem esquecer que
nada disso tem um valor absoluto, e que deve servir-nos para amar mais a Deus,
para ganhar o Céu e servir os homens.
Não é muito o tempo que
nos separa do encontro definitivo com Cristo; cada dia que passa aproxima-nos
mais da eternidade. Pode ser neste ano, ou no próximo, ou no seguinte... Seja
como for, sempre nos há de parecer que a vida passou muito depressa. O Senhor
virá na segunda ou na terceira vigília... “E como não sabemos nem o dia nem a
hora, é necessário, conforme a advertência do Senhor, que vigiemos
constantemente para que, terminado o prazo improrrogável da nossa vida terrena
(cf. Hb 9, 27), mereçamos entrar com Ele na festa e sermos contados entre os
eleitos”.
Estamos vigilantes
quando fazemos com profundidade o exame de consciência diário. Observa a tua
conduta com vagar. Verás que estás cheio de erros, que te prejudicam a ti e
talvez também aos que te rodeiam.
“– Lembra-te, filho, de
que não são menos importantes os micróbios do que as feras. E tu cultivas esses
erros, esses desacertos – como se cultivassem os micróbios no laboratório –,
com a tua falta de humildade, com a tua falta de oração, com a tua falta de
cumprimento do dever, com a tua falta de conhecimento próprio... E, depois,
esses focos infectam” o ambiente.
“– Precisas de um bom
exame de consciência diário, que te leve a propósitos concretos de melhora, por
sentires verdadeira dor das tuas faltas, das tuas omissões e pecados”.
ESTAREMOS VIGILANTES no
amor e longe da tibieza e do pecado se nos mantivermos fiéis a Deus nas
pequenas coisas que preenchem o dia. Quem se habitua a repassar as pequenas
coisas da cada dia no seu exame de consciência descobre com facilidade os
indícios e as raízes que denunciam coisas são a ante-sala das grandes, tanto no
sentido negativo como positivo.
São Francisco de Sales
fala-nos da necessidade de lutar nas pequenas tentações, pois são muitas as
ocasiões em que se apresentam num dia corrente e, se se vencem, essas vitórias
são mais importantes – por serem muitas – do que se se tivesse vencido uma
tentação mais grave. Além disso, ainda que “os lobos e os ursos sejam mais
perigosos do que as moscas”, no entanto “não nos causam tantos aborrecimentos,
nem provam tanto a nossa paciência”. É fácil – ensina o Santo – “não cometer um
homicídio; mas é difícil repelir os pequenos ímpetos de cólera”, que se
apresentam com bastante facilidade. “é fácil não furtar os bens do próximo, mas
é difícil não os desejar. É fácil não levantar falsos testemunhos em juízo; mas
é difícil não mentir numa conversa; é fácil não embriagar-se, mas é difícil ser
sóbrio”.
As pequenas vitórias
diárias fortalecem a vida interior e despertam a alma para as coisas divinas.
São ocasiões que se apresentam com muita frequência: trata-se de viver a
pontualidade à hora de levantar-se ou de começar o trabalho; de deixar de lado
essa revista insubstancial que pode semear confusão na alma ou, pelo menos,
supõe uma perda de tempo e, sempre, uma boa ocasião de vencermos a curiosidade;
trata-se de fazer um pequeno sacrifício à hora das refeições; de dominar a
língua num encontro de amigos ou numa reunião social... Estamos convencidos de
que “tantas vitórias quantas obtivermos sobre esses pequenos inimigos serão
outras tantas pedras preciosas que se acrescentarão à que Deus nos prepara no
seu Reino”.
Se formos fiéis nas
pequenas coisas, permaneceremos cingidos, vigilantes, à espera do Senhor que
está para chegar. A nossa vida terá consistido numa alegre espera, enquanto
realizamos cheios de esperança a tarefa que o nosso Pai-Deus nos confiou no
mundo. Então compreenderemos com profundidade as palavras de Jesus: Bem-aventurado aquele servo a quem o Senhor
achar procedendo assim quando vier. Digo-vos na verdade que o constituirá
administrador de tudo o possui. E Ele está para vir; não deixemos de
vigiar.
Mons. José Maria Pereira
Reitor do Seminário Diocesano Nossa Senhora do Amor Divino
Reitor do Seminário Diocesano Nossa Senhora do Amor Divino
Tel: (24) 2221-1459
(24) 2221-2187
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