A Virtude da Humildade
A virtude da
humildade constitui o alicerce de todas as outras virtudes.
A humildade
atrai sobre si o amor de Deus e o apreço dos outros, ao passo que a soberba os
repele. Por isso, a primeira leitura (Eclo 3,19-21. 30-31) aconselha-nos: “Nos
teus assuntos, procede com humildade, e haverão de amar-te mais que ao homem
generoso. E na mesma passagem: Torna-te pequeno nas grandezas humanas, e
alcançarás o favor de Deus, e Ele revela os seus segredos aos humildes”.
O homem
humilde compreende melhor a vontade divina e sabe o que Deus lhe vai pedindo em
cada circunstância. O humilde respeita os outros, as suas opiniões e as suas
coisas; possui uma especial fortaleza, pois apóia-se constantemente na bondade
e onipotência de Deus: “Quando sou fraco, então sou forte”, proclama São Paulo.
No Evangelho
(Lc 14, 1. 7-14) no banquete na casa do fariseu, o Senhor diz: “Quando fores
convidado, vai tomar o último lugar, para que, quando vier o que te convidou,
te diga: Amigo vem mais para cima. Então serás honrado na presença de todos os convivas.
Porque todo aquele que se exalta será humilhado; e aquele que se humilha será
exaltado”.
A ambição, uma
das formas de soberba, é causa freqüente de mal-estar em quem se deixa levar
por ela. “Por que ambicionas os primeiros lugares? Para estar por cima dos
outros?”, pergunta-nos São João
Crisóstomo.
A virtude da
humildade não tem nada a ver com a timidez ou a mediocridade. A humildade
leva-nos a ter plena consciência dos talentos que Deus nos deu, mas para
fazê-los render com o coração reto.
A humildade
faz que tenhamos consciência clara de que os nossos talentos e virtudes, tanto
naturais como na ordem da graça, pertencem a Deus, porque da sua plenitude,
todos recebemos. Tudo o que é bom vem de Deus; a deficiência e o pecado, esses,
sim, são nossos. Humildade é reconhecer que valemos pouco – nada -, e ao mesmo
tempo sabermo-nos “portadores de essências divinas de um valor inestimável”.
A humildade
elimina os complexos de inferioridade – que com freqüência resultam da soberba
ferida -, torna-nos alegres e serviçais, sequiosos de amor de Deus: Nosso
Senhor porá em nós tudo o que nos faltar.
Só o humilde
procura a sua felicidade e a sua fortaleza no Senhor. Um dos motivos pelos quais
os soberbos andam à cata de louvores e se sentem feridos por qualquer coisa que
possa rebaixá-los na sua própria estima ou na dos outros, é a falta de firmeza
interior; o seu único ponto de apoio e de esperança são eles próprios.
Os maiores
obstáculos que o homem encontra para caminhar no seguimento de Cristo têm a sua
origem no amor desordenado de si próprio, que o leva umas vezes a
supervalorizar as suas forças e, outras, a cair no desânimo e no desalento.
São Bernardo
indica diferentes manifestações progressivas da soberba: a curiosidade, o
querer saber tudo de todos; a frivolidade de espírito, por falta de
profundidade na oração e na vida; a alegria tola e deslocada, que se alimenta
freqüentemente dos defeitos dos outros e os ridiculariza; a jactância; o
prurido de singularidade; a arrogância; a presunção; o não reconhecer jamais as
falhas próprias, ainda que sejam notórias; a relutância em abrir a alma ao
sacerdote na Confissão, por parecer que não tem faltas...O soberbo é pouco
amigo de conhecer a autêntica realidade do seu coração e muito amigo de calcar
os outros aos pés, seja em pensamento, seja pelas suas atitudes externas.
Juntamente com
a oração, que é sempre o primeiro meio de que devemos socorrer-nos, procuremos
ocasiões de praticar habitualmente a virtude da humildade: nos nossos afazeres,
na nossa vida familiar, quando estamos sozinhos..., sempre!
A humildade é
tão necessária para a salvação que Jesus aproveita qualquer circunstância para
colocá-la em relevo.
Procuremos, na
medida do possível, falar pouco de nós mesmos, dos nossos assuntos, daquilo que
nos exaltaria aos olhos dos outros...; procuremos evitar sempre a ostentação de
qualidades, bens materiais, conhecimentos...
Aceitemos as
contrariedades com paciência, sem mau-humor, oferecendo-as com alegria ao
Senhor; aceitemos sobretudo as pequenas humilhações e injustiças que se
produzem na vida diária, pensando sinceramente: “Que é isso para o que eu
mereço?” (Caminho, nº 690).
Cuidemos de
não insistir nas nossas opiniões, a não ser que a verdade ou a justiça o
exijam, e empreguemos então a moderação unida à firmeza.
Passemos por
alto os erros alheios, desculpando-os e ajudando-os com uma caridade delicada a
superá-los; cedamos à vontade dos outros sempre que não esteja envolvido o
dever ou a caridade.
Aceitemos ser
menosprezados, esquecidos, não consultados nesta ou naquela matéria em que nos
consideramos mais experientes ou em mais conhecimentos; fujamos de ser
admirados ou estimados, retificando a intenção perante os louvores e elogios.
Devemos procurar alcançar o maior prestígio profissional possível, mas por
Deus, não por orgulho, nem para pisar os outros.
Aprenderemos a
ser humildes se nos relacionarmos sempre mais intimamente com Jesus.
Monsenhor José Maria Pereira
(Sacerdote Conselheiro Espiritual das ENS e Reitor do Seminário Diocesano Nossa Senhora do Amor Divino)