III DOMINGO COMUM - ANO B
(21/01/2018)
CONVERSÃO E SEGUIMENTO
O início da atividade
apostólica de Jesus, para S. Marcos, é um convite à conversão (Mc 1, 14-20).
Quando Jesus começou a pregar, as primeiras palavras que disse foram estas :
“Completou – se o tempo, e o
Reino de Deus está próximo. Convertei – vos e crede na Boa Nova” ( Mc1,15).
Acabou-se o tempo das promessas
e da espera: O Messias chegou e está começando o seu ministério! A sua presença
é a plenitude dos tempos, tornando-os veículos da misericórdia de Deus e da
história da salvação.
Para acolher Jesus, a condição
primeira é a conversão, a mudança profunda de vida que exige, sobretudo, a luta
contra o pecado e, consequentemente, a rejeição de tudo aquilo que o pode
desviar do amor e da Lei de Deus. Uma conversão parecida à que Deus exigiu à
cidade de Nínive, por meio da pregação de Jonas, e que os seus habitantes
praticaram, abandonando “o seu mau caminho” (Jn 3, 10). Mas, a fuga do pecado é
apenas a primeira fase da conversão anunciada por Jesus, que exige também um
segundo momento que é destacado no Evangelho: “Acreditai na Boa-Nova”.
O
cristão tem que aderir positivamente ao Evangelho com uma fé vivificada pelo
amor, que não se fica apenas na sua aceitação teórica, mais procura
evidenciá-lo com a vida prática. É necessário e urgente, pois, deixar de lado a
mentalidade terrena que faz com que o homem viva e atue apenas com vistas à
felicidade e aos interesses temporais.
O Evangelho diz: Convertei – vos! Paulo
esmiúça esta importante palavra em algumas atitudes mais concretas; diz – nos:
os que têm mulher vivam como se não tivessem(...) os que choram, como se não
chorassem. “A aparência (a figura) deste mundo passa”, adverte S. Paulo (1 Cor
7,29 - 31).
Estamos diante de um paradoxo: Quem está casado, viva como se não o
estivesse! É uma palavra forte, aparentemente em contraste com todas as coisas
belas que, em outras circunstâncias, a Palavra de Deus nos disse sobre o
matrimônio. Mas o contraste é somente aparente.
Ela se atém apenas a explicar a
palavra dita por Jesus aos saduceus, a respeito da mulher que tinha passado por
sete maridos: “Neste mundo, homens e mulheres casam – se, mas os que forem
julgados dignos de participar do mundo futuro e da ressurreição dos mortos não
se casam...” ( Lc20, 34s).
É preciso criar-se uma
consciência cristã capaz de fomentar desejos, intenções, hábitos, e
comportamentos em total sintonia com o Evangelho de Cristo. E isto é tão
urgente quanto “o tempo é breve” (1 Cor 7, 29), brevidade esta fixada
precisamente pela vinda de Cristo e da qual não fica mais que uma fase histórica,
ou seja, a que separa o dia de hoje da sua última vinda. O tempo não tem mais
que um sentido: acertar os passos do homem – individual ou coletivamente - no
seu caminho para a eternidade.
A Palavra de Deus nos leva a
refletir numa dimensão essencial da vida cristã: a provisoriedade, viver como
peregrinos e forasteiros. Diz – nos São Pedro: “”Caríssimos, eu vos exorto como
a migrantes e forasteiros: afastai – vos das paixões carnais, que fazem guerra
a vós mesmos.”. Estes termos nos lembram que o nosso viver é provisório, com o
pé na estrada, impelidos pela pressa, mas uma pressa boa que se chama fervor,
como a dos hebreus quando estavam para deixar o Egito ( Cf. Ex 12,11). Não
temos aqui cidade permanente, mas estamos à procura da que está para vir. Nós
somos cidadãos do céu... ( Hb 13,14 e Fl 3,20).
O convite à conversão
estende-se a todos os povos. O tema da conversão e da penitência poderia
parecer um tema quaresmal. Porém não é assim! Toda a nossa vida deve ser
marcada pela conversão; o ano todo é tempo de conversão; a vida toda é tempo de
conversão!
Converter-se significa crer no
Evangelho, ou seja, significa pautar a vida pela Boa-Nova, ou o Evangelho de
Deus. Significa entrar no discipulado de Cristo. É pautar a nossa vida segundo
os ensinamentos e os exemplos do próprio Cristo, em relação a Deus, como seus
filhos; em relação ao próximo, como nosso irmão e irmã.
No Evangelho somos chamados,
como Simão e André, a aceitar o convite de Jesus: “Segui-me e eu farei de vós
pescadores de homens” (Mc 1, 17). Entramos no discipulado de Jesus se fizermos
como Tiago e João: “Jesus os chamou. E eles, deixando o pai Zebedeu na barca
com os empregados, o seguiram” (Mc 1, 19-20).
Estes homens deixaram tudo
imediatamente e seguiram o Mestre.
Para seguirmos o Senhor, é preciso
que tenhamos a alma livre de todo o apegamento; em primeiro lugar, do amor
próprio, da preocupação excessiva pela saúde, pelo futuro…, pelas riquezas e
bens materiais. Porque, quando o coração se enche dos bens da terra, já não
resta lugar para Deus. Por isso o cristão necessita de uma vigilância contínua,
de um exame frequente, para que os bens criados não o impeçam de unir-se a
Deus, antes sejam um meio de amá-Lo e servi-Lo.
Ensina o concílio Vaticano II,
na Lumen Gentium: “Cuidem todos, portanto, de dirigir retamente os seus afetos,
para que, por causa das coisas deste mundo e do apego às riquezas, não
encontrem um obstáculo que os afaste, contra o espírito de pobreza evangélica,
da busca da caridade perfeita, segundo ensinamento de S. Paulo: “Os que usam
deste mundo, como se dele não usassem. Pois a figura deste mundo passa” (1 cor
7,31); (LG. 42).
Cristo continua dirigindo ainda
hoje o mesmo apelo: “Vinde após mim e eu farei de vós pescadores de homens” (Mc
1, 17).
É um chamamento para aderir à
pessoa de Jesus, para fazer aprender com Ele a ser uma pessoa nova que vive no
amor a Deus e aos irmãos.
Todos os batizados são chamados
a ser discípulos de Jesus, a “Converter-se”, a acreditar no Evangelho, a seguir
Jesus nesse caminho de amor e de dom da vida.
MONSENHOR JOSÉ MARIA PEREIRA
Sacerdote Conselheiro Espiritual da Região RIO II