XXVII DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO A
A Vinha: Frutos e Missão
O
Profeta Isaías (Is 5, 1-7) mostra como Deus manifestou o seu amor, os seus
cuidados pela vinha, por Israel, o povo eleito e a falta de correspondência a
esse amor. Descreve Israel como uma plantação de Deus, tratada com todos os
cuidados possíveis: “Vou cantar para o meu amado o cântico da vinha de um amigo
meu: um amigo meu possuía uma vinha em fértil encosta. Cercou-a, limpou-a de
pedras, plantou videiras escolhidas, edificou uma torre no meio e construiu um
lagar: esperava que ela produzisse uvas boas, mas produziu uvas azedas. O que
poderia eu ter feito a mais por minha vinha e não fiz?” ( Is 5, 1-4 ).
A
Palestina era um lugar rico em vinhedos, e os Profetas recorreram com
frequência a essa imagem, tão conhecida por todos, para falar do Povo eleito.
Israel era a vinha de Deus, a obra do Senhor, a alegria do seu coração. O
próprio Senhor, como se lê em Mt 21, 33-43, referindo-se ao Profeta Isaías,
revela-nos a paciência de Deus, que manda os seus mensageiros, um após outro,
em busca de frutos. Por fim, envia o seu Filho amado, o próprio Jesus, que os
vinhateiros acabarão por matar: “E, lançando- lhe as mãos, puseram-no fora da
vinha e mataram-no.” É uma referência clara à crucifixão, que teve lugar fora
dos muros de Jerusalém.
Historicamente
ou literalmente, a vinha descreve o povo hebreu, que não correspondeu aos
cuidados divinos; mas é também a Igreja, bem como cada um de nós: “Cristo é a
verdadeira videira, que dá vida e fecundidade aos ramos, quer dizer, a nós que
pela Igreja permanecemos nEle e sem Ele nada podemos fazer” (Jo 15, 1-5). A
história é evocada pelo Salmo 79 (80). É uma alusão clara ao destino do povo de
Israel: tendo recusado os profetas e maltratado “o Filho”, ele vai ser disperso
e o herdeiro das promessas será outo povo.
Meditemos
hoje se o Senhor pode encontrar frutos abundantes na nossa vida; abundantes
porque é muito o que nos foi dado. Frutos de caridade, de trabalho bem feito,
de apostolado com os amigos e familiares; jaculatórias, atos de amor de Deus e
de desagravo ao longo do dia, ações de graças, contrariedades acolhidas com
paz, pequenos sacrifícios praticados discretamente e com toda a naturalidade.
Examinemos também se, ao mesmo tempo, não produzimos essas uvas amargas que são
os pecados, a tibieza, a mediocridade espiritual, a desordem, as faltas de que
não pedimos perdão ao Senhor…
A
Vinha foi cercada, fez nela um lagar… A cerca, o lagar e a torre significam que
Deus não economizou nada para cultivar e embelezar a sua vinha.
Esperava
uvas boas e produziu uvas azedas. O pecado é o fruto amargo das nossas vidas. A
experiência das fraquezas pessoais ressalta com demasiada evidência na história
da humanidade e na de cada homem. “Ninguém se vê inteiramente livre da sua
fraqueza, solidão ou servidão. Antes pelo contrário, todos precisam de Cristo
modelo, mestre, libertador, salvador e vivificador” (Ad Gentes, 8). Os nossos
pecados estão inteiramente relacionados com essa morte do Filho amado, de
Jesus.
Para
produzirmos os frutos de vida que Deus espera diariamente de cada um de nós,
temos em primeiro lugar de pedir ao Senhor e fomentar uma santa aversão por
todas as faltas – mesmo veniais- que ofendem a Deus. Os descuidos na caridade,
os juízos negativos sobre esta ou aquela pessoa, as impaciências, os agravos
não esquecidos, a dispersão dos sentidos internos e externos, o trabalho mal
feito…, “ fazem muito mal à alma. Por isso, diz o Senhor no Cântico dos
Cânticos: caçai as pequenas raposas que destroem a vinha” (Caminho, 329).
É necessário
que nos empenhemos continuamente em afastar tudo aquilo que não é grato ao
Senhor. A alma que detesta o pecado venial deliberado, pouco a pouco vai
crescendo em delicadeza e em finura no trato com o Mestre.
São
Paulo (Fl 4, 6-9) lembra que na nossa fraqueza é preciso que nos apoiemos na
oração. Devemos pedir a graça da fidelidade para que possamos dar muitos
frutos, guardando nossos corações e pensamentos, em Cristo Jesus.
Somos
todos nós, membros do Povo de Deus, a Igreja, que tem a missão de produzir seus
frutos, para não frustrar as esperanças do Senhor na hora da colheita.
Que
frutos estamos produzindo para a realidade do Reino de Deus? Nesse Mês
Missionário, somos convidados a renovar com Deus a Aliança. Se hoje não somos
missionários, não é esse um sinal de que estamos sendo maus vinhateiros?
O
povo a quem foi confiado o Reino somos nós, cristãos, que formamos a Igreja.
Nós somos agora, em sentido especial, a vinha de Deus.
“Ao
chamar os seus para que O sigam, Jesus lhes dá uma missão precisa: anunciar o
Evangelho do Reino a todas as nações (cf. Mt 28, 19 ; Lc 24, 46-48). Por isso,
todo discípulo é missionário, pois Jesus o faz partícipe de sua missão, ao
mesmo tempo que o vincula como amigo e irmão. Cumprir essa missão não é tarefa
opcional, mas parte integrante da identidade cristã, porque é a extensão
testemunhal da Vocação mesma” (Aparecida, 144).
Interessa
que permaneça a fé em Jesus Cristo, a aceitação de sua Palavra. Se esta faltar
como videira, somos rejeitados, somos galhos secos.
A
Palavra de Deus é ainda mais séria se aplicada a cada um de nós. Deus nos deu
tudo. Plantou – nos na Igreja, enxertados em Jesus Cristo no Batismo, podou –
nos e nos alimentou. Agora, tem direito de vir pedir os frutos. E vem, com
efeito, também se nós não percebemos suas visitas. Vem como o dono vinha
procurar figos em sua árvore e não encontrava senão folhas. Todo ramo que não
der fruto em mim, ele o cortará; e podará todo o que der fruto, para que
produza mais fruto ( Jo 15, 1- 2 ).
A
Palavra de Deus se nos apresenta hoje feita espada que penetra em nós e nos
obriga a tomar posição, coloca – nos em estado de ter de decidir. O que
queremos ser? Um ramo unido a Cristo, à sua Palavra, a seus sacramentos, em
estado de crescimento (e, por isso, de conversão), ou um ramo estéril, coberto somente
de folhas, isto é, um cristão de palavras, não de fatos?
Voltemos
a nos unir à videira! A Eucaristia nos oferece a possibilidade de reativar em
nós o nosso Batismo e a circulação daquela seiva que vem da videira.
Nesta
perspectiva consideremos e meditemos nas palavras de S. Paulo: “Irmãos
ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável,
honroso, tudo o que é virtude ou de qualquer modo mereça louvor; é o que deveis
ter no pensamento” (Fl. 4,8).
Monsenhor José Maria Pereira
SCE Região Rio II
Nenhum comentário:
Postar um comentário