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quarta-feira, 30 de agosto de 2017

HOMILIA DOMINICAL



Homilia do Mons. José Maria

XXII Domingo do Tempo Comum – Ano A

A Loucura da Cruz



Em Mt 16, 21-27, Jesus anuncia aos discípulos a sua Paixão e Cruz e avisa que o caminho dos discípulos é semelhante. Pedro não concorda e começa a “repreendê-Lo”.

Jesus rejeita energicamente as insinuações de Pedro e diz: “Retira-Te, Satanás!Queres fazer-me cair. Pensas de modo humano, não de acordo com Deus”(Mt 16,23).
Levado pelo seu imenso carinho por Jesus, Simão procura afastá-Lo do caminho da Cruz, sem compreender ainda que ela será um grande bem para a humanidade e a suprema demonstração do amor de Deus por nós. Comenta São João Crisóstomo:”Pedro raciocinava humanamente e concluía que tudo aquilo- a Paixão e a Morte- era indigno de Cristo e reprovável.”

Pedro, naquele momento, não chega a entender que, por vontade expressa de Deus, a Redenção se tem de fazer mediante a Cruz e que “não houve meio mais conveniente de salvar a nossa miséria” (Sto. Agostinho).

Pensando apenas com uma lógica humana, é difícil entender que a dor, o sofrimento, aquilo que se apresenta como custoso, possa chegar a ser um bem. Até mesmo porque não fomos feitos para sofrer, pois todos aspiramos à felicidade.

O medo à dor é um impulso profundamente arraigado em nós, e a nossa primeira reação é de repulsa.Por isso, a mortificação, a penitência cristã, tropeça com dificuldades; não é fácil, e, ainda que a pratiquemos assiduamente, não acabamos nunca de acostumar-nos a ela.
A fé, no entanto, permite-nos vere experimentar que sem sacrifício não há amor, não há alegria verdadeira, a alma não se purifica, não encontramos a Deus. O caminho da santidade passa pela Cruz, e todo o apostolado fundamenta-se nela. Ensinava São João Paulo II: “A Cruz é o livro vivo em que aprendemos definitivamente quem somos e como devemos atuar. Este livro está sempre aberto diante de nós”(Alocução, 01/04/1980). Devemos aproximar-nos dele e lê-lo; nele aprendemos quem é Cristo, o seu amor por nós e o caminho para segui- Lo. Quem procura a Deus sem sacrifício, sem Cruz, não O encontrará. Para ressuscitar com Cristo, temos que acompanha – Lo no seu caminho para a Cruz: aceitando as contrariedades e tribulações com paz e serenidade; sendo generosos na mortificação voluntária, que nos faz entender o sentido transcendente da vida e reafirma o senhorio da alma sobre o corpo. Devemos ter em conta que a Cruz que anuncia Cristo é escândalo para uns e loucura e insensatez para outros (cf. 1 Cor 1,23).

Hoje vemos também muitas pessoas que não sentem as coisas de Deus, mas as dos homens. Têm o olhar posto nas coisas da terra, nos bens materiais, sobre os quais se lançam sem medida, como se fossem os únicos reais e verdadeiros.Disse  Beato Álvaro Del Portilho:”Este paganismo contemporâneo caracteriza-se pela busca do bem-estar material a qualquer custo, e pelo correspondente esquecimento – melhor seria dizer medo, autentico pavor- de tudo o que possa causar sofrimento. Com esta perspectiva, palavra como Deus, pecado,  cruz, mortificação, vida eterna… acabam por ser incompreensíveis para um grande número de pessoas, que desconhecem o seu significado e sentido”.

Temos que lembrar a todos que não ponham o coração nas coisas da terra, que tudo é caduco, que envelhece e dura pouco.”Todos envelhecerão  como uma veste” (Hb 1,11).Somente a alma que luta por manter-se em Deus permanecerá numa juventude sempre maior até que chegue o encontro com o Senhor.Todas as outras coisas passam, e depressa.

