Fontes da Paz
Mons. José Maria Pereira
O
Evangelho (Lc 10, 1-12. 17-20) relata a partida dos discípulos para anunciarem
a chegada do Reino de Deus. Com a sua passagem, multiplicam-se os milagres:
cegos que recuperam a vista, leprosos que ficam limpos, pecadores que decidem
fazer penitência. E vão levando por toda a parte a paz de Cristo. O próprio
Senhor os encarrega disso, antes de deixá-los partir para essa missão
apostólica: Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: A paz esteja
nesta casa! Se ali morar um amigo da paz, a vossa paz repousará sobre ele... Esta
mensagem será repetida pela Igreja até o fim dos tempos.
Depois
de tantos anos, ainda vemos que o mundo não está em paz; anseia e clama por
ela, mas não a encontra.
Poucas
vezes como no nosso tempo se mencionou tanto a palavra paz, e talvez poucas
vezes como no nosso tempo a paz esteja tão longe do mundo.
Talvez
o mundo esteja buscando a paz onde não a pode encontrar; talvez a confunda com
a tranquilidade; talvez a faça depender de circunstâncias externas e alheias ao
próprio homem. A paz vem de Deus e é um dom divino “que supera todo
entendimento” (Fil. 4,7), e que se concede somente aos homens de boa vontade
(Lc 2,14), aos que procuram com todas as suas forças conformar a sua vida com o
querer divino.
Ensinava
São Josemaria Escrivá: “A paz, que traz consigo a alegria, o mundo não a pode
dar.
- Os homens estão sempre fazendo
pazes, e andam sempre enredados em guerras, porque esqueceram o conselho de
lutar por dentro, de recorrer ao auxílio de Deus, para que Ele vença, e assim
consigam a paz no seu próprio eu, no seu próprio lar, na sociedade e no mundo.
- Se nos comportamos deste modo,
a alegria será tua e minha, porque é propriedade dos que vencem. E com a graça
de Deus – que não perde batalhas – chamar-mos-emos vencedores, se formos
humildes” (Forja, 102).
Então
seremos portadores da paz verdadeira, e a levaremos como um tesouro inestimável
aos lugares onde estivermos: à família, ao local de trabalho, aos amigos..., ao
mundo inteiro.
“A
violência e a injustiça, frisa o Beato João Paulo II, têm raízes profundas no
coração de cada indivíduo, de cada um de nós.” Do coração procedem “todas as
desordens que os homens são capazes de cometer contra Deus, contra os irmãos e
contra eles próprios, provocando no mais íntimo das suas consciências uma
ferida, uma profunda amargura, uma falta de paz que necessariamente se reflete
no entrançado da vida social. Mas é também do coração humano, da sua imensa
capacidade de amar, da sua generosidade para o sacrifício, que podem surgir –
fecundados pela graça de Cristo – sentimentos de fraternidade e obras de
serviço aos homens que como rio de paz (Is 66,12), cooperem para a construção
de um mundo mais justo, onde a paz tenha foro de cidadania e impregne todas as
estruturas da sociedade.” (A. Del Portillo, Homilia). A paz é consequência da
graça santificante, como a violência, em qualquer das suas manifestações, é
consequência do pecado.
A
vida do cristão converte-se, então, numa luta alegre por rejeitar o mal e
alcançar Cristo. Nessa luta, encontra uma segurança cheia de otimismo, mas
quando pactua com o pecado e os seus erros, acaba por perdê-la, e converte-se
numa fonte de mal-estar ou de violência para si próprio e para os outros.
Unicamente
em Cristo encontraremos a paz de que tanto necessitamos para nós mesmos e para
que os que estão mais perto. Recorramos a Ele quando as contrariedades da vida
pretenderem tirar-nos a serenidade da alma. Recorramos ao Sacramento da
Penitência (Confissão) e à direção espiritual se, por não termos lutado
suficientemente, a inquietação e o desassossego entrarem no nosso coração.
A
presença de Cristo no coração dos seus discípulos é a origem da verdadeira paz,
que é riqueza e plenitude, e não simples tranquilidade ou ausência de
dificuldades e de luta. São Paulo afirma que o próprio Cristo é a nossa paz (Ef
2,14); possuí-Lo e amá-Lo é a origem de toda a serenidade verdadeira.
Peçamos
a Nossa Senhora, Rainha da Paz, que saibamos recorrer, com humildade, às fontes
da paz: o Sacrário, a Confissão, a direção espiritual.
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