Jesus
e a Morte
Mons. José Maria Pereira
Neste domingo a própria liturgia nos dá
a chave para compreender o texto evangélico de Jo 11,1-45 : Jesus se apresenta
como o SENHOR DA VIDA. No prefácio da Missa se diz: “Verdadeiro homem, Jesus
chorou o amigo Lázaro. Deus vivo e eterno, ele o ressuscitou, tirando-o do
túmulo. Compadecendo-se da humanidade, que jaz na morte do pecado, por seus
sagrados mistérios ele nos eleva ao reino da vida nova.”
A
doença e a morte do amigo Lázaro constituem ótima oportunidade para uma
profissão de fé em Jesus Cristo, que se apresenta como a Ressurreição e a Vida.
Entre
as ressurreições operadas por Cristo, a de Lázaro tem uma importância
fundamental, pois se trata de um morto que está no sepulcro há quatro dias. A
resposta dada por Jesus àqueles que Lhe anunciam a doença de Lázaro: “Essa
doença não leva à morte; é antes para a glória de Deus” (Jo 11,4): A glória de
que fala Cristo, diz Santo Agostinho, “não foi um ganho para Jesus, mas
proveito para nós. Portanto, diz Jesus que a doença não é de morte,porque
aquela morte não era para morte, mas antes em ordem a um milagre, pelo qual os
homens cressem em Cristo e evitassem assim a verdadeira morte.” É encantador o
diálogo entre Jesus e Marta: “Disse Marta a Jesus: Senhor, se estivesses aqui,
meu irmão não teria morrido. Mas, mesmo assim eu sei que o que pedires a Deus,
Ele te concederá. Disse-lhe Jesus: Teu irmão ressuscitará. Eu sei , disse
Marta, que ele ressuscitará na ressurreição, no último dia! Disse-lhe Jesus:Eu
sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. E todo
aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais! Crês isto? Disse ela: Sim,
Senhor, eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus que devia vir ao mundo”
(Jo 11, 21-27).
Segundo
Santo Agostinho, o pedido de Marta é um exemplo de oração confiante e de
abandono nas mãos do Senhor que sabe melhor que nós o que nos convém.
Por
isso, “não Lhe disse: Rogo-Te agora que ressuscites meu irmão (...) Somente
disse: Sei que tudo podes e fazes tudo o que queres; mas fazê-lo fica ao Teu
juízo, não aos meus desejos.”
“Eu sou a ressurreição e a vida ...” (Jo 11,
25). Estamos diante de uma das definições concisas que o Senhor deu de Si
mesmo! É a ressurreição porque com a Sua Vitória sobre a morte é causa da
ressurreição de todos os homens. O milagre que vai realizar com Lázaro é um
sinal desse poder vivificador de Cristo. Assim, pela fé em Jesus Cristo que foi
o primeiro a ressuscitar de entre os mortos; o cristão está seguro de
ressuscitar também um dia, como Cristo (1 Cor 15,23; Col. 1,18). Por isso para
quem tem fé a morte não é o fim, mas a passagem para a vida eterna, uma mudança
de morada como diz um dos Prefácios da Liturgia dos defuntos: “Senhor, para os
que crêem em vós, a vida não é tirada, mas transformada. E, desfeito o nosso
corpo mortal, nos é dado nos céus, um corpo imperecível.”
“
E Jesus chorou” (Jo 11, 35). Podemos contemplar a profundidade e delicadeza dos
sentimentos de Jesus. Se a morte corporal do amigo arranca lágrimas ao Senhor,
que não fará a morte espiritual do pecador, causa da sua condenação eterna?
Disse Santo Agostinho: “ Cristo chorou: chore também o homem sobre si mesmo.
Por que chorou Cristo senão para ensinar o homem a chorar?” Choremos nós
também, mas pelos nossos pecados, para que voltemos à vida da graça pela
conversão e pelo arrependimento. Não desprezemos as lágrimas do Senhor, que
chora por nós, pecadores. Disse São Josemaria Escrivá: “Jesus é teu amigo. - O Amigo.
- Com coração de carne, como o teu. – Com olhos de olhar amabilíssimo, que
choraram por Lázaro... E tanto como a Lázaro, quere-te a Ti” (Caminho, nº 422).
Ao
aproximar-se a Páscoa, o relato da ressurreição de Lázaro é uma exortação para
que nos libertemos, cada vez mais, do pecado, confiando no poder vivificador de
Cristo que quer tornar os homens participantes de Sua própria ressurreição.
Santo
Agostinho vê na ressurreição de Lázaro uma figura do Sacramento da Penitência
(Confissão): como Lázaro do túmulo “sais tu quando te confessas. Pois, que quer
dizer sair senão manifestar-se como vindo de um lugar oculto? Mas para que te
confesses, Deus dá um grande grito, chama-te com uma graça extraordinária. E
assim como o defunto saiu ainda atado, também o que se vai confessar ainda é
réu. Para que fique desatado dos seus pecados disse Senhor aos ministros:
Desatai-o e deixai-o andar. Que quer dizer desatai-o e deixai-o andar? O que
desligares na terra, será desligado no céu”.
Podemos
aplicar esse fato à ressurreição espiritual da alma em pecado que recobre a
graça. Deus quer a nossa salvação (1 Tm 2,4), portanto, jamais havemos de
desanimar no nosso afã e esperança por alcançar essa meta: “Nunca desesperes.
Morto e corrompido estava Lázaro: já fede, porque há quatro dias que está
enterrado (Jo 11, 3-9), diz Marta a Jesus.
“Se
ouvires a inspiração de Deus e a seguires (Lázaro vem para fora!), voltarás à
Vida” (Caminho, nº 719).
Pela
fé em Jesus Cristo, Vida e Ressurreição, resolve-se a questão mais fundamental
do homem: a vida. Jesus nos garante: “ Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem crê
em Mim, mesmo que morra, viverá.
Que
a Quaresma nos ajude na conversão rumo à Páscoa! Como discípulos missionários
ajudemos os muitos Lázaros que estão no sepulcro, esperando por quem grite:
“Lázaro, vem para fora”!
Agora
há um Salvador! Há Jesus Cristo entre nós. Ele está diante de nós e nos chama
como a Lázaro: Vem para fora! Vem para fora de tua indiferença, de tua
preguiça, de teu egoísmo, da desordem em que vives; vem para fora de tua
dissipação, de teu desespero. As palavras proféticas de Ezequiel 37,12-14, se
tornam com Cristo uma realidade: “ Eis, vou abrir vossos sepulcros, ó povo
meu... Infundirei meu espírito em vós e revivereis”.
Podemos
dizer como Tomé: “Vamos também nós morrer com Ele (Jo 11,16); morrer aos nossos
pecados, vamos nos converter para ressuscitar com Ele como criaturas novas,
purificados pelo seu sangue e pelo
perdão que nos dá mediante a Igreja.
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