Jesus recorda-nos hoje:”Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, se depois vier a  perder a própria alma? O que poderá alguém dar em troca de sua vida?”(Mt 16,26).Antes, falou:”Quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim vai encontrá-la.”

O que pensar então? Será que devemos realmente cair fora da corrente do mundo e renegar – nos como homens para sermos cristãos? Não, porque a renúncia que Jesus exige é, na realidade, a mais alta auto - realização, é a nossa verdadeira recuperação: porque perder a nós mesmos é o modo melhor para nos reencontrar: porque quem perde sua vida vai encontra- la.

De que adiantam fama, dinheiro, divertimentos, se a morte engole tudo isso? Santo Agostinho diz: “O que adianta viver bem se não se vive para sempre.”
O cristão não pode passar por alto estas palavras de Jesus Cristo. Deve arriscar-se, jogar a vida presente em troca de conseguir a eterna.”Que pouco é uma vida para oferecê-la a Deus!…”(Caminho, nº 4 20).

“Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga.” ( Mt 16, 24).
Jesus, com efeito, inaugurou e percorreu pessoalmente este caminho e por isso “tomar a cruz” significa agora “ir após ele”, colocar os pés em suas pegadas, segui-Lo. Jesus fala da cruz dos discípulos, depois de ter falado da sua: O filho do homem irá para Jerusalém, e lá vai sofrer, será morto...(...).Mas ao terceiro dia ressuscitará.

A exigência do Senhor inclui renunciar à própria vontade para a identificar com a de Deus, não aconteça que, como comenta São João da Cruz, tenhamos a sorte de muitos”Que queriam que Deus quisesse o que eles querem, e entristecem-se de querer o que Deus quer, e têm repugnância em acomodar a sua vontade à de Deus. Disto vem que muitas vezes, no que não acham a sua vontade e gosto, pensam não ser da vontade de Deus e, pelo contrário, quando se satisfazem, crêem que Deus Se satisfaz, medindo também a Deus por si, e não a si mesmo por Deus”.

“O Filho do Homem virá na glória do seu Pai, com os seus anjos, e então retribuirá a cada um de acordo com a sua conduta”(Mt 16, 27).O Senhor, com estas palavras, situa cada homem, individualmente, diante  do Juízo Final. A salvação tem, pois, um caráter radicalmente pessoal!

O fim do homem não é ganhar os bens temporais deste mundo, que são apenas meios ou instrumentos; o fim último do homem é o próprio Deus, que é possuído como antecipação aqui na terra pela Graça, e plenamente e para sempre na Glória. Jesus indica qual é o caminho para conseguir esse fim: negar-se a si mesmo(isto é, tudo o que é comodidade, egoísmo,apego aos bens temporais) e levar a Cruz. Porque nenhum bem terreno, que é caduco, é comparável à salvação eterna da alma. Como explica São Tomás: “o menor bem da graça é superior a todo o bem do universo”(Suma Teológica, I-II, q. 113, a. 9).

Senhor, ensinai – nos a perder- nos para nos reencontar em vós para a vida eterna.


