Falar do Espírito Santo constitui-se um atrevimento para poucas
linhas e inteligência tão limitada, contudo devemos tentar. Ao olharmos a
Sagrada Escritura, do início ao fim, vemos a presença do Espírito Santo
de Deus (cf. Gn 1,2; Ap 22,17): toda história salvífica, do Gênesis ao
Apocalipse, desenvolve-se assim sob o poderoso “sopro” divino. Ele é a
onipotência do amor com que Deus realiza seu projeto entre nós: cria as
coisas, chama à vida, suscita os profetas, torna justos os pecadores,
faz ressurgir os mortos, santifica a humanidade.
No Novo Testamento revela-se início da vida pública de Jesus, o
Cristo, que o consagra com sua unção. A missão de um é inseparável da
missão do outro. Verdadeira é a missão pública de Jesus; missão diversa,
mas não menos verdadeira, é a missão interior do Espírito Santo:
“Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus mandou seu Filho, nascido de
mulher... e... mandou aos nossos corações o Espírito de seu Filho que
clama: Abba, Pai!” (Gl 4,4.6). Sua missão é nos introduzir na comunhão
com Deus. Justamente por intermédio do Espírito é que o amor de Deus é
derramado em nossos corações e nos tornamos morada do Altíssimo, irmãos
de Cristo, irmãos uns dos outros, filhos no Filho (cf. Gl 4,6; Rm
8,14-17), capazes de compartilhar sua caridade com todos sendo
co-herdeiros da sua glória.
No texto da carta aos Gálatas, apenas mencionado, o paralelismo
entre a missão do Filho e do Espírito indica que este, mesmo que
indissoluvelmente unido com o Pai e o Filho, não é só energia divina,
mas sujeito pessoal distinto; assim observamos que, em diversos textos,
Ele age livremente, deseja, intercede. Ele é igualmente pessoa ao lado
do Pai e do Filho (cf. Mt 28,19; 2Cor 13,13); finalmente, sobretudo, nos
discursos da última ceia, onde aparece como o outro “paráclito”, amigo e
defensor, depois de Jesus, será enviado pelo Pai e pelo Filho (cf. Jo
14,16.26; 15,26; 16.13-14). Sua manifestação como Pessoa divina é ligada
à sua abundante efusão no mistério de Pentecostes.
Segundo a fé da Igreja, o Espírito Santo é Deus junto com o Pai e
o Filho, e procede “do Pai e do Filho, não como dois princípios, mas
como de um só” (DZ 850), no sentido de que o Pai é a fonte principal e o
Filho a derivada. Por isso também dizemos, de acordo com os cristãos do
Oriente, que o Espírito Santo procede “do Pai pelo Filho” (DZ 1301; AG
2). Por outro lado, justamente porque procede do Pai enquanto tal,
procede também do Filho e supõe sua geração.
João Paulo II nos diz que o Espírito Santo “é Pessoa-amor; é Pessoa-dom” (cf. Dominum et vivificantem10);
é amor doado pelo Pai e acolhido pelo Filho, dinamismo eterno e ao
mesmo tempo beleza do ser, pelo qual o Doador e o Receptor estão um no
outro: “É o sopro do Pai, enquanto diz o Verbo” (cf. São João
Damasceno). O Pai gera o Filho atraindo-O a si no Espírito; o Filho é
voltado para o Pai no Espírito. Neste “amor-dom” incriado encontram sua
suprema razão os dons doados por Deus às criaturas: a vida, a
santificação, a glória. Dele provém a novidade inesgotável; dele a
tendência para a perfeição e a unidade.
Assim, o Espírito Santo, força do amor, movimento que leva cada
coisa à sua plena realização em Deus, é infinita força de amor que vem
do Pai e a Ele volta por meio do Filho, atraindo a Ele todas as
criaturas, para que vivam em plenitude. Ele “sopra onde quer” (Jo 3,8); é
misterioso e incorpóreo, como seus símbolos: vento (At 2,2), água (Ap
21,6), fogo (At 2,3-4), nuvem (Lc 1,35), unção (Lc 4,18-19). Chega em
toda parte, como presença atuante do Pai e do Filho que faz viver e
santifica. Mas, é na Igreja o lugar onde “floresce o Espírito” (cf.
Santo Hipólito de Roma).
Frente ao que dissemos, podemos contemplar o Espírito Santo,
Senhor e vivificador, terceira pessoa da Santíssima Trindade, verdadeiro
Deus como o Pai e o Filho e afirmar que: sem Ele, o Pai está distante, o
Cristo é coisa do passado, o Evangelho é letra morta, a Igreja uma mera
organização, a autoridade uma dominação, a missão uma propaganda vazia,
o culto uma evocação, o agir cristão uma moral de escravos. Mas, com
Ele, o cosmo é elevado e geme no parto do Reino; o ser humano luta
contra a carne; Jesus Cristo – Senhor ressuscitado – está presente; o
Evangelho é força de vida; a Igreja é sinal de comunhão trinitária; a
autoridade é serviço libertador; a missão é um Pentecostes; a liturgia é
memorial e antecipação; o agir humano é divinizado”.
Pe. Leandro Miguel Chiarello
SCE da Região RS -1 e da
Eq. N. S. do Bom Conselho - Setor BSCE da Região RS -1 e da
Fonte: http://www.ens.org.br/site/index.php?secao=4&edicao=201005&texto=438
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