Vida Nova e Cruz...
Mons. José Maria
Pereira
O chamamento
à conversão constitui o tema central do terceiro domingo da Quaresma.
O Profeta
Ezequiel diz: “Convertei-vos, senão vós morrereis” (Ez 33,11). Deste modo uma
questão se impõe: Que significa converter-se? Trata-se, antes de tudo, da
conformidade das ações com a vontade divina, à qual cumpre uma adesão total. É
a obediência da fé.
O Papa
Bento XVI assim se expressou: “converter-se significa não viver como todo mundo
vive, não fazer o que todo mundo faz, não se sentir justificado fazendo ações
duvidosas, ambíguas ou más pelo fato de que outros assim procedem; começar a
olhar a própria vida com os olhos de Deus, portanto, procurar o bem, mesmo se
isto contesta a sociedade. Não se submeter ao julgamento dos homens, mas, sim,
à avaliação de Deus, ou em outras palavras: procurar um novo estilo de vida,
uma vida nova”. Não se trata assim de um falso moralismo, mas de não se perder
de vista a essência da mensagem de Cristo, mantendo firmemente o dom da nova
amizade, o dom da comunhão com Jesus.
No
Evangelho (Lc 13, 1-9) é forte o apelo à conversão: o texto fala de dois
acontecimentos trágicos daqueles dias: a matança de Pilatos... e a queda da
torre de Siloé: 18 mortos.
Jesus não
concorda que a desgraça é sinal do castigo de Deus, pelo contrário, é um apelo
de conversão aos sobreviventes: “Vocês pensam que eles eram mais pecadores do
que vocês? Se vocês não se converterem, morrerão todos do mesmo modo...” (Lc
13, 2-3). Palavras severas que nos fazem compreender que, com Deus, não se pode
brincar; e, no entanto, palavras que procedem do amor de Deus que, por todos os
meios, quer a salvação de todas as suas criaturas.
Conversão
não é apenas uma penitência externa, ou um simples arrependimento dos pecados;
é um convite à mudança de vida, de mentalidade, de atitudes, de forma que Deus
e os seus valores passem a estar em primeiro lugar. Significa abraçar a Cruz!
Já ensinava
o Mestre: “Se alguém quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz
e siga-me” (Mt 16,24). Não existe verdadeira conversão, nem autêntico
seguimento do Senhor sem a Cruz. As palavras de Jesus Cristo têm plena vigência
em todos os tempos, uma vez que foram dirigidas a todos os homens, pois quem
não carrega a sua cruz e me segue – diz – nos Ele a cada um – não pode ser meu
discípulo.
Carregar a
Cruz – aceitar a dor e as contrariedades que Deus permite para nossa
purificação, cumprir com esforço os deveres próprios, assumir voluntariamente a
mortificação cristã – é condição indispensável para seguir o Mestre.
“Que seria
de um Evangelho, de um cristianismo sem Cruz, sem dor, sem o sacrifício da
dor?, perguntava-se o Papa Paulo VI. Seria um Evangelho, um cristianismo sem
Redenção, sem salvação, da qual – devemos reconhecê-lo com plena sinceridade
temos necessidade absoluta. O Senhor salvou-nos por meio da Cruz; com a sua
morte, devolveu-nos a esperança, o direito à vida...” Seria um cristianismo
desvirtuado que não serviria para alcançar o Céu, pois “o mundo não pode
salvar-se senão por meio da Cruz de Cristo” (São Leão Magno).
São Paulo
escrevia que a Cruz é escândalo para os judeus, loucura para os gentios. E
mesmo os cristãos, na medida em que perdem o sentido sobrenatural das suas
vidas, não conseguem entender que só possamos seguir o Senhor através de uma
vida de sacrifício, junto da Cruz.
O Cristão
que vive fugindo sistematicamente do sacrifício, que se revolta com a dor,
afasta-se também da santidade e da felicidade, que se encontra muito perto da
Cruz, muito perto de Cristo Redentor. “Se não te mortificas, nunca serás alma
de oração” (Caminho, 172). E Santa Teresa ensina: “Pensar que (o Senhor) admite
na sua amizade gente regalada e sem trabalhos é disparate”.
Devemos
perder o medo ao sacrifício, à mortificação voluntária, pois quem quer a Cruz
para cada um de nós é um Pai que nos ama e que sabe o que mais nos convém.
O Senhor
quer sempre o melhor para nós: “Vinde a mim todos os que estais fatigados e
sobrecarregados, e eu vos aliviarei...” (Mt 11,28). Ao lado de Cristo, as
tribulações e penas não oprimem, não pesam, e, pelo contrário, levam a alma a
orar, a ver a Deus nos acontecimentos da vida.
Rumo à
Páscoa, o Senhor nos conceda a graça de uma verdadeira conversão!
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