Um Rei diferente
Mons. José Maria Pereira
A
solenidade de hoje, Jesus Cristo, Rei do Universo, no último domingo do ano
litúrgico, é como uma síntese de todo o mistério salvífico. Com ela encerra-se
o ano litúrgico: depois de termos celebrado todos os mistérios da vida do
Senhor, apresenta-se agora à nossa consideração Cristo glorioso, Rei de toda a
criação e das nossas almas. Ainda que as festas da Epifania, Páscoa e Ascensão
sejam também festas de Cristo Rei e Senhor de todas as coisa criadas, a de hoje
foi especialmente instituída para nos mostrar Jesus como único soberano de uma
sociedade que parece querer viver de costas para Deus.
Os textos
bíblicos salientam o amor de Cristo-Rei, que veio estabelecer o seu reinado,
não com a força de um conquistador, mas com a bondade e a mansidão do pastor:
“Eis que eu mesmo buscarei minhas ovelhas e tomarei conta delas. Como o pastor
toma conta do rebanho quando ele próprio se encontra no meio das ovelhas
dispersadas, assim irei visitar as minhas ovelhas e as resgatarei de todos os
lugares em que foram dispersas em dia de nuvens e de escuridão” (Ez 34, 11-12).
Foi com
esta solicitude que o Senhor veio em busca dos homens dispersos e afastados de
Deus pelo pecado. Tanto os amou que deu a vida por eles. Disse o Beato João
Paulo II: “Como Rei, vem para revelar o amor de Deus, para ser o Mediador da
Nova Aliança, o Redentor do homem. O Reino instaurado por Jesus Cristo atua
como fermento e sinal de salvação a fim de construir um mundo mais justo, mais
fraterno, mais solidário, inspirado nos valores evangélicos da esperança e da
futura bem-aventurança a que todos estamos chamados. Por isso, no Prefácio da
Missa de hoje, fala-se de Jesus que ofereceu ao Pai um reino de verdade e de
vida, de santidade e de graça, de justiça, de amor e de paz.”
Assim é o
Reino de Cristo, do qual somos chamados a participar e que somos convidados a
dilatar mediante um apostolado fecundo. O Senhor deve estar presente nos nossos familiares, amigos,
vizinhos, companheiros de trabalho...
A atitude
do cristão não pode ser de mera passividade em relação ao reinado de Cristo no
mundo. Nós desejamos ardentemente esse reinado. “Venha a nós o vosso Reino”,
rezamos na oração do Pai-Nosso. É necessário que Cristo reine em primeiro lugar
na nossa inteligência, mediante o conhecimento da sua doutrina e o acatamento
amoroso dessas verdades reveladas. É necessário que reine na nossa vontade,
para que se identifique cada vez mais plenamente com a vontade divina. É
necessário que reine no nosso coração, para que nenhum amor anteponha ao amor
de Deus. É necessário que reine no nosso corpo, templo do Espírito Santo; no
nosso trabalho profissional, caminho de santidade.
No
Evangelho (Jo 18, 33-37), Jesus respondeu a Pilatos: “O meu reino não é deste
mundo... Para isso nasci e para isso vim ao mundo...” Não sendo deste mundo, o
Reino de Cristo começa já nesta terra. O seu reinado expande-se entre os homens
quando eles se sentem filhos de Deus, quando se alimentam d’Ele (na Eucaristia)
e vivem para Ele.
Um ladrão foi
o primeiro a reconhecer a sua realeza: “Senhor, lembra-te de mim quando
entrares no teu reino” (Lc 23, 42).
Hoje
ouvimos o Senhor dizer-nos na intimidade do nosso coração: “Eu tenho sobre ti
desígnios de paz e não de aflição” (Jr 29,11). E fazemos o propósito de
corrigir no nosso coração o que não estiver de acordo com o querer de Cristo.
Ao mesmo
tempo, pedimos-lhe que nos reforce a vontade de colaborar na tarefa de estender
o seu reinado ao nosso redor e em tantos lugares em que ainda não o conhecem.
“Venha a
nós o vosso Reino”.
Que esse
Reino venha de fato ao nosso coração e ao coração de todos os homens: Reino de
Verdade e de Vida; Reino de Santidade e de Graça; Reino de Justiça, de Amor e
de Paz...
Sejamos
mensageiros desse Reino, na família, na rua, na sociedade, no ambiente de
trabalho...
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