sexta-feira, 4 de abril de 2014

Homilía dominical dia 06/04/2014 Jo 11, 1-45


Jesus e a Morte
Mons. José Maria Pereira

         Neste domingo a própria liturgia nos dá a chave para compreender o texto evangélico de Jo 11,1-45 : Jesus se apresenta como o SENHOR DA VIDA. No prefácio da Missa se diz: “Verdadeiro homem, Jesus chorou o amigo Lázaro. Deus vivo e eterno, ele o ressuscitou, tirando-o do túmulo. Compadecendo-se da humanidade, que jaz na morte do pecado, por seus sagrados mistérios ele nos eleva ao reino da vida nova.”

A doença e a morte do amigo Lázaro constituem ótima oportunidade para uma profissão de fé em Jesus Cristo, que se apresenta como a Ressurreição e a Vida.

Entre as ressurreições operadas por Cristo, a de Lázaro tem uma importância fundamental, pois se trata de um morto que está no sepulcro há quatro dias. A resposta dada por Jesus àqueles que Lhe anunciam a doença de Lázaro: “Essa doença não leva à morte; é antes para a glória de Deus” (Jo 11,4): A glória de que fala Cristo, diz Santo Agostinho, “não foi um ganho para Jesus, mas proveito para nós. Portanto, diz Jesus que a doença não é de morte,porque aquela morte não era para morte, mas antes em ordem a um milagre, pelo qual os homens cressem em Cristo e evitassem assim a verdadeira morte.” É encantador o diálogo entre Jesus e Marta: “Disse Marta a Jesus: Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido. Mas, mesmo assim eu sei que o que pedires a Deus, Ele te concederá. Disse-lhe Jesus: Teu irmão ressuscitará. Eu sei , disse Marta, que ele ressuscitará na ressurreição, no último dia! Disse-lhe Jesus:Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais! Crês isto? Disse ela: Sim, Senhor, eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus que devia vir ao mundo” (Jo 11, 21-27).

Segundo Santo Agostinho, o pedido de Marta é um exemplo de oração confiante e de abandono nas mãos do Senhor que sabe melhor que nós o que nos convém.       
Por isso, “não Lhe disse: Rogo-Te agora que ressuscites meu irmão (...) Somente disse: Sei que tudo podes e fazes tudo o que queres; mas fazê-lo fica ao Teu juízo, não aos meus desejos.”        

 “Eu sou a ressurreição e a vida ...” (Jo 11, 25). Estamos diante de uma das definições concisas que o Senhor deu de Si mesmo! É a ressurreição porque com a Sua Vitória sobre a morte é causa da ressurreição de todos os homens. O milagre que vai realizar com Lázaro é um sinal desse poder vivificador de Cristo. Assim, pela fé em Jesus Cristo que foi o primeiro a ressuscitar de entre os mortos; o cristão está seguro de ressuscitar também um dia, como Cristo (1 Cor 15,23; Col. 1,18). Por isso para quem tem fé a morte não é o fim, mas a passagem para a vida eterna, uma mudança de morada como diz um dos Prefácios da Liturgia dos defuntos: “Senhor, para os que crêem em vós, a vida não é tirada, mas transformada. E, desfeito o nosso corpo mortal, nos é dado nos céus, um corpo imperecível.”

“ E Jesus chorou” (Jo 11, 35). Podemos contemplar a profundidade e delicadeza dos sentimentos de Jesus. Se a morte corporal do amigo arranca lágrimas ao Senhor, que não fará a morte espiritual do pecador, causa da sua condenação eterna? Disse Santo Agostinho: “ Cristo chorou: chore também o homem sobre si mesmo. Por que chorou Cristo senão para ensinar o homem a chorar?” Choremos nós também, mas pelos nossos pecados, para que voltemos à vida da graça pela conversão e pelo arrependimento. Não desprezemos as lágrimas do Senhor, que chora por nós, pecadores. Disse São Josemaria Escrivá: “Jesus é teu amigo.                                             - O Amigo. - Com coração de carne, como o teu. – Com olhos de olhar amabilíssimo, que choraram por Lázaro... E tanto como a Lázaro, quere-te a Ti” (Caminho, nº 422).

Ao aproximar-se a Páscoa, o relato da ressurreição de Lázaro é uma exortação para que nos libertemos, cada vez mais, do pecado, confiando no poder vivificador de Cristo que quer tornar os homens participantes de Sua própria ressurreição.

Santo Agostinho vê na ressurreição de Lázaro uma figura do Sacramento da Penitência (Confissão): como Lázaro do túmulo “sais tu quando te confessas. Pois, que quer dizer sair senão manifestar-se como vindo de um lugar oculto? Mas para que te confesses, Deus dá um grande grito, chama-te com uma graça extraordinária. E assim como o defunto saiu ainda atado, também o que se vai confessar ainda é réu. Para que fique desatado dos seus pecados disse Senhor aos ministros: Desatai-o e deixai-o andar. Que quer dizer desatai-o e deixai-o andar? O que desligares na terra, será desligado no céu”.

Podemos aplicar esse fato à ressurreição espiritual da alma em pecado que recobre a graça. Deus quer a nossa salvação (1 Tm 2,4), portanto, jamais havemos de desanimar no nosso afã e esperança por alcançar essa meta: “Nunca desesperes. Morto e corrompido estava Lázaro: já fede, porque há quatro dias que está enterrado (Jo 11, 3-9), diz Marta a Jesus.    

                                                                                                       “Se ouvires a inspiração de Deus e a seguires (Lázaro vem para fora!), voltarás à Vida” (Caminho, nº 719).

Pela fé em Jesus Cristo, Vida e Ressurreição, resolve-se a questão mais fundamental do homem: a vida. Jesus nos garante: “ Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem crê em Mim, mesmo que morra, viverá.

Que a Quaresma nos ajude na conversão rumo à Páscoa! Como discípulos missionários ajudemos os muitos Lázaros que estão no sepulcro, esperando por quem grite: “Lázaro, vem para fora”!

Agora há um Salvador! Há Jesus Cristo entre nós. Ele está diante de nós e nos chama como a Lázaro: Vem para fora! Vem para fora de tua indiferença, de tua preguiça, de teu egoísmo, da desordem em que vives; vem para fora de tua dissipação, de teu desespero. As palavras proféticas de Ezequiel 37,12-14, se tornam com Cristo uma realidade: “ Eis, vou abrir vossos sepulcros, ó povo meu... Infundirei meu espírito em vós e revivereis”.

Podemos dizer como Tomé: “Vamos também nós morrer com Ele (Jo 11,16); morrer aos nossos pecados, vamos nos converter para ressuscitar com Ele como criaturas novas, purificados pelo seu sangue e  pelo perdão que nos dá mediante a Igreja.
 



Nenhum comentário:

Postar um comentário