Mons. José Maria Pereira







sábado, 26 de agosto de 2017

HOMILIA DOMINICAL



Homilia do Mons. José Maria

XXI Domingo do Tempo Comum – Ano A

Resposta sobre Jesus

O Evangelho (Mt 16, 13-20) nos apresenta Jesus com os seus discípulos em Cesareia de Filipe. Enquanto caminham, Jesus pergunta aos Apóstolos: “Quem dizem os homens ser o Filho do homem?” E depois que eles apresentaram as várias opiniões que as pessoas tinham, Jesus pergunta-lhes diretamente: “E vós, quem dizeis que eu sou?”.
Disse  São João Paulo II, em 1980: “Todos nós conhecemos esse momento em que já não basta falar de Jesus repetindo o que os outros disseram, em que já não basta referir uma opinião, mas é preciso dar testemunho, sentir-se comprometido pelo testemunho dado e depois ir até aos extremos das exigências desse compromisso. Os melhores amigos, seguidores, apóstolos de Cristo, foram sempre aqueles que perceberam um dia dentro de si a pergunta definitiva, incontornável, diante da qual todas as outras se tornam secundárias e derivadas: “Para você, quem sou Eu?” Todo o futuro de uma vida “depende da nossa resposta nítida e sincera, sem retórica nem subterfúgios, que se possa dar a essa pergunta”.
Essa pergunta encontra particular ressonância no coração de Pedro, que, movido por uma graça especial, respondeu: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. Jesus chama-o bem-aventurado (Feliz és tu, Simão…) por essa resposta cheia de verdade, na qual confessou abertamente a divindade dAquele em cuja companhia andava há vários meses. Esse foi o momento escolhido por Cristo para comunicar ao seu Apóstolo que sobre ele recairia o Primado de toda a sua Igreja: “Por isso eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la…”.
Pedro confessou sua fé no Cristo, Filho de Deus vivo, graças à escuta de sua palavra e à cotidiana convivência. O Discípulo reconheceu o Messias porque a revelação do Pai encontrou nele abertura e acolhida. Quer dizer, descobre a verdade dos desígnios de Deus quem se deixa iluminar pela luz da fé. Com razão, reconhece o Documento de Aparecida: “A fé em Jesus como o Filho do Pai é a porta de entrada para a Vida.” Como discípulos de Jesus, confessamos nossa fé com as palavras de Pedro: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo” (DAp, 100). A fé é um dom de Deus, é uma adesão pessoal a Ele. Crer só é possível pela graça e pelos auxílios interiores do Espírito Santo.
Para dar uma resposta convincente de fé, os cristãos precisam conhecer a fundo Jesus Cristo, saber sempre mais sobre sua pessoa e obra, pela leitura e meditação dos Evangelhos e pelos encontros com Ele por meio da ação litúrgica, em particular, dos sacramentos.
“Tu és Pedro…”. Pedro será a rocha, o alicerce firme sobre o qual Cristo construirá a sua Igreja, de tal maneira que nenhum poder poderá derrubá-la. E foi o próprio Senhor que quis que ele se sentisse apoiado e protegido pela veneração, amor e oração de todos os cristãos. Se desejamos estar muito unidos a Cristo, devemos estar sim, em primeiro lugar, a quem faz as suas vezes aqui na terra. Ensinava São Josemaria Escrivá: “Que a consideração diária do duro fardo que pesa sobre o Papa e sobre os bispos, te leve a venerá-los, a estimá-los com a tua oração” (Forja, 136).
O nosso amor pelo Papa não é apenas um afeto humano, baseado na sua santidade, simpatia, etc. Quando vamos ver o Papa, escutar a sua palavra, fazemo-lo para ver e ouvir o Vigário de Cristo, o “doce Cristo na terra”, na expressão de Santa Catarina de Sena, seja ele quem for. O Romano Pontífice é o sucessor de Pedro; unidos a ele, estamos unidos a Cristo.
Jesus continua perguntando-nos: “quem dizeis que eu sou?” Para responder, não basta procurar na memória alguma fórmula que aprendemos no catecismo, ou ouvimos de outros ou lemos nos livros. É preciso procurar no coração, em nossa fé vivida e testemunhada. Assim descobriremos o que Jesus representa, de fato, em nossa vida. Também hoje Jesus não se contenta que nós saibamos o que diz dele a cultura; quer a nossa resposta, de nós que cremos nele e que nele colocamos nossa esperança. A resposta não se deve certamente inventar, há aquela que deu um dia Pedro: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo”. Aquela resposta, revivida e aprofundada por todas as gerações cristãs que nos precederam, proclamada  pelos Concílios e pelo Magistério da Igreja, chegou até nós, e nós, quando recitamos a oração do Creio, não fazemos outra coisa senão repeti-la: “Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos: Deus de Deus... que por nós, homens, e para nossa salvação se encarnou e se fez homem...” . Nas suas orações e no seu ensinamento a Igreja sempre repete a si mesma esta fé: Jesus não é somente um homem, ou um profeta; é mais do que um profeta: é Deus conosco.
   “E vós quem dizeis que eu sou?” Eis uma pergunta que o Senhor nos faz a cada novo dia, tanto pessoalmente quanto como Igreja. Quem é Cristo? É uma pergunta que deveria voltar a cada tomada de decisão, a cada ato nosso.

