Mons. José Maria Pereira
Aproximando-se
o dia de Natal a Liturgia faz um convite à alegria! “Alegrai-vos sempre no
Senhor; eu repito,alegrai-vos” (Fl 4, 4-7), exorta S. Paulo.
A Profecia de Sofonias (Sf 3,
14-18) é um Hino à alegria, porque foi revogada a sentença que condenava Judá.
O próprio Deus estará no meio do povo, como Salvador. “Alegra-te de todo o
coração, cidade de Jerusalém... não tenhas medo, Sião... O Senhor, teu Deus,
está no meio de ti, como poderoso Salvador...”
A
fonte da alegria cristã é a certeza de que Deus nos ama e está no meio de nós
com uma proposta de salvação e de felicidade.
O
Salmo reforça o motivo da alegria: “Alegrai-vos, habitantes de Sião , porque é
grande em vosso meio o Deus Santo de Israel...” (Is 12,6).
No
Evangelho (Lc 3, 10-18), João Batista anuncia alegria pelo Salvador que vem,
mas está preocupado com algo que pode estragar tudo: Os pecados... E faz um
veemente apelo à conversão...
-O povo acolhe o apelo e
pergunta: “E nós, o que devemos fazer?”
A alegria do
Advento e a de cada dia é porque Jesus está muito perto de nós.A alegria cristã
não é uma atitude passageira de festas humanas, mas um estado permanente, de
quem confia que a vida cristã é uma caminhada ao encontro do Senhor que vem. A
alegria é um dos sinais da presença de Deus no coração de uma pessoa.
“Alegra-te,
cheia de graça, porque o Senhor está contigo”, diz o Anjo a Maria. A causa da
alegria na Virgem é a proximidade de Deus. E o Batista, ainda não nascido, saltará
de alegria no seio de Isabel ante a proximidade do Messias. E o Anjo dirá aos
pastores: Não temais, trago-vos uma boa nova, uma grande alegria que é para
todo o povo, pois nasceu-vos hoje um salvador...” (Lc 2, 10-11). A alegria é
ter Jesus, a tristeza é perdê-Lo.
Jesus, após a
Ressurreição, aparecerá aos seus discípulos em diversas ocasiões. E o
evangelista irá sublinhando repetidas vezes que os Apóstolos “se alegraram
vendo o Senhor” (Jo 20,20). Eles não esquecerão nunca esses encontros em que as
suas almas experimentaram uma alegria indescritível.
Poderemos
estar alegres se o Senhor estiver verdadeiramente presente na nossa vida, se
não o tivermos perdido, se não tivermos os olhos turvados pela tibieza ou pela
falta de generosidade. Quando, para encontrar a felicidade, se experimentam
outros caminhos fora daquele que leva a Deus, no fim só se acha infelicidade e
tristeza. Fora de Deus não há alegria verdadeira. Não pode havê-la. Encontrar
Cristo, ou tornar a encontrá-Lo, é fonte de uma alegria profunda e sempre nova.
O cristão deve
ser um homem essencialmente alegre. Mas a sua alegria não é uma alegria
qualquer, é a alegria de Cristo, que traz a justiça e a paz, e que só Ele pode
dar e conservar, porque o mundo não possui o seu segredo.
A alegria do
mundo procede de coisas exteriores: nasce precisamente quando o homem consegue
escapar de si próprio, quando olha para fora, quando consegue desviar o olhar
do seu mundo interior, que produz solidão porque é olhar para o vazio. O
cristão leva a alegria dentro de si, porque encontra a Deus na sua alma em Graça. Esta é a fonte
da sua alegria! Não nos é difícil imaginar a Virgem Maria, nestes dias do
Advento, radiante de alegria com o Filho de Deus no seu seio. A alegria do
mundo é pobre e passageira. A alegria do cristão é profunda e capaz de
subsistir no meio das dificuldades. É compatível com a dor, com a doença, com o
fracasso e as contradições. “Eu vos darei uma alegria que ninguém vos poderá
tirar” (Jo 16,22), prometeu o Senhor. Nada nem ninguém nos arrebatará essa paz
gozosa, se não nos separarmos da sua fonte.
A nossa
alegria deve ter um fundamento sólido. Não se pode apoiar exclusivamente em
coisas passageiras: notícias agradáveis, saúde, tranqüilidade, situação
econômica desafogada, etc., coisas que em si são boas se não estiverem
desligadas de Deus,mas que por si mesmas são insuficientes para nos
proporcionarem a verdadeira alegria.
O Senhor pede
que estejamos sempre alegres! Só Ele é capaz de sustentar tudo na nossa vida.
Não há tristeza que Ele não possa curar: “Não temas, mas apenas crê” (Lc 8,50),
diz-nos o Senhor.
Fujamos da
tristeza! Uma alma triste está à mercê de muitas tentações. Quantos pecados se
têm cometido à sombra da tristeza!Por outro lado, quando a alma está alegre,
abre-se e é estímulo para os outros; quando está triste obscurece o ambiente e
faz mal aos que tem à sua volta.
A tristeza
nasce do egoísmo, de pensarmos em nós mesmos esquecendo os outros. Quem anda
excessivamente preocupado consigo próprio dificilmente encontrará a alegria da
abertura para Deus e para os outros. Em contrapartida, com o cumprimento alegre
dos nossos deveres, podemos fazer muito bem à nossa volta, pois essa alegria
leva a Deus.
“Dentro de
pouco, de muito pouco, Aquele que vem chegará e não tardará” (Hb 10,37), e com
Ele chegarão a paz e a alegria; em Jesus encontraremos o sentido da nossa vida.
Que a nossa
alegria seja um testemunho muito forte de que Cristo já está no meio de nós.
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