Aumentar a FÉ!
Mons. José Maria
Pereira
No
Evangelho, em Lc 17, 5-10, surge a súplica dos Apóstolos: “Senhor, aumenta a
nossa fé!” E Jesus disse-lhes: “se vós tivésseis fé, mesmo pequena como um grão
de mostarda, poderíeis dizer a esta amoreira: arranca-te daqui e planta-te no
mar, e ela vos obedeceria”. É uma linguagem figurada que exprime a onipotência
da fé. Jesus não pede muito; pede apenas um pouquinho de fé, como o minúsculo
grão de mostarda, bem menor do que a cabeça de um alfinete; mas, se for
sincera, viva, convicta, a fé será capaz de coisas muito maiores, inconcebíveis
à compreensão humana. Jesus quer educar os seus discípulos numa fé sem
incerteza nem vacilações, numa fé que, apoiada na força de Deus, tudo crê, tudo
espera, a tudo se atreve, e persevera invencível, mesmo nas dificuldades mais
árduas e difíceis.
Precisamos de uma fé firme, que nos
leve a alcançar metas que estão acima das nossas forças, que aplaine os
obstáculos e supere os “impossíveis” na nossa tarefa apostólica. É esta a
virtude que nos dá a verdadeira dimensão dos acontecimentos e nos permite
julgar retamente todas as coisas. Só pela luz da fé e pela meditação da palavra
de Deus é que se pode sempre e por toda a parte divisar Deus “em quem vivemos e
nos movemos e somos” (At 17, 28), procurar a sua vontade em todos os
acontecimentos, ver Cristo em todos os homens, sejam próximos ou estranhos, e
julgar com retidão sobre o verdadeiro significado e valor das coisas temporais,
em si mesmas e em relação ao fim do homem.
Devemos pedir ao Senhor uma fé firme
que reanime o nosso amor e nos faça superar as nossas fraquezas, a fim de
sermos testemunhas vivas no lugar em que se desenvolve a nossa vida.
Que força comunica a fé! Com ela
superamos os obstáculos de um ambiente adverso e as dificuldades pessoais, que
com muita freqüência são mais difíceis de vencer.
Houve ocasiões em que Jesus chamou
aos Apóstolos “homens de pouca fé” (Mt 8, 26; 6, 30), pois não se encontravam à
altura das circunstâncias. O Messias estava com eles, e no entanto tremiam de
medo diante de uma tempestade no mar (Mt 8, 26), ou preocupavam-se
excessivamente com o futuro, quando fora o próprio Cristo quem os chamara para
que O seguissem. “Senhor, aumenta-nos a fé, pediram a Jesus. O Senhor atendeu a
esse pedido, pois todos eles acabaram por dar a vida em testemunho supremo da
sua firme adesão a Cristo e aos seus ensinamentos.
Nós também nos sentimos por vezes
carentes de fé diante das dificuldades, da carência de meios, como os Apóstolos...
Precisamos de mais fé! E ela aumenta com a petição assídua, com a
correspondência às graças que recebemos, com atos de fé. “Falta-nos fé. No dia
em que vivermos esta virtude – confiando em Deus e na sua Mãe –, seremos
valentes e leais. Deus, que é o Deus de sempre, fará milagres por nossas mãos.
Dá-me, ó Jesus, essa fé, que de verdade desejo! Minha Mãe e Senhora minha,
Maria Santíssima, faz que eu creia!” (São Josemaria Escrivá, Forja, nº. 235).
Senhor, aumenta-nos a fé! Que boa
jaculatória para que a repitamos ao Senhor muitas vezes!
A fé é um dom de Deus que a nossa
pequenez nem sempre consegue sustentar. Por vezes, é tão pequena como um
grãozinho de mostarda. Não nos surpreendamos com a nossa debilidade, pois Deus
conta com ela. Imitemos os Apóstolos quando compreenderam que tudo aquilo que
viam e ouviam excedia a sua capacidade. Peçamos a Cristo, através de Nossa
Senhora e com a humildade dos discípulos, que nos aumente a fé, para que, como
eles, possamos ser fiéis até o fim dos nossos dias e levemos muitas pessoas até
Ele, como fizeram aqueles que O seguiam de perto em todos os tempos.
Diante das provações, dos desafios, o
Senhor nos fala pelo Profeta Habacuc: “... o justo viverá por sua fé” (Hab 2,
4). Este ensinamento tanto é para o israelita, como para o cristão de todos os
tempos; é válido em qualquer circunstância da vida dos indivíduos, dos povos ou
da Igreja. Mesmo que tudo aconteça como se Deus não existisse ou não visse, é
necessário permanecer firmes na fé. Deus não pode demorar a Sua intervenção e
intervirá, certamente, em favor dos que acreditam nEle e nEle depositam a sua
confiança. “Deus concorre em tudo para o bem dos que O amam” (Rm 8, 28).