Mons. José Maria Pereira





HOMILIA DOMINICAL



Homilia do Mons. José Maria
 Assunção de Nossa Senhora

Assunção de Maria ao Céu

No dia 15 de agosto, a Igreja celebra a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora, ou Nossa Senhora da Glória. No Brasil, celebra – se,no  domingo, logo após o dia 15.
A Igreja professou unanimemente, desde os  primeiros séculos, a fé na Assunção de Maria Santíssima em corpo e alma à glória celestial, como se deduz da Liturgia, dos documentos, dos escritos dos Padres e dos Doutores.
“Para nós, a Solenidade de hoje é como  uma continuação da Páscoa, da Ressurreição e da Ascensão do Senhor. E é, ao mesmo tempo, o sinal  e a fonte da esperança da vida eterna e da futura ressurreição” ( São João Paulo ll, Homilia).
Diz o Prefácio da Solenidade que proclama maravilhosamente o mistério celebrado: “Hoje, a Virgem Maria, Mãe de Deus, foi elevada à glória do céu. Aurora e esplendor da Igreja triunfante, Ela é consolo e esperança do vosso povo ainda em caminho, pois preservastes da corrupção da morte aquela que gerou de modo inefável o vosso próprio Filho feito homem, autor de toda a vida”.
Todos  ressuscitaremos! Cada qual, porém, em sua ordem: como primícias, Cristo; em seguida, os que forem de Cristo, na ocasião de sua vinda (1Cor 15,23).
Entre aqueles que são do Cristo há uma pessoa que é “de Cristo” de modo único e inigualável: sua Mãe, aquela que O gerou como homem, que viveu com ele, partilhando a oração, as alegrias, os trabalhos e, sobretudo, ficando a seu lado ao pé da cruz. Para essa criatura Jesus não esperou o fim dos tempos para uni-la a si, na glória; imediatamente, depois de sua morte, ela foi ao céu em corpo e alma. É esta uma convicção da Igreja, celebrada com uma festa muito antiga, mas a partir de 1º de novembro de 1950, a festa se tornou mais solene com a proclamação do Dogma da Assunção, pelo papa Pio XII.
O que diz para nós o mistério da Assunção? Maria é, também ela, de um modo diferente de Cristo, o primeiro fruto: as primícias da ressurreição e da Igreja. Nela Deus traçou como que um esboço daquilo que, ao final, acontecerá para toda a Igreja. Porque toda a Igreja, no fim, tornada como ela imaculada e santa, será elevada ao céu!
Em Maria, Deus quis mostrar quão grande e profunda foi a redenção operada por Cristo e a que tamanha glória pode conduzir a criatura que se deixa envolver inteiramente. Maria, por sua vez, nos ensina como chegar à glória que hoje contemplamos e nos abre o caminho. É um caminho traçado, em todo seu percurso, por duas linhas retas: “a fé e a humildade”.
Bem-aventurada és tu que creste. Maria foi uma pessoa de fé, sempre; acreditou na encarnação e disse: Fiat- seja feita a vossa vontade; acreditou apesar do longo silêncio de Nazaré; acreditou no Calvário. Acreditou também quando tudo parecia estar sendo desmentindo pelos fatos, também quando não compreendia; deixou-se conduzir docilmente por Deus, como uma ovelha que segue o Cordeiro conduzido à imolação, como é definida num hino da liturgia bizantina (Romano, o Mélode).
A humildade é a explicação do mistério de Maria e da sua eleição. Ela foi “cheia de graça” porque era vazia de si.
Para que Deus possa realizar “grandes coisas” também em nós, para que possa conduzir-nos àquela glória final alcançada por Maria, é necessário, portanto, que nós também apresentemos estes dois requisitos: a fé e a humildade.
Quem poderá ter uma fé pura e forte como a da Mãe de Jesus? Quem poderá alcançar a profundidade e a sinceridade da sua humildade? Ninguém! Podemos, porém, aproximar-nos dela, imitar-lhe a docilidade e a abertura a Deus. Podemos, sobretudo, rezar a ela: Aumentai nossa fé; ensinai-nos a permanecer na humildade “sob a poderosa – e paterna- mão de Deus”. É a oração que, levantando o olhar, lhe dirigimos neste dia, em que a liturgia no-la apresenta como Rainha sentada à direita do Rei.
As leituras contemplam esta realidade. A 1ª Leitura (Ap 11, 19; 12, 1-10) apresenta uma mulher vestida com o sol, tendo a lua sob os pés, e do Filho que ela deu à luz, um varão, que irá reger todas as nações. Nesta imagem a Mulher e o Filho representam Jesus Cristo e a Igreja, mais a mulher confunde-se também com Maria, pois nela realizou-se plenamente a Igreja.
