Homilia de Mons. José Maria Pereira
III Domingo de Páscoa - Ano A
Os Discípulos de Emaús
Os Discípulos de Emaús
No dia da Ressurreição, à tarde, Jesus, sob as aparências de
um peregrino, junta-se aos dois discípulos que se dirigem para Emaús e falam,
entre si, dos acontecimentos surpreendentes da sexta-feira anterior, em
Jerusalém. (Lc 24, 13-35)
Os discípulos estão tristes, desanimados, decepcionados,
frustrados…
Aguardavam um Messias glorioso, um Rei poderoso, um vencedor
e encontram-se diante de um derrotado, que tinha morrido na Cruz.
Aparece um peregrino,que caminha com eles… Ao longo da
conversa com Jesus os discípulos passam da tristeza à alegria, recuperam a
esperança e com isso o afã de comunicar a alegria que há nos seus corações,
tornando-se deste modo anunciadores e testemunhas de Cristo ressuscitado.
Jesus caminha junto daqueles dois homens que perderam quase
toda a esperança, de modo que a vida começa a parecer-lhes sem sentido.
Compreende a sua dor, penetra nos seus corações, comunica-lhes algo da vida que
nele habita.“Quando, ao chegar àquela aldeia, Jesus faz menção de seguir o
caminho; porém os discípulos insistiram com Jesus para que Ele ficasse com
eles. Reconhecem-no depois ao partir o pão: O Senhor, exclamam, esteve conosco!
Então disseram um para o outro: “Não estava ardendo o nosso coração quando Ele
nos falava e nos explicava as Escrituras? (Lc 24,32). Cada cristão deve tornar
Cristo presente entre os homens;deve viver de tal maneira que todos com quem
tem contato sintam o bom odor de Cristo (2 Cor 24,32); o bom odor de Cristo
deve atuar de forma que, através das ações do discípulo, se possa descobrir o
rosto do Mestre” (Cristo que passa, nº 105).
A conversa dos dois discípulos com Jesus a caminho de Emaús,
resume perfeitamente a desilusão dos que tinham seguido o Senhor, diante do
aparente fracasso que representava para eles a Sua morte.
Jesus, em resposta ao desalento dos discípulos, vai
pacientemente descobrindo-lhes o sentido de toda a Sagrada Escritura acerca do
Messias: “Não era preciso que o Cristo padecesse estas coisas e assim entrasse
na Sua glória?” Com estas palavras o Senhor desfaz a idéia que ainda poderiam
ter de um Messias terreno e político, fazendo-lhes ver que a missão de Cristo é
sobrenatural: a salvação do gênero humano.
Na Sagrada Escritura estava anunciado que o plano salvador
de Deus se realizaria por meio da Paixão e Morte redentora do Messias. A Cruz
não é um fracasso, mas o caminho querido por Deus para o triunfo definitivo de
Cristo sobre o pecado e sobre a morte (1 cor 1, 23-24).
A presença e a palavra do Mestre recupera estes discípulos
desanimados, e acende neles uma esperança nova e definitiva: “Iam os dois
discípulos para Emaús. O seu caminho era normal, como o de tantas outras
pessoas que passavam por aquelas estradas.E aí, com naturalidade, aparece-lhes
Jesus e vai com eles, com uma conversa que diminui a fadiga.
“Jesus, no caminho! Senhor, que grande és Tu sempre! Mas
comoves-me quando Te rebaixas para nos acompanhares, para nos procurares na
nossa lida diária. Senhor, conhece-nos a simplicidade de espírito, o olhar
limpo, a mente clara, que permitem entender-Te, quando vens sem nenhum sinal
externo da Tua glória!
Termina o trajeto ao chegar à aldeia e aqueles dois que, sem
o saberem, tinham sido feridos no fundo do coração pela palavra e pelo amor de
Deus feito homem, têm pena de que Ele se vá embora. Porque Jesus despede-se
como quem vai para mais longe (Lc 24,28). Nosso Senhor nunca Se impõe! Quer que
O chamemos livremente, desde que entrevimos a pureza do Amor que nos colocou na
alma. Temos de O deter à força e pedir-lhe: fica conosco, pois já é tarde e a
noite vem chegando (Lc 24,29).
Somos assim: sempre pouco atrevidos, talvez por falta de
sinceridade, talvez por pudor. No fundo pensamos: fica conosco, porque as
trevas nos rodeiam a alma e só Tu és luz, só Tu podes acalmar esta ânsia que
nos consome! Porque entre as coisas belas, honestas, não ignoramos qual é a
primeira: possuir sempre Deus” (São Gregório Nazianzeno).
Depois da escuta da Palavra e o partir o Pão, os discípulos
de Emaús sentem agora a urgência de voltar a Jerusalém!… Partem logo para
anunciar a descoberta aos irmãos e,junto com eles, proclamam a fé: “ O Senhor
ressuscitou!” É o impulso à Missão.
Os discípulos dizem: “enquanto Ele nos falava, ardia o nosso
coração!”
A verdade é que: Sem a Eucaristia, sem a Palavra, os outros
nos cansam, nos assustam. Com a Palavra e com o partir o Pão, reconhecemos que
Cristo está no próximo. Reconhecemos que Cristo está do nosso lado e a presença
dele é capaz de nos reanimar.
Quando Jesus Cristo saiu,
os discípulos levantaram-se e foram correndo contar a boa nova para os outros
discípulos – São João Paulo II disse: “Os discípulos de Emaús, que repletos
de esperança e de alegria por terem reconhecido o Senhor “na fração do pão”,
regressaram a Jerusalém sem hesitações para narrar aos irmãos aquilo que
acontecera ao longo do caminho”. (33-35) Todos nós somos convidados a dar
testemunho da ressurreição de Cristo pela Eucaristia que comungamos. Essa é a
missão e o compromisso que temos por ser Igreja e tomarmos parte da mesa do
Senhor. Missa, que significa missão, é o envio do batizado, pela Igreja, a
proclamar que Cristo vive e reina.
Peçamos, como os discípulos: “Fica conosco, Senhor!” Que
possamos reconhecê-Lo nos pequenos gestos de cada dia.
Mons. José Maria Pereira