A 2ª Leitura (1 Cor 15, 20-27) completa a idéia da 1ª. Paulo, falando de Cristo, primícia dos ressuscitados, termina dizendo que, um dia, todos os que crêem terão parte na Sua glorificação, mas em proporção diversa: “Primeiro, Cristo, como os primeiros frutos da seara; e a seguir, os que pertencem a Cristo” (1 Cor 15, 23). Entre os cristãos, o primeiro lugar pertence, sem dúvida, a Nossa Senhora, que foi sempre de Deus, porque jamais conheceu o pecado. É a única criatura em quem o esplendor da imagem de Deus nunca se viu ofuscado; é a Imaculada Conceição, a obra prima e intacta da Santíssima Trindade em quem o Pai, o Filho e o Espírito Santo sentiram as suas complacências, encontrando nela uma resposta total ao Seu amor.
A resposta de Maria ao amor de Deus ressoa no Evangelho (Lc 1, 35-56), tanto nas palavras de Isabel que exaltam a grande fé que levou Maria a aderir, sem vacilação alguma à vontade de Deus, como nas palavras da própria Virgem, que entoa um hino de louvor ao Altíssimo pelas maravilhas que realizou nela.
Ela é a nossa grande intercessora junto do Altíssimo. Maria nunca deixa de ajudar os que recorrem ao seu amparo: “Nunca se ouviu dizer que algum daqueles que tivesse recorrido à vossa proteção fosse por Vós desamparado”, rezava São Bernardo. Procuremos confiar mais na sua intercessão, persuadidos de que Ela é a Rainha dos céus e da terra, o refúgio dos pecadores, e peçamos-lhe com simplicidade: Mostrai-nos Jesus!
A Assunção de Maria é uma preciosa antecipação da nossa ressurreição e baseia-se na Ressurreição de Cristo, que transformará o nosso corpo corruptível, fazendo-o semelhante ao seu corpo glorioso (Fil 3, 21 ). Por isso São Paulo recorda-nos (1 Cor 15, 20-26): “Se a morte veio por um homem (pelo pecado de Adão), também por um homem, Cristo, veio a ressurreição. Por Ele, todos retornarão à vida, mas cada um a seu tempo: como primícias, Cristo; em seguida, quando Ele voltar, todos os que são de Cristo; depois,  os últimos, quando Cristo devolver a Deus Pai o seu reino…  Essa vinda de Cristo, de que fala o Apóstolo, disse São João Paulo II, “não devia por acaso cumprir-se, neste único caso (o da Virgem), de modo excepcional, por dizê-lo assim, imediatamente, quer dizer, no momento da conclusão da sua vida terrena? Esse final da vida que para todos os homens é a morte, a Tradição, no caso de Maria, chama-o com mais propriedade dormição. Externamente, deve ter sido como um doce sono: “Saiu deste mundo em estado de vigília” ( São Germano de Constantinopla, Homilias sobre a Virgem ); na plenitude do amor. “ Terminado o  curso da sua vida terrena, foi assunta em corpo e alma à glória celestial” ( Papa Pio Xll ). Ali a esperava o seu Filho Jesus, com o seu corpo glorioso, tal como Ela o tinha contemplado depois da Ressurreição.  
A Solenidade de hoje enche-nos de confiança nas nossas súplicas. Pois, diz São Bernardo, “subiu aos céus a nossa Advogada para, como Mãe do Juiz e Mãe de Misericórdia, tratar dos negócios da nossa salvação.” Ela alenta continuamente a nossa esperança. Ensina São JosemariaEscrivá: “Somos ainda peregrinos, mas a nossa Mãe precedeu-nos e indica-nos já o termo do caminho: repete-nos que é possível lá chegarmos, e que lá chegaremos, se formos fiéis. Porque a Santíssima Virgem não é apenas nosso exemplo: é auxílio dos cristãos. E ante a nossa súplica – mostra que és Mãe –,  não sabe nem quer negar-se a cuidar dos seus filhos com solicitude maternal.
Fixemos o nosso olhar em Maria, já assunta aos céus! Ela é a certeza e a prova de que os seus filhos estarão um dia com o corpo glorificado junto de Cristo glorioso. A nossa aspiração à vida eterna ganha asas ao meditarmos que a nossa Mãe celeste está lá em cima, que nos vê e nos contempla com o seu olhar cheio de ternura, com tanto mais amor quanto mais necessitados nos vê. “Realiza a função, própria da mãe, de medianeira de clemência na vinda definitiva” ( São João Paulo ll).
No dia dedicado às Vocações Religiosas, Maria é apresentada como Modelo de pessoa consagrada e um “sinal” de Deus no mundo de hoje.

Mons. José Maria Pereira


quarta-feira, 9 de agosto de 2017

HOMILIA DOMINICAL


Homilia do Mons. José Maria  
XIX Domingo do Tempo Comum – Ano A
Confiança no Senhor

O Evangelho (Mt 14,22-33) nos mostra Jesus enviando os discípulos em missão na outra margem do lago e, cansado, retira-se da multidão… vai ao monte, para orar a sós. Enquanto isso, os apóstolos navegam, de noite, preocupados, na barca agitada pelos ventos contrários. Jesus interrompe o descanso e vai ao encontro deles, caminhando sobre o mar. Eles o confundem: É  um fantasma…” .Jesus se identifica: “Coragem! SOU EU, não tenham medo”.Pedro o desafia: “Se és Tu, manda-me caminhar sobre as águas”. Jesus aceita: “Vem!”
Pedro vai ao encontro de Jesus; mas, assustado pelo vento, começa a duvidar e afundar.Então grita por socorro: “Salva-me, Senhor!”. Jesus estende a mão e depois o questiona: “Por que duvidaste, homem de pouca fé?” Jesus entra na barca e a tempestade se acalma. Então todos se prostraram em adoração diante de Jesus, dizendo: “Verdadeiramente Tu és o Filho de Deus”.
Ao ouvir a narração deste texto evangélico, podemos tirar uma conclusão: O Mestre não está longe nem agora; não nos deixará a sós lutando com as ondas; basta invocá – Lo que Ele descerá do monte e virá em socorro de sua Igreja. Esta confiança se baseia no fato de que Jesus ressuscitou e está vivo. Os antigos padres da Igreja colocavam em evidência uma coincidência: Jesus vai ao encontro dos apóstolos no lago “na quarta vigília da noite”, isto é, na mesma hora em que ressuscitou dos mortos.
         Nesta situação, uma coisa é necessária para não afundar: não perder a confiança, não desanimar no meio das dificuldades, não olhar para baixo ou ao redor, para as ondas que se agitam, mas à frente, para Cristo. Somente quem vacila na fé, ou quem confia nas próprias forças, afunda.
O texto bíblico quer nos mostrar que a pouca fé do cristão torna-o medroso nos perigos, abatido nas dificuldades e, por isso, corre o risco de naufragar.Mas, ali onde a fé é viva,onde não se duvida do poder de Jesus e da sua presença contínua na Igreja, não há perigo de naufrágio, porque a mão do Senhor estende-se invisivelmente para salvar a barca da Igreja e cada cristão em particular.
Se a nossa vida se passar no cumprimento fiel do que Deus quer de nós, nunca nos faltará a ajuda divina. Na fraqueza, na fadiga, nas situações de maior dificuldade, Jesus irá se aproximar de nós, de modo inesperado, e nos dirá: “Sou Eu, não temais”. Ele nunca abandona os seus amigos, e muito menos quando o vento das tentações, do cansaço ou das dificuldades nos é contrário. Ensina Santa Teresa: “Se tiverdes confiança n’Ele e ânimo animoso, que Sua Majestade é muito amigo disso, não tenhais medo de que vos falte coisa alguma”.
Quando Pedro começou a afundar-se, para voltar à superfície, teve que segurar a mão forte do Senhor, seu Amigo e seu Deus. Não era muito, mas era o esforço que Deus lhe pedia; é a colaboração da boa vontade que o Senhor sempre nos pede.
Para Pedro, uma só coisa importa: estar perto de Cristo. Não interessa quais são as condições, se com “ventos contrários” ou “tempestade”, Pedro quer estar junto de Cristo. Pedro é sempre quem toma a palavra, é ele quem sempre dá o primeiro passo no grupo dos apóstolos.
Esse pequeno esforço que o Senhor pede aos seus discípulos de todos os tempos para tirá-los de uma má situação, pode ser muito diverso: intensificar a oração; cortar decididamente com uma ocasião próxima de pecar; obedecer com prontidão e docilidade de coração aos conselhos recebidos na confissão e na conversa com o diretor espiritual… Não nos esqueçamos nunca da advertência de São João Crisóstomo: “Quando falta a nossa cooperação, cessa também a ajuda divina”. Ainda que seja o Senhor quem nos tira da água.
Temos de aprender a nunca desconfiar de Deus, que não se apresenta apenas nos acontecimentos favoráveis, mas também nas tormentas dos sofrimentos físicos e morais da vida: “Tende confiança, sou Eu, não temais!”. Deus nunca chega tarde em nosso auxílio, e sempre nos ajuda nas nossas necessidades.
E se alguma vez sentimos que nos falta apoio, que submergimos, repitamos aquela súplica de Pedro:”Senhor, salva-me!” Não duvidemos do seu amor, nem da sua mão misericordiosa, não esqueçamos que “Deus não manda impossíveis, mas ao mandar pede que faças o que possas e peças o que não possas, e ajude para que possas” (Santo Agostinho).
Que enorme segurança nos dá o Senhor! Ensina S. João Crisóstomo: “Ele garantiu-me a sua proteção; não é nas minhas forças que eu me apoio. Tenho nas minhas mãos a sua palavra escrita.Este é o meu báculo. Esta é a minha segurança, este é o meu porto tranqüilo. Ainda que o mundo inteiro se perturbe, eu leio esta palavra escrita que trago comigo, porque ela é o meu muro e minha defesa. O que é que ela me diz? Eu estarei convosco até o fim do mundo.”
Junto de Cristo, ganham-se todas as batalhas, desde que tenhamos uma confiança seus limites na sua ajuda:”Cristo está comigo, que posso temer? Que venham assaltar-me as ondas do mar e a ira dos poderosos; tudo isso não pesa mais do que uma teia de aranha”(S. João Crisóstomo). Não larguemos a sua mão; Ele não larga a nossa!

Mons. José Maria